No Diário do Rio, Enrico Costa defende expansão do IMPA
Em artigo publicado na quarta-feira (23) no Diário do Rio, o estudante de economia da Universidade Federal Fluminense (UFF) e programador Enrico Costa defendeu o projeto do novo campus sustentável do IMPA. O graduando destacou a importância dos alojamentos estudantis que integrarão a estrutura para os futuros alunos da instituição. “Isso quer dizer que duas centenas de alunos não precisarão pegar ônibus ou ir de carro até o Horto do Jardim Botânico, um bairro recheado de mansões, de difícil acesso, e segregado do Rio que conhecemos”, escreveu.
No texto, Costa questionou a resistência dos moradores do Jardim Botânico, bairro onde se situa o terreno do novo campus, à expansão do IMPA: “Se continuarmos olhando para o nosso próprio umbigo, ao invés de pensarmos num plano de desenvolvimento e recuperação de nossa cidade, estaremos forçando diversas instituições, como o IMPA, a continuar sua caminhada em outro lugar, por outro caminho. Sem a gente, sem o Rio.”
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Leia o artigo na íntegra:
Enrico Costa: Sobre quem não escolhemos – o IMPA e o conflito no Jardim Botânico
Alguns moradores vizinhos ao IMPA são contra a expansão, mas, para Enrico Costa, eles incentivam que o Instituto deixe o local, prejudicando a região e a cidade
Ao escolhermos uma opção em nossas vidas, nem sempre temos total noção de que a opção não-escolhida também terá um caminho próprio. Ao escolher namorar com uma pessoa, por exemplo, é escolhido não fazer tudo que estar solteiro poderia nos proporcionar: estarmos mais livres em nossas viagens e planos de vida, e também não ter o lado negativo dessa opção: não ter alguém pra ficarmos próximos em momentos de carência ou dificuldade. Além disso, estamos escolhendo como a vida da outra pessoa seguirá. E caso prefira estar sozinho, ou com outra pessoa, a vida do outro irá continuar, só que em outro lugar, por outro caminho, com outras pessoas.
O IMPA – Instituto de Matemática Pura e Aplicada, localizado no Jardim Botânico, bairro de pouco adensamento urbano, está querendo expandir suas bases para um terreno doado nunca utilizado, ao lado do Instituto, para a construção de auditórios, salas, e principalmente, 200 dormitórios estudantis, com refeitório e estacionamento. Isso quer dizer que duas centenas de alunos não precisarão pegar ônibus, ou ir de carro, até o Horto do Jardim Botânico, um bairro recheado de mansões, de difícil acesso, e segregado do Rio que conhecemos. É um dos bairros com menor densidade populacional da cidade, e muitos moradores querem que continue assim. Por isso, petições estão sendo criadas para evitar a construção no terreno – alegações como danos à natureza e aumento de trânsito em uma rua quieta e tranquila.
O que esses cidadãos não percebem é que, o quanto mais eles incentivam que o Instituto não se expanda, mais incentivos fornecem para que ele queira abandonar o local, o que não favorece os moradores – beneficiados pelos preços dos aluguéis aos estudantes no entorno – nem a cidade, na geração de diplomas de altíssima qualidade pela mão-de-obra local e empresas que contam com esses diplomas para se estabelecerem na cidade, o que alimenta a economia da metrópole e aumenta a renda de todos os cariocas. Ao embarreirar a construção no Jardim Botânico, os moradores do bairro apenas estarão provocando o IMPA a construir em outro lugar. Na cidade, ou em outra localidade – como nas cidades serranas, a exemplo de Petrópolis, ou em outro estado.
O Rio de Janeiro é bagunçado, decadente e criminoso. Motivos para ir embora não faltam. Se o IMPA ainda quer ficar conosco, é porque temos uma mão-de-obra qualificada a produzir uma Medalha Fields, de vez em quando – um “prêmio Nobel” da Matemática, em que Artur Avila, com doutorado pelo Instituto, ganhou em 2014. E a proximidade com a natureza pode evitar que seus estudantes enlouqueçam entre pesquisas de mestrado e doutorado. Mas, se continuarmos olhando para o nosso próprio umbigo, invés de pensarmos num plano de desenvolvimento e recuperação de nossa cidade, estaremos forçando diversas instituições, como o IMPA, a continuar sua caminhada em outro lugar, por outro caminho. Sem a gente, sem o Rio.
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