Na Folha, Marcelo Viana fala sobre Euler e o rei da Prússia
Reprodução da coluna de Marcelo Viana, na Folha de S.Paulo
Inquieto com a instabilidade de sua posição em São Petersburgo, em 1741, Euler aceitou convite do rei Frederico, o Grande (1712-1786), para dirigir a seção de matemática da Academia de Ciências da Prússia e segue para Berlim. As quase duas décadas seguintes foram marcadas por descobertas muito importantes e por uma relação difícil com o rei.
Entre as obrigações de Euler estava educar a princesa Friederike Charlotte, sobrinha do rei. Ele lhe escreveu mais de 200 cartas sobre temas de matemática e física, que foram depois coletadas e publicadas na forma de um livro. As “Cartas de Euler a uma princesa alemã” evidenciam sua notável capacidade para comunicar ciência em linguagem acessível e se tornaram populares na Europa e nos Estados Unidos.
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Frederico, um dos mais brilhantes monarcas do iluminismo, era culto, sofisticado, infatigável, excelente administrador e um dos maiores generais de sua época. Suas conquistas expandiram o reino, alçando a Prússia à condição de uma das principais potências mundiais. A par disso, reuniu em Berlim muitas das melhores mentes da ciência, arte e cultura do seu tempo.
O filósofo, historiador e escritor francês Voltaire ocupava lugar de prestígio na corte de Frederico, o qual apreciava a eloquência e mordacidade do francês. Euler era o oposto: simples, religioso, mal informado fora da matemática, nunca questionava as normas e entrava em discussões sobre temas que conhecia mal, o que o expunha a chacota.
O rei ficou especialmente desapontado com a falta de habilidades práticas do matemático. “Eu queria um chafariz e pedi a Euler que calculasse a força das rodas necessária para elevar a água até o reservatório. O aparelho foi planejado geometricamente e não conseguia erguer nem um gole de água. Vaidade das vaidades! Vaidade da geometria!”
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