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12/02/2020

Serviço online aproxima cientistas de jornalistas

Cientistas brasileiros divulgam diariamente 400 novos resultados, sendo que, 10% têm interesse social e potencial de divulgação na mídia. “Com quarenta notícias de ciência por dia, seria possível fazer um jornal inteiro!”, garante a jornalista Sabine Righetti, idealizadora da Agência Bori. O projeto foi lançado nesta quarta-feira (12), na Universidade Estadual Paulista (Unesp), para aumentar a visibilidade da ciência brasileira e aproximar a produção científica da imprensa. “Quando abrimos o jornal, ligamos a TV ou o rádio, não vemos essa ciência. E se ela não está na mídia, não chega à população”, completa Ana Paula Morales, coordenadora do projeto. 

A Bori busca estudos inéditos em bases de periódicos acadêmicos; em seguida, faz a curadoria dos trabalhos e os oferece para imprensa. Em uma área restrita da plataforma, jornalistas cadastrados gratuitamente acessam as pesquisas, acompanhadas de texto explicativo, imagens e do contato de um porta-voz.

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No evento de lançamento, o diretor-geral do IMPA, Marcelo Viana, participou da mesa de debate sobre jornalismo científico. Colunista da Folha de S.Paulo, Viana contou que viu jornalistas “assustados” durante a divulgação do Biênio da Matemática. “Nenhum deles fazia a divulgação da matemática. Tenho uma perspectiva que é muito particular. Dentro do problema que é a divulgação da ciência, há o desafio para a divulgação matemática. É mais fácil explicar por que o mosquito da zika é importante ou por que um satélite é importante, do que transmitir ideias matemáticas.” 

Para detalhar o desafio, Viana divide a questão em três vértices. “O primeiro deles é a sociedade, o público, que é o destino final da divulgação científica. O meu diagnóstico é que a sociedade é extremamente carente de divulgações de cientistas. Carente no sentido de que não recebe e porque precisa receber. O segundo vértice é que a divulgação científica é um gargalo. E falo isso com base no fato de que nós cientistas não estamos conscientes da da importância de se fazer divulgação. Não fomos treinados para isso, mas é um processo. Por último, a questão do jornalismo. São poucos os jornalistas que acompanham as divulgações.” 

Também participaram do debate sobre jornalismo científico Abel Packer, diretor do Programa SciELO/Fapesp, e a editora de Ciência e Saúde da Folha de S.Paulo, Mariana Versolato, que afirmou que iniciativas como a Agência Bori são essenciais para o combate às fake news. “As notícias falsas são passadas, transmitidas com muita velocidade, porque têm linguagem simples e apelo emocional. Tanto que as pessoas sentem que precisam repassar aquilo. Então, precisamos ter esse esforço de fazer as notícias científicas se tornarem mais simples, obviamente, sem erro, sem desmerecer os estudos, nem mesmo os cientistas. Mas encontrar um ‘meio do caminho’ na linguagem usada para a divulgação é fundamental para aumentar o alcance do público.”

O evento também marcou o lançamento do Open Box da Ciência. Iniciativa da Gênero e Número, o projeto mapeou 250 mulheres em cinco áreas do conhecimento. As pesquisas e os perfis das pesquisadoras estão reunidos na plataforma digital, de conteúdo aberto e interativo, com visualizações de dados e reportagens que narram suas trajetórias a partir de um recorte de gênero, indicando referências femininas para chegar a esse lugar de destaque e revelando desafios vencidos. Para chegar ao grupo, foi aplicada uma metodologia de extração e análise de dados da plataforma Lattes. Usando critérios da Capes para conceder bolsas de apoio à pesquisa, um algoritmo foi desenvolvido para listar todas as pesquisadoras com doutorado.

A Bori e o Open Box da Ciência participaram, em 2018, do 1º Camp Serrapilheira, programa de divulgação científica do Instituto Serrapilheira. Os projetos foram selecionados e receberam R$ 100 mil para as iniciativas. 

O evento completo pode ser assistido neste link

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