Matemática e indústria precisam conversar, diz Viana na Folha
Reprodução da coluna de Marcelo Viana, na Folha de S.Paulo
Contam que Henry Ford, pioneiro da indústria automobilística, encomendou um dínamo para seus carros, mas o aparelho não funcionava, e o fornecedor não conseguia resolver o problema. Ford então chamou “o homem mais inteligente da América”, o matemático de origem húngara John von Neumann, do Instituto de Estudos Avançados de Princeton.
Von Neumann olhou os diagramas, caminhou em volta do dínamo, tirou um lápis do bolso e marcou uma linha no invólucro: “Se cortar aqui, funciona”. Cortaram, e o dínamo funcionou.
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Quando Ford pediu a conta, von Neumann mandou nota no valor de 5 mil dólares, uma soma enorme para a época. Surpreso, Ford pediu o detalhamento. Von Neumann respondeu: marcar a linha com o lápis, 1 dólar; saber onde marcar a linha, 4.999 dólares. Ford pagou.
Que conhecimento é dinheiro (e poder) é lição antiga. A 2ª Guerra Mundial foi ganha pelo poderio industrial norte-americano, baseado no conhecimento científico e tecnológico. E os EUA nunca mais pararam de importar os melhores cérebros do mundo de países menos capazes ou menos cuidadosos em preservar sua relevância e independência.
O Brasil da época percebeu e fez o dever de casa, construindo um sistema científico nacional (CNPq, Capes, a que se seguiriam Finep, Ministério da Ciência e Tecnologia, as fundações estaduais), ao mesmo tempo em que desencadeava sua industrialização.
O valor material da ciência está amplamente comprovado e mensurado. Peguemos o caso da matemática: estudos técnicos realizados nos últimos anos em diversos países (Reino Unido, França, Austrália, Holanda e Espanha) comprovam que as atividades econômicas com alto conteúdo matemático geram grande parte da riqueza nacional: cerca de 15% do PIB.
Produzir conhecimento é fundamental, mas é igualmente necessário incorporá-lo aos processos produtivos. Dados divulgados pelo diretor científico da Fapesp, professor Carlos Brito Cruz, apontam que a colaboração entre academia e indústria vem crescendo no Brasil, mas ainda há enorme potencial a explorar. Especialmente no que tange à matemática, parece claro que o diálogo entre os dois setores ainda está muito atrás dos países mencionados.
Esse diálogo não surge espontaneamente, precisa ser construído, e com urgência. É com esse objetivo que o Impa vai realizar, em 13 e 14 de fevereiro, o primeiro Workshop Matemática e Indústria, em parceria com o Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria da USP. Trata-se de trazer empresas para interagir com pesquisadores, identificar domínios de colaboração e construir parcerias que beneficiem os dois setores e o país.
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