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16/08/2022

Matemática ajudou abelhas e peixes a sobreviver

Crédito: Pexels

Na disputa do mais apto a sobreviver, a resposta a estímulos numéricos, ainda que limitada, parece que deu um empurrãozinho para animais como peixes, abelhas, elefantes, golfinhos, primatas e cachorros a evoluir. Segundo a professora de psicologia Silke Goebel, da Universidade de York, no Reino Unido, algumas espécies têm sensibilidade a números semelhantes à de bebês humanos. A habilidade auxilia na tomada de decisões favoráveis em situações do dia a dia. 

Por exemplo: diante de duas árvores, o cérebro de um elefante consegue escolher a que tem mais frutos, por meio de algo chamado sistema numérico impreciso, especializado em aproximar números e estimar a quantidade de um conjunto, sem precisar contar. Pode parecer simples, mas essa sensibilidade faz com que determinadas espécies optem pela fonte de alimento mais abundante, o que lhes confere clara vantagem evolutiva.

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Bebês humanos podem estimar diferenças aproximadas em números na proporção de 1: 3, ou seja, conseguem detectar que um arbusto com 300 frutas tem mais frutas do que um com 100. 

Obviamente, há diferenças entre os humanos e os animais. Podemos desenvolver essa habilidade e aprender a fazer contas. Além disso, temos uma conquista que, embora pareça natural, nos diferencia dos demais seres vivos. E é impressionante do ponto de vista evolutivo: a linguagem. Afinal, um chimpanzé não é capaz de representar números em dígitos e palavras (salvo em “Planeta dos Macacos”).

No sistema mais difundido entre os humanos, o indo-arábico, apenas dez símbolos, de 0 a 9, são capazes de formar um conjunto infinito de números. Não é assombroso? 

Achados arqueológicos com marcas em ossos de animais sugerem que os neandertais, há cerca de 60 mil anos, iniciaram uma contagem simbólica dos números. Esse processo pode ter começado exatamente como ensinamos nossos filhos a contar – usando partes do nosso corpo. Os dedos são ótimos para isso, mas só até um limite de dez. 

No caso do sistema de contagem do povo yupno, de Papua Nova Guiné, o alcance vai até 33, pois nele são utilizados partes adicionais do corpo, como dedos dos pés, orelhas, olhos, nariz, narinas, mamilos, umbigo e até testículos e o pênis. 

De acordo com estudos, a partir de dez meses de idade os bebês passam a se familiarizar com os números, mas só são capazes de detectar mudanças numéricas de um a três, como, por exemplo, quando uma laranja é acrescida a um grupo de duas frutas. A habilidade é compartilhada por animais com cérebros menos complexos do que os dos humanos. 

Assim como a linguagem, a matemática é uma invenção notável, que permite aos humanos desde distribuir alimentos, contar o tempo e comercializar, até construir edificações e lançar satélites, por exemplo. Em suma, as bases para a vida como a conhecemos hoje. 

“Os seres humanos e os animais realmente compartilham algumas habilidades numéricas notáveis — que os ajudam a tomar decisões inteligentes sobre onde se alimentar e onde se abrigar. Mas assim que a linguagem entra em cena, os humanos começam a superar os animais, revelando como as palavras e os dígitos sustentam nosso mundo matemático avançado”, diz Goebel, em artigo publicado na revista “The Conversation”.

Fonte: The Conversation/BBC

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