Visgraf cria site para comemorar aniversário de 30 anos
Karine Rodrigues
Em 1989, um minicurso inédito surgiu na grade de disciplinas do Programa de Verão do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA): “Introdução à Computação Gráfica”. A novidade lotou o auditório Ricardo Mañé e deu aos amigos Jonas Gomes, doutor em Matemática, e Luiz Velho, doutor em Ciência da Computação, a certeza de que estavam no rumo certo.
Jonas e Luiz trabalharam juntos no setor de pesquisa e desenvolvimento em computação gráfica da TV Globo e consideravam que a Matemática de ponta seria imprescindível para impulsionar aquela incipiente e maravilhosa área do conhecimento. A dupla ministrou o minicurso, idealizado juntamente com Paulo Cezar Pinto Carvalho, que regressara recentemente ao IMPA.
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O sonho de criar uma linha de pesquisa no IMPA dava, então, os primeiro passos. “Ele percebeu que havia um espaço aqui para fazer computação gráfica”, conta Luiz. A adesão ao minicurso apontou que o futuro seria promissor para o Laboratório de Computação Gráfica do IMPA, o Visgraf.
Embora afastado das atividades acadêmicas há cerca de 20 anos, Jonas, que integra o Conselho de Administração do IMPA, representando a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), acompanha o Visgraf.
“Ser cientista era um sonho, ser cientista empreendedor e criar um novo grupo de pesquisas é algo que vai muito além desse sonho. A concretização desse fato só foi possível devido ao ambiente aberto e de qualidade propiciado pelo IMPA”, relata Jonas, no texto em homenagem aos 30 anos do laboratório.
A julgar pelo que se vê no Visgraf 30 anos, as expectativas não foram superestimadas. O site é um tributo a todos os que contribuíram para tornar o Visgraf referência internacional. São cerca de 170 pessoas espalhadas pelo Brasil e pelo mundo em áreas de destaque, como ensino, pesquisa ou desenvolvimento.
“Decidimos comemorar os 30 anos com uma homenagem às pessoas que formamos e às pesquisas feitas aqui”, relata Luiz, coordenador do Visgraf, sobre o site.
Desenvolvido por Júlia Giannella, assistente de pesquisa do laboratório, o site convida o internauta a passear pela história do laboratório. Na área “People from Visgraf”, é possível encontrar informações básicas, como o período em que a pessoa esteve no IMPA, local onde vive e trabalha hoje, e-mail e foto atual. “Theses database” reúne todos os trabalhos realizados pelo grupo de pesquisa.
Para elaborar a trajetória do Visgraf, foi preciso uma busca cuidadosa para não desagradar quem faz a linha “low profile”.
“Fomos muito comedidos ao mandar as mensagens, para não incomodar ninguém”, diz Luiz.
Se mais de 50% das pessoas respondessem o formulário que solicitava informações básicas, o site sairia do papel, acrescenta Júlia, Doutoranda em Design e Tecnologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
Com a primeira base de dados, ela criou a versão inicial do site, compartilhada depois com todos os integrantes do Visgraf. Foi o momento de pedir fotos e depoimentos. Com o material reunido, Júlia fez nova versão, para a qual desenvolveu um projeto de visualização de dados de todos os trabalhos de mestrado e doutorado defendidos por alunos do laboratório de 1990 a 2017. A ideia de conexão serviu de inspiração.
“A gente queria conectar, ou melhor, reconectar todos os que já passaram pelo Visgraf. É possível visualizar no tempo a publicação das dissertações e teses, com os alunos, orientadores e co-orientadores, e os temas, as palavras-chave mais presentes. A visualização está em sintonia com a nova postura do IMPA de divulgar o que está sendo feito no instituto. De uma forma mais humana, mostrando quem são as pessoas.”
O site é o início da comemoração dos 30 anos. O que ainda virá é uma decisão que cabe às pessoas que já passaram pelo Visgraf. Para ouvi-las, foi criado um grupo fechado no Facebook. “Vamos pedir sugestões sobre como gostariam de festejar a data”, afirma Luiz.
Atualmente professor da Fundação Getúlio Vargas, no Rio, Paulo Cezar conta que a conexão dele com o Visgraf surgiu antes mesmo de o laboratório ser criado.
“Regressei ao IMPA em 1988, após um período de pós-doutorado em Cornell. Minha área de pesquisa no doutorado foi Otimização, mas nesse estágio de pós-doutorado comecei a me interessar por Geometria Computacional. Em minha volta, organizamos um curso sobre o assunto, que foi o germe do grupo de Computação Gráfica do IMPA e do laboratório no Visgraf”.
Primeiro aluno de doutorado orientado por Jonas e pesquisador do Visgraf desde 2001, Luiz Henrique de Figueiredo considera que, já na criação, o Visgraf foi fundamental para consolidar a visão global de Computação Visual como a área que integra Computação Gráfica, Processamento de Imagens e Visão Computacional, no contexto de Matemática Aplicada Computacional.
“Nestes 30 anos, a liderança de Luiz Velho seguiu o pioneirismo de Jonas Gomes e mantém o Visgraf no primeiro plano de pesquisas inovadoras em computação visual e novas mídias”, destaca.
Também professor do Visgraf, Diego Nehab enfatiza a expertise do laboratório. Ele avalia que o Visgraf revolucionou a Matemática e a educação e trouxe os mais sofisticados sistemas em 2D e 3D, na parte computacional, com gráficos e modelagens. “Grandes empresas do mundo apoiam esse projeto”, diz ele, pesquisador do IMPA desde 2010.
Sobre a comemoração dos 30 anos, Luiz Henrique já tem uma sugestão: fazer no IMPA um evento no dia 1º de novembro para marcar a data, após o Sibgrapi 2019 (Conference on Graphics, Patterns and Images), que será realizado no Rio, de 28 a 31 de outubro.
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