Reportagem sobre o IMPA é destaque na capa do Globo
O IMPA estampou a capa do Jornal O Globo do último sábado (11). O veículo destacou as comemorações dos 70 anos do instituto e falou sobre os planos de ampliação da sede e de expansão das parcerias com a iniciativa privada. A reportagem do jornalista Rafael Garcia ressaltou o renome internacional da instituição e a excelência no ensino e na pesquisa, e abordou ainda a importância do Centro Pi (Centro de Projetos e Inovação IMPA) e da OBMEP.
A matéria trouxe dados que ajudam a explicar o legado do IMPA. O texto lembra que os cursos de pós-graduação têm conceito máximo desde que foram criados em 1964. De lá pra cá, 895 mestres e 549 doutores foram formados. Quando avaliado pelo “fator de impacto”, os pesquisadores do IMPA produziram em média mais que o dobro do que os da Universidade de São Paulo (USP) da mesma área, atingindo um nível equiparável ao de núcleos como os de Harvard e do Massachusetts Institute of Technology (MIT), duas das três melhores instituições de ensino superior dos Estados Unidos.
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O jornal disse que a interação da academia com o setor privado é essencial para a sofisticação da economia brasileira e destacou o trabalho desenvolvido no Centro Pi. “A matemática aplicada deve ser feita num diálogo com quem aplica, conversando com quem está projetando um celular, desenvolvendo um software ou fazendo algum estudo estatístico. Não é possível você simplesmente se sentar e pensar hoje vou criar uma aplicação para a matemática”, disse o diretor-geral do IMPA, Marcelo Viana, à reportagem.
A matéria informou ainda que o instituto foi o responsável pela formação de Artur Avila, primeiro brasileiro ganhador da medalha Fields. “Foi uma oportunidade muito particular que me foi dada, e lá eu tive contato com professores e os melhores pesquisadores que se poderia encontrar num ambiente pequeno e muito acolhedor”, declarou Artur.
Leia a reportagem completa:
Uma conta de chegada para o IMPA
A caminho de inaugurar a ampliação de sua sede, o renomado Instituto de Matemática Pura e Aplicada tem como meta aumentar as parcerias com a iniciativa privada. Ganham os matemáticos, ganham as empresas
Rafael Garcia
Ao completar 70 anos em 2022, o Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa) conta com um respeitável histórico. Uma das instituições acadêmicas mais bem-sucedidas do Brasil, sempre se destacou na produção de conhecimento mais abstrata, pura. O centro ao lado do Jardim Botânico, no Rio, formou Artur Ávila, primeiro brasileiro ganhador da Medalha Fields, maior prêmio para um matemático. Agora, o Impa dá novos passos para honrar a letra A em sua sigla, de aplicada.
O Impa está abrindo mais portas para parcerias com empresas privadas. Com a ajuda dos matemáticos do instituto, a rede de laboratórios clínicos Dasa desenvolveu um algoritmo usado em diagnósticos por imagem para calcular a carga de líquido amniótico no útero de gestantes. O trabalho ajudou a automatizar a interpretação de resultados de ultrassonografias e pode contribuir para a universalização de um exame sobre a saúde dos bebês.
O lado prático
No Impa, a disposição para esse diálogo aumentou mesmo entre aqueles que construíram suas carreiras na matemática dita “pura”.
– Sempre fui mais do lado das questões abstratas, sem me preocupar com as conexões com outras áreas, mas estou me interessando por elas. Tenho conversado, por exemplo, com pessoas da indústria farmacêutica – diz o dinamista Ávila.
Quando uma parceria é feita com a iniciativa privada, há um repasse de recursos feito ao instituto, e a propriedade intelectual do conhecimento gerado é negociada em contrato.
– É uma forma de ingresso de recursos para o instituto, mas o benefício é muito maior, porque estamos oferecendo aos nossos alunos uma formação muito prática – diz Marcelo Viana, diretor do Impa.
A interação da academia com o setor privado é essencial não apenas no plano pessoal para os estudantes, mas também para a sofisticação da economia brasileira. Para se adequar ao desafio, o instituto inaugurou no ano passado o Centro Pi, de Projetos e Inovação, voltado especialmente para esse tipo de parceria.
