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14/02/2020

Setores de Finanças e Mercado buscam talentos matemáticos

Tiago Pereira, do ICMC-USP, falou sobre críticas a partir de dados

Procuram-se talentos matemáticos. Empresas das áreas de finanças e mercado buscam profissionais da área de matemática para ocupar cargos ligados à inovação e tecnologia. O segundo dia do Workshop Matemática e Indústria teve como destaque o setor de negócios, e contou com apresentações de empresas e pesquisadores de grandes centros do país. 

A aproximação entre as áreas acontece em universidades fora do país, como lembrou Vinicius Carrasco, economista-chefe da operadora de pagamentos Stone.Co, parceira do evento. “No setor de geologia de Stanford, é possível ver empresas de óleo e gás financiando pesquisa básica. No departamento de ciência da computação, tem o financiamento de pesquisa feito por entes privados. O passo que estamos dando aqui hoje é fundamental para também caminhar nesta direção.” Vinicius considera que esta interação “para além de resolver problemas de mais curto prazo associados a problemas específicos, pode gerar conhecimento científico a longo prazo.”

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Bom negócio para empresários e acadêmicos. “Não adianta alguém recorrer a nós com o problema e já com a solução. Buscamos por pessoas competentes, que vão estudar o problema e dar uma solução, que provavelmente vai ser melhor do que a imaginada pelo cliente”, afirmou Carlos Rios, desenvolvedor de negócios da agência online Hurb, que também apoiou o workshop. “Isso só acontece quando o profissional tem a autonomia.” 

Para quem quer entrar no mercado dos negócios, um dos pontos positivos é a variedade de carreiras que as grandes empresas oferecem. “Valorizamos o progresso intelectual, aprendizado de novas coisas e mudança entre as áreas. Isso é sempre muito incentivado. Atuamos no Brasil e na América Latina e nosso foco para crescer é a busca por novos talentos. Estamos em busca de novas aplicações da ciência de dados para indústrias. E a grande questão é pensar sobre o valor a ser agregado”, disse Thomaz Cortes, sócio-associado da McKinsey & Company, outra parceira no evento.

André Carvalho, do ICMC-USP, em apresentação sobre ciência de dados e aprendizado de máquina

Computação e ciência de dados foram temas de palestras

Para Luiz Velho, pesquisador do IMPA e pesquisador-líder do Visgraf (Laboratório de Computação Gráfica do instituto), a matemática aplicada computacional tem muito a contribuir para a as novas mídias, afirmou. Em sua apresentação, o matemático mostrou projetos do grupo nas áreas de realidade virtual, animação digital, fotografia computacional e modelos em multi-resolução. 

“Quais os mecanismos para levar a tecnologia desenvolvida em centros de pesquisa para a sociedade?”, questionou o pesquisador. “É uma equação difícil, mas estamos tentando resolver. Temos que entregar esses produtos não só pelo IMPA ou pelo Brasil, mas para o mundo.”

André de Carvalho, do ICMC-USP, alertou para o gargalo de profissionais na área de ciências de dados e aprendizado de máquina no Brasil. “Temos uma procura grande por emprego e não conseguimos formar gente suficiente para suprir a demanda das empresas”, comentou o palestrante, que recebe ligações diárias de empresas procurando por indicações. Carvalho falou das experiências e contribuições do laboratório Analytics do ICMC-USP nestes setores e apresentou algumas ferramentas desenvolvidas pelo grupo, como para desafios em mineração de dados.

O Blockchain foi o tema abordado pelos pesquisadores do IMPA Diego Nehab e Augusto Teixeira. Eles explicaram o contexto no qual nasceu a ferramenta, que permite a criação de moedas descentralizadas, como a Bitcoin, entre outras funções. “Infelizmente, a realidade atual é que o desenvolvimento desse novo tipo de aplicação é um processo extremamente complexo, especializado, e cheio de limitações e obstáculos”, comentou Nehab. Os pesquisadores apresentaram o projeto que desenvolvem no Cartesi, plataforma para o desenvolvimento e implantação de aplicativos descentralizados compostos por blockchain e off-chain.

O processamento de linguagem e imagens tem aplicações na Justiça, no turismo, no meio ambiente e até no varejo. É o que mostrou o pesquisador Krerley Oliveira, da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). No Laboratório de Estatística e Ciência dos Dados da instituição, Kerley e colaboradores têm desenvolvido diversos projetos na área. Um dos desafios do grupo foi analisar as manchas de óleo do litoral alagoano através de imagens aéreas de drones usando deep learning.

Tiago Pereira, do ICMC-USP, falou sobre transições críticas a partir de dados. “A capacidade de prever mudanças repentinas na dinâmica de sistemas complexos, conhecidos como transições críticas, a partir de dados é essencial para evitar consequências desastrosas”, comentou. Na apresentação, Tiago analisou a questão para séries de dados gerados por sistemas dinâmicos, construindo uma rede modelo a partir do tratamento probabilístico da dinâmica.

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