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24/06/2021

Pedro Borges aplica a ‘mágica’ da matemática à alta tecnologia

Nascido em Santo Antônio do Monte (MG), a “capital brasileira dos fogos de artifício”, Pedro Henrique Borges era fascinado com a rapidez com que a mãe, comerciante, fazia cálculos de quatro dígitos de cabeça. As charadas matemáticas do avô e a leitura de uma biografia do Einstein que ganhou de presente da irmã mais velha, Lara, também contribuíram para que o hoje quase doutor começasse a se interessar pela matemática. “Fiquei  muito impressionado com o processo de descoberta que o livro relatava”, lembra. 

Motivado a seguir os passos da irmã, que cursou o ensino médio no Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG), Pedro estudou com afinco para conquistar uma vaga na instituição. “Isso me deu motivação e perspectivas para tentar fazer o mesmo. Minha mãe sempre disse que se quisesse estudar tinha de ser na federal, porque ela não tinha dinheiro. O CEFET-MG era minha chance de sair da escola Estadual e me preparar para a Federal”, conta. Aos 14 anos, após estudar sozinho, fez a prova e passou a cursar o ensino médio técnico em informática na instituição.

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Com a bagagem de informática que adquiriu nos últimos anos da escola, optou pelo curso de matemática computacional da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) como graduação. “Queria misturar matemática e computação em aplicações de alta tecnologia, que sempre foi minha motivação.” Em 2014, ingressou no mestrado no IMPA, lugar onde se encontrou. “Aqui foi onde tive mais chances de me desenvolver por causa do ambiente competitivo e livre, onde o aluno faz o que quiser e como quiser, mas sempre com muita responsabilidade. A cultura do IMPA é de trabalho sério e dedicação ao extremo.” 

Foi na pesquisa científica que Pedro Henrique Borges concretizou um desejo antigo: aplicar a matemática e a computação à alta tecnologia. O doutorando do IMPA diz que “parece mágica” quando uma fórmula ou algoritmo resolve um problema técnico do mundo real para o qual não parecia haver solução. “Para mim, a matemática significa criatividade na resolução de problemas importantes na vida de muitas pessoas ou de alto valor econômico”, sintetizou. 

Nesta sexta-feira, às 10h, ele defende a tese “Algoritmos para alguns problemas matemáticos hierárquicos de otimização”, orientada pelo pesquisador Mikhail Solodov. A apresentação será por videoconferência, e transmitida no YouTube do IMPA.

Problemas de dimensões astronômicas

No trabalho, Pedro se dedicou a encontrar a solução computacional de problemas de dimensões astronômicas, impossíveis de serem resolvidos sem a aplicação de técnicas especiais. “Isso pode incluir otimização estocástica e interações entre agentes econômicos, que dão origem aos jogos estocásticos. São aplicações em problemas pesados de engenharia e finanças”, explica o doutorando. 

A pesquisa rendeu bons frutos, e já resultou em quatro artigos científicos. Dois deles são sobre uma técnica de suavização desenvolvida pelo mineiro, que é mais geral que a suavização de Nesterov, muito conhecida em machine learning. Os outros dois são sobre uma solução para entender como o custo de problemas dinâmicos e estocásticos muda de acordo com alguns parâmetros do problema. “Isso dá origem a métodos eficientes para avaliar se a representação estocástica do futuro é suficiente e também para resolver alguns jogos estocásticos, como coisas relacionadas com o equilíbrio de Nash, em economia”, explica.

IMPA é lugar de ‘excelência mundial’, com professores líderes em suas áreas

O doutorando considera o IMPA um lugar de “excelência mundial” que reúne os melhores alunos de matemática da América Latina. “Todos os professores são líderes nas suas respectivas áreas. Meus orientadores são editores dos melhores jornais da área e estão no top 1% da pesquisa mundial de acordo com pesquisas de Oxford, o que me abriu várias oportunidade internacionais”, salienta.

Durante o doutorado no instituto, o mineiro ganhou a Gaspard Monge Scholarship, que permitiu que ele passasse um tempo na Escola Politécnica de Paris; e a TACEMM Scholarship, que o levou para uma temporada na Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia. Com o título de doutor em mãos, Pedro fará um pós-doutorado em Machine Learning na EPFL/ETH, na Suíça, e pretende desenvolver a empresa de DeepTech que lançou recentemente.

Entre os aspectos que mais gosta na vida de um pesquisador, destaca a liberdade para criar técnicas novas e imaginar. “Gosto da liberdade de poder questionar e eventualmente entender algo de maneira diferente. Fazer o que quiser, quando quiser. Isso não significa que você não trabalhe. Muito pelo contrário. A paixão pelo assunto faz com que você trabalhe compulsivamente.”

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