Navegar

31/05/2023

Folha: A importância de Silva Dias para a biblioteca do IMPA

Reprodução da coluna de Marcelo Viana na Folha de S. Paulo

Cândido da Silva Dias é um dos pioneiros da pesquisa matemática no Brasil. Nascido em 1913, tornou-se aos 24 anos um dos primeiros bacharéis em matemática pela então recém-criada Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) da Universidade de São Paulo (USP). Cinco anos depois, defendeu a primeira tese de doutorado em ciências da FFCL.

Seu trabalho científico mais importante, “Espaços vetoriais topológicos e sua aplicação nos espaços funcionais analíticos”, foi publicado em 1950. Resultados relacionados foram obtidos simultaneamente pelos matemáticos Alexander Grothendieck (ganhador da medalha Fields, em 1966), na França, Gottfried Köthe, na Alemanha, e José Sebastião e Silva, em Portugal, o que mostra bem a relevância do tema na pesquisa da época.

Leia mais: INCTMat abre chamada de apoio a eventos científicos
Imprensa destaca realização da 2ª Olimpíada Mirim-OBMEP
Cerimônia da OBMEP reúne mais de mil alunos em Florianópolis

Em 1945, Silva Dias participou da criação da Sociedade Paulista de Matemática, precursora da Sociedade Brasileira de Matemática. Nos anos 1960, liderou a criação do Instituto de Pesquisas Matemáticas da USP —atual Instituto de Matemática e Estatística—, do qual foi o primeiro diretor, entre 1970 e 1974. Anos antes, em 1951-1952, tivera um papel central na criação do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), no Rio de Janeiro, instituição com a qual manteve uma relação próxima por toda a vida.

Seu filho Pedro Leite da Silva Dias, um dos maiores especialistas brasileiros em meteorologia, lembra que o pai sempre falava do Impa com muito carinho e recorda as conversas dele com os amigos Leopoldo Nachbin e Mauricio Peixoto, primeiros pesquisadores do instituto: “Vivi alguns desses episódios e lembro até hoje quando, criança, viajava com meu pai para o Rio de Janeiro. Mas a melhor lembrança é das conversas que ele tinha com Leopoldo e Mauricio na sala, lá em casa, na rua Vergueiro. Passavam horas e horas papeando. Lembro de dormir no sofá escutando a conversa e as gargalhadas que davam. Obviamente, eu não entendia nada, mas achava tão interessante!”.

Silva Dias ainda daria mais uma inestimável contribuição ao Impa. Acontece que, logo após a criação do instituto, o CNPq reservou uns US$ 2.000 para a aquisição de uma biblioteca especializada. Esse dinheiro foi entregue a Silva Dias, que estava de partida para um estágio na França e, sabidamente, entendia do assunto.

Leia também: ‘Perseverança é fundamental na matemática’, diz Marcelo Viana