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01/06/2023

Bruno Braga é atraído pela beleza da matemática

De pés descalços e com uma rede para compor o cenário do gabinete, Bruno de Mendonça Braga, de 34 anos, discorre com precisão sobre o percurso acadêmico que o levou de um aluno que “não gostava muito de estudar”, na escola, a pesquisador do IMPA. Ele confessa que muita coisa mudou ao longo dos anos: passou a gostar tanto dos estudos que recheou o currículo com uma graduação, um mestrado, dois doutorados e dois pós-doutorados. 

Com 25 artigos científicos publicados e palestras em mais de 50 conferências de países como Canadá, França e Chile, o pesquisador reconhece que foi cada vez mais atraído pela diversão dos problemas “bonitos” da matemática.

“Devo admitir que faço matemática de forma um pouco ingênua. Para mim, fazer Matemática é um pouco como brincar de quebra-cabeça não pensando muito na utilidade dele. Acho certos problemas bonitos e intrigantes e, por esses motivos, tento entendê-los e resolvê-los.”

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No instituto desde janeiro deste ano, ele ainda não teve tempo de preencher todas as prateleiras com livros, mas lá está o exemplar “Functional Analysis do Bachman e Narici”, sobre análise funcional, sua área de especialização. O livro foi adquirido no verão de 2009, quando participou do curso ministrado por Benar Fux Svaiter. 

“Comparado com o que eu havia visto na UFRJ, havia um número muito grande de pessoas fazendo funcional, uma matéria de doutorado aqui no IMPA. Achei uma comunidade muito ativa, engajada, querendo aprender. E estudei por esse livro aqui, que o Benar usa no curso”, relembrou, enquanto folheava a obra e mostrava a data e assinatura na primeira página. 

Na época, ele era aluno do curso de graduação na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ainda não havia estudado sobre o tema que, com os anos, se tornou uma paixão. “É difícil explicar porque gosto de análise funcional. Apenas gosto! Acho muito bonito. Comecei a gostar de análise e geometria por serem coisas mais visuais, que davam pra desenhar. Além disso, sou um pouco atraído por um certo nível de abstração e o fato de pessoas na área estarem trabalhando com a geometria de espaços de dimensão infinita me pareceu muito divertido”.

Quadrinhos e bicicleta marcaram a infância  

Filho de uma médica e de um engenheiro, Braga passou parte da infância no Rio de Janeiro, onde nasceu, e também em Rio Branco (AC) e Curitiba (PR). Entre os 7 e 10 anos de idade, morou no Acre com a mãe, onde viveu grande liberdade. “Os anos no Acre, para mim, foram maravilhosos. Lá eu andava de bicicleta na rua e mal avisava a minha mãe sobre a hora que iria voltar. Aqui no Rio, eu morava em Ipanema e mal podia sair de casa sozinho.”

De volta ao Rio de Janeiro desde 2022, quando assumiu a posição de professor da PUC-Rio, o matemático ainda aprecia a bicicleta como meio de locomoção. Agora, trabalhando no IMPA, ele faz o percurso Copacabana-Horto sobre duas rodas. “O trajeto da minha casa ao IMPA tem sido uma das melhores coisas do meu dia! Eu me locomovo de bicicleta, então sempre passo pela praia e pela Lagoa [Rodrigo de Freitas]. Devo admitir que estou ‘roubando’, porque comprei uma bicicleta assistida, já que meu físico de atleta não aguentou o percurso na magrelinha”, brincou.

Apesar de atualmente passar grande parte do tempo explorando diferentes aspectos da sua pesquisa, Braga confessa que não tinha uma inclinação forte para os estudos na escola. “Sempre gostei de matemática, era a minha matéria favorita. Mas nunca fui um aluno muito dedicado no resto. Não gostava muito de escola, achava meio chato, ia para passar o dia lendo histórias em quadrinhos escondido dos professores (HQs). Só fui pensar no que fazer da vida no último ano do ensino médio.”

Chegou a cogitar se tornar autor de HQs e só optou pela matemática após estudar livros de cálculo por conta própria, tema que considerava “divertido”. “Odiava a escola, mas adorei a graduação. Foi uma experiência maravilhosa”, disse.

O matemático concluiu a graduação na UFRJ em 2009 e fez mestrado simultâneo pela mesma universidade, sob orientação de Nicolau Saldanha, da PUC-Rio. “Não tinha ideia da área que queria seguir ao fim da graduação. Mas, desde que entrei na faculdade, comecei a fazer análise e álgebra. E, bem rapidamente, percebi que eu achava análise muito mais legal. Tem figuras, é mais geométrico e visual.”

Braga passou 12 anos na América do Norte

Em 2010, meses após finalizar o mestrado na área de topologia algébrica, embarcou para os Estados Unidos, onde cursou o doutorado na Universidade de Kent State (KSU), em Ohio. Desta vez, escolheu a área de análise funcional, um dos fortes da KSU.

No primeiro ano por lá, conheceu a cazaquistanesa Masha Brussevich, hoje sua mulher, que é economista. Mas ela logo se mudou para outro estado e, para diminuir a distância, Braga transferiu o curso para a Universidade de Illinois em Chicago (UIC). Na UIC, trabalhou com o pesquisador Christian Rosendal até concluir o curso, em 2017.

“Apesar de ter sido uma decisão para ficar perto da Masha, foi a melhor coisa possível! O meu orientador em Kent [Joe Diestel] foi muito legal, mas já estava quase se aposentando. Já o Rosendal era superativo e gostei muito de trabalhar com ele”, afirmou. 

O matemático foi diplomado nos dois doutorados e se mudou para Toronto, no Canadá, para um pós-doutorado na Universidade de York, em 2017. Neste período, a mulher trabalhava como economista do Fundo Monetário Internacional (FMI) e morava em Washington, DC, capital dos EUA. “Por dois anos, toda segunda-feira eu voava para Toronto e voltava para Washington às quintas. Eu fazia um voo internacional por semana”, explicou. 

A experiência foi seguida de outro pós-doutorado, na Universidade de Virginia (UVA), onde esteve por três anos. Voltou ao Rio em julho de 2022 para dar aulas na PUC-Rio. “Meu sonho sempre foi voltar para o Rio e só não voltei antes pela Masha, já que ela tinha uma posição muito boa no FMI. Assim que ela conseguiu um emprego aqui como professora de economia do Ibmec, eu me candidatei para alguns lugares e fui aceito como professor na PUC”, explicou.

Após seis meses na PUC, ele passou também para o IMPA. O carioca descreve a experiência no instituto como “excelente” e enfatizou a importância da infraestrutura e apoio da instituição. “Comecei em janeiro e já tive três professores que vieram ao Rio trabalhar comigo, o que só foi possível devido ao suporte do instituto.”

Ele também aprecia o movimento e a integração das pessoas no IMPA. “É muito legal ver como existem muitos funcionários que estão aqui há décadas. Mostra que é um lugar bacana para se trabalhar. O instituto está sempre movimentado e as pessoas gostam de interagir. Acabei de passar um tempo longo no norte do Equador, onde o normal era almoçar sozinho, cada um em seu escritório. No IMPA só almoça sozinho quem quer!”

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