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29/05/2020

Webinar discute futuro do ensino da matemática

A pandemia do novo coronavírus impôs uma mudança radical nos métodos de ensino da educação básica. Para o diretor-geral do IMPA, Marcelo Viana, não se trata de uma mudança provisória. “Nenhuma disciplina, em particular a matemática, voltará a ser ensinada do modo tradicional”, afirmou no webinar “Como ensinar a matemática do futuro?”, do Programa Mentalidades Matemáticas, promovido pelo Instituto Sidarta. Mediado por Tatiana Klix, diretora do site de educação Porvir, o encontro virtual realizado nesta quinta-feira (28) contou com a participação de Jack Dieckmann, diretor de pesquisa do Youcubed da Universidade Stanford (EUA) e de Maitê Salinas, professora de matemática do Colégio Sidarta. 

Ainda que a tecnologia seja uma aliada no ensino a distância, Viana reforçou que a interação humana é fundamental. “Não vamos poder substituir a presença do professor na sala de aula”, pontuou. Conjecturando um possível futuro do ensino da disciplina, ele relembrou a experiência do matemático alemão Felix Klein (1849-1925), que liderou um movimento pela atualização dos currículos escolas da época, defasados por contemplarem então a matemática do século passado.

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O atraso a que se refere Klein ainda persiste nos dias de hoje, conta Viana. “Nós estamos ensinando matemática do século XIX, na melhor das hipóteses, em nossas escolas. Isso cria uma lacuna na formação que damos aos nossos jovens.” Na visão do diretor-geral do IMPA, o aumento da presença da estatística e da probabilidade no currículo da educação básica poderiam munir os alunos com ferramentas para compreender o mundo. “Nossa compreensão do mundo é probabilística, baseada em médias e em alguns tipos de formulação do desvio padrão. No entanto, a estatística e a probabilidade  estavam até pouco tempo praticamente ausentes das salas de aula.”

“Quando você ouve falar em matemática, o que vem a sua mente?”, perguntou Jack Dieckmann ao público espectador do webinar. “Costumamos ouvir respostas como ‘assustadora’ e ‘ansiedade”, completou. O diretor de pesquisa do Youcubed destacou que a “matemática é uma disciplina viva, que está se desenvolvendo constantemente”, e ela é muito diferente da matemática que ensinada nas escolas. Para ele, as práticas de ensino da disciplina não refletem sua natureza dinâmica.

Dieckmann explicou que aproximar a matemática escolar da natureza viva, aberta e acessível da disciplina é a missão do Youcubed. “Nós ensinamos aos alunos a importância da mentalidade de crescimento, que ajuda os estudantes a entender que sua inteligência aumenta com persistência e esforço”, exemplificou. “Os alunos e professores participam de tarefas desafiadoras com coragem, ao invés de medo.”

Professora de matemática do Colégio Sidarta e formadora do Programa Mentalidades Matemáticas, Maitê Salinas falou sobre a experiência de aplicar a abordagem em aulas à distância por causa da pandemia. Diante da preocupação dos alunos com a crise sanitária, ela elaborou atividades que fizessem os alunos perceber conexões dentro e fora da matemática. A partir da coleta de dados públicos de números de casos da Covid-19, a turma criou gráficos para uma simulação fictícia da doença. Comparando os trabalhos com gráficos reais, a professora passou a instigá-los com perguntas sobre as diferenças dos resultados. A conclusão foi que os trabalhos dos alunos apresentavam características lineares, enquanto os gráficos reais mostravam uma evolução exponencial.

“Trazer para as nossas crianças uma atividade que seja de fato investigativa é muito importante para que eles sejam protagonistas do conhecimento. Para tornar o engajamento presente, eles precisam trocar, argumentar, pesquisar e perceber que de fato a construção do conhecimento acontece de forma coletiva. É fundamental que eles se sintam confiantes”, afirmou Maitê. 

O webinar está disponível na íntegra na página de Facebook do Mentalidades Matemáticas.

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