Navegar

10/03/2023

Fernando de Goes conquistou Oscar técnico pela Pixar

Ex-colaborador do Visgraf (Laboratório de Visão e Computação Gráfica do IMPA), o brasileiro e atual pesquisador da Pixar, Fernando de Goes, foi premiado neste ano com o SciTech Oscar pelo desenvolvimento de um sistema para a simulação da dinâmica de objetos elásticos utilizado em diversas produções do estúdio.

A premiação é concedida anualmente pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas aos desenvolvedores de efeitos especiais práticos e digitais. Oito áreas foram premiadas este ano, incluindo a categoria “Soft Bodies”, que em tradução livre significa corpos macios/deformáveis.

Leia mais: Medalhista da OBMEP questiona ministra do MCTI
IMPA renova cooperação com centro de pesquisa francês
Na infância, Claudia Lorena Espitia sonhava em ser cientista

“Eu pensava que trabalhar na Pixar já era uma grande conquista. Mas nunca pensei que algum dia poderia ganhar um prêmio como o Oscar. É surreal”, afirmou Goes, ainda com tom incrédulo.

Nascido em Piracicaba, no interior de São Paulo, o brasileiro concluiu em 2006 o curso de Engenharia da Computação na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Foi durante a faculdade que conheceu o IMPA. No instituto, ele participou de uma das edições do Curso de Verão e publicou diversos artigos científicos em uma parceria duradoura com o Visgraf. Alguns trabalhos estão disponíveis neste link.

Luiz Velho, pesquisador-líder do laboratório, afirmou que as primeiras colaborações, em sua maioria, estavam centradas nas superfícies deformáveis e malhas, que têm relação com as técnicas premiadas.

“Isso tem a ver com o que ele está fazendo atualmente, mas era a partir de uma visão diferente. É muito legal ver como o trabalho do IMPA, de formar pessoas, gera impactos e resultados que estão no dia a dia! A beleza que você vê nos filmes da Pixar, por exemplo, também é um pouco produto do Visgraf e do IMPA. Me realizo quando vejo casos como esse, de colaboradores e ex-alunos sendo premiados”, disse Luiz Velho.

Goes chegou aos Estúdios de Animação Pixar, empresa norte-americana localizada na Califórnia (EUA), em 2015, após concluir o doutorado na Caltech (Instituto de Tecnologia da Califórnia).

No estúdio, ele foi responsável por desenvolver o sistema de simulação ao lado dos pesquisadores Theodore Kim, David Eberle e Audrey Wong.

A inovação do quarteto foi na área de métodos numéricos para a deformação de objetos elásticos. As animações precisam seguir as leis da física, entendendo que os movimentos que estão sendo criados na ficção também devem respeitar algumas regras do universo real. Isso é aplicado na criação de imagens em que os personagens – que são maleáveis – interagem com um objeto, por exemplo.

“Queremos deformar objetos baseado em como eles entram em contato, mostrar o movimento das roupas ou a interação do corpo de um personagem quando ele deita no colchão, por exemplo. Tudo isso é feito automaticamente a partir do nosso sistema. Mas, como é animação, às vezes também precisamos fazer coisas que são impossíveis na realidade, só que de forma que pareça realística. Essa combinação de realidade com direção artística que o filme exige é como se fosse brincar com as leis da física”, comentou com bom-humor.

Uma das primeiras produções que se beneficiou das melhorias desenvolvidas pelo programa foi “Carros 3”, lançado em 2017. O trabalho teve aplicação gráfica nos pneus dos carros em movimentos de inflar e desinflar.

Carros 3 | Pixar

Em “Viva – A Vida é Uma Festa”, também lançado em 2017, o sistema foi aplicado novamente. Mas, desta vez, o desafio era ainda maior.

“Esse filme usou muito a simulação. Várias melhorias foram feitas especialmente para este projeto, porque demandava movimentar roupas em cima de personagens esqueletos. Então, como pode imaginar, o esqueleto é um ‘corpo’ com buracos entre um osso e outro. E a roupa precisa se mexer e ser realista, mas é claro que você não quer que a calça do personagem entre no meio dos ossos, porque vai parecer estranho”, explicou.

Produções mais recentes como “Os Incríveis 2”, de 2018, e  “Dois Irmãos – Uma Jornada Fantástica”, de 2020, também utilizaram o sistema. Retratando uma família de super-heróis, o primeiro filme tem diversas cenas que mesclam situações realistas com outras fantásticas.

O mesmo aconteceu no filme “Dois Irmãos”, que conta a história de dois elfos adolescentes, que vivem em um mundo onde a magia deixou de existir. Eles embarcam em uma jornada para descobrir se ainda há mágica em algum lugar, após receberem a mensagem do falecido pai, que era bruxo.

“No filme, os irmãos interagem com o corpo do pai, que só tem a parte inferior, das pernas, mas nada na parte de cima. E todo o movimento deste pai foi feito com o nosso sistema. Desde a roupa, o colete, a calça e os volumes”, explicou o pesquisador.

Filme Dois Irmãos | Pixar

Leia também: Para que serve o problema do passeio do cavalo no xadrez?
Secretária de Ambiente e Clima do Rio visita sede do IMPA