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21/05/2020

Visgraf lança projeto sobre visualização de dados da Covid

 

Desde que a situação da Covid-19 se agravou no Brasil e no mundo, gráficos sobre a evolução da doença e seus desdobramentos têm sido divulgados em massa à população, interessada em vislumbrar possíveis cenários para a pandemia. Quando bem executada, a visualização de dados sobre o novo coronavírus pode auxiliar autoridades na criação de políticas públicas e conscientizar a sociedade, influenciando seu comportamento. 

Reconhecendo a função essencial que ela executa na comunicação, o Visgraf (Laboratório de Computação Gráfica do IMPA) lança o “Coronaviz: visualização em tempos de Coronavírus”, iniciativa tratará o tema sob a perspectiva da matemática e do design de informação através de um portal, relatórios técnicos e artigos científicos.

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“Praticamente a maior parte do conteúdo que está nas mídias atualmente é sobre esta situação, porque ela afeta o mundo inteiro. Fui percebendo que a forma como mostram evolução da doença às vezes causa confusão nas pessoas. Como no Visgraf temos colaboradores de diferentes formações, especializados em mídia, designer etc, pensei que tínhamos que fazer alguma iniciativa neste sentido”, conta Luiz Velho, pesquisador-líder do laboratório.

Conduzido junto à pesquisadora assistente do Visgraf Júlia Giannella, o projeto se destaca por ser um dos primeiros a criar conteúdo em português sobre visualização de dados da Covid-19. “A maior parte da literatura que se tem disponível hoje é em inglês”, observa a designer. 

Figura 1: gráfico publicado na revista The Economist.

Nesta primeira etapa, os pesquisadores se dedicaram a esclarecer alguns conceitos matemáticos importantes, como crescimento exponencial e sistemas dinâmicos; e analisaram exemplos bem-sucedidos de visualização de dados, como os gráficos do jornal The New York Times e da revista The Economics (Figura 1) que viralizaram, popularizando o termo achatamento de curva e alertando a sociedade sobre a possibilidade de colapso das redes hospitalares. 

“A pandemia deixou mais evidente a dificuldade da população de interpretar certos tipos de visualização. Uma visualização mal feita gera desconfiança no leitor, enquanto os bons exemplos ajudam a incentivar uma prática cívica na sociedade e incentivam o isolamento social, medida que a ciência considera até então a mais efetiva para frear os casos”, comenta Júlia.

O uso recorrente da função exponencial nos gráficos que estimam casos de infectados pelo vírus é contestado pela dupla, que recomenda a função logarítmica para uma melhor visualização. “Quando o público leigo olha um gráfico com aquela linha subindo para o céu, ele sabe que é algo que está crescendo rápido e é perigoso, mas não entende bem. Usando a função logarítmica ao invés da exponencial, fazemos uma linearização dos dados, de mais fácil entendimento”, pontua o pesquisador-líder do laboratório.

O projeto também alerta para o uso responsável da visualização de dados em um momento em que a técnica está em voga. “Nunca se produziu tantos gráficos. As pessoas às vezes acabam fazendo mais do mesmo, e não de uma forma muito responsável”, pontua Júlia. Gráficos de comparação entre países e municípios são recorrentes, mas precisam respeitar parâmetros básicos de normalização dos dados, usando uma mesma unidade de comparação. “O uso responsável da visualização de dados é um papel de todos: das autoridades, da imprensa e da ciência”, esclarece a designer.

Diante do cenário de constante mudança trazido pelo vírus, o projeto está em aberto, mas já tem definido seu próximo tema de divulgação, que será a coleta de dados. “Como se coleta? Como armazenar? Como identificar um dado confiável? Estas são algumas das perguntas que vamos responder”, conta o pesquisador do Visgraf, que já está conversando com possíveis colaboradores para a iniciativa. 

Apesar da incerteza em relação ao futuro ser um grande desafio neste momento, Luiz Velho está otimista. “Cientistas vão fazer novas maneiras de ciência, governantes vão aprender novas formas de gestão, a mídia vai aprender novas formas de comunicação. Se lidarmos com a situação de uma maneira inteligente, podemos aprender muito como seres humanos.” 

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