Por enquanto, o Centro Pi funciona em quatro salas diferentes dentro do próprio instituto, mas o espaço pode crescer após a ampliação do campus atual do Impa, que deve ficar pronto até 2023.
– A matemática aplicada deve ser feita num diálogo com quem aplica, conversando com quem está projetando um celular, desenvolvendo um software ou fazendo algum estudo estatístico. Não é possível você simplesmente se sentar e pensar “hoje vou criar uma aplicação para a matemática” – diz Viana, o diretor.
Renome internacional
O Impa é daquelas instituições brasileiras que despertam um genuíno orgulho. A excelência do instituto foi construída ao longo de quatro gerações de matemáticos. Seus cursos de pós-graduação têm conceito máximo desde que foram criados em 1964. De lá pra cá, 895 mestres e 549 doutores foram formados.
Quando avaliado pelo “fator de impacto”, uma métrica que conta citações a artigos para calcular a influência de cientistas e instituições, o centro brasileiro também se destaca. Segundo a base de dados MathSciNet, da Associação Americana de Matemática, os pesquisadores do Impa produziram em média mais que o dobro do que os da Universidade de São Paulo (USP) da mesma área, atingindo um nível equiparável ao de núcleos como os de Harvard e do Massachusetts Institute of Technology (MIT), duas das três melhores instituições de ensino superior dos Estados Unidos.
Esses indicadores de qualidade seriam suficientes para que pesquisadores do instituto se mantivessem enclausurados numa proverbial “torre de marfim”, vivendo de láureas e indicadores de produção acadêmica. Mas duas décadas atrás o Impa passou por uma mudança que, aos poucos, ampliou o escopo do instituto.
Um olhar para fora
Na virada da década, após o governo federal aprovar uma reforma administrativa, o Impa se tornou uma organização social (OS), uma categoria nova de instituição pública que lhe dava mais autonomia.
A mudança significava que pesquisadores poderiam ser contratados via CLT (regime de trabalho mais flexível que contratos de servidores públicos) e que concursos para preencher vagas de professor poderiam ser abertos ao mercado internacional. Por outro lado, o Impa passou a ter liberdade para prestar serviços a outras entidades que não o Ministério da Ciência e Tecnologia, ao qual era subordinado.
Outros cinco centros de pesquisa do Brasil foram criados depois com o mesmo status, mas a alteração não ocorreu sem turbulências. Os outros institutos eram novos; o Impa era a única unidade já existente do ministério que foi “transformada” em OS.
À época, alguns pesquisadores mostraram preocupação. Disseram que o governo federal poderia promover uma “privatização branca” de instituições estratégicas para o país. O tempo passou, e isso não ocorreu.
Entre os que defenderam a mudança esteve a biomédica Helena Nader, hoje presidente da Academia Brasileira de Ciências.
– Quando você vê hoje alguns outros institutos do MCTI que não são OS, eles têm pouca autonomia, e os recursos deles têm que vir todos da lei orçamentária. Isso dificulta muito a reposição de quadros, a captação de doações e outras coisas – diz a cientista, ainda que reconheça que a OS não seja a fórmula para todos os casos.
Medalha, medalha
Uma das primeiras iniciativas nascidas desde então foi a realização de uma Olimpíada de Matemática das Escolas Públicas, uma atividade patrocinada pelo Ministério da Educação (MEC). Essa competição (hoje aberta também a colégios privados) tomou uma dimensão inesperada e revelou talentos da área. Um deles foi o próprio Ávila, que após ganhar medalhas do evento entrou para a pós-graduação do Impa antes de completar o segundo ano do ensino médio.
– Foi uma oportunidade muito particular que me foi dada, e lá eu tive contato com professores e os melhores pesquisadores que se poderia encontrar num ambiente pequeno e muito acolhedor – conta o matemático que fez o doutorado junto com a graduação.
Hoje, Ávila divide seu tempo entre o Impa, onde leciona quando está no Brasil, e a Universidade de Zurique, na Suíça, que o contratou como professor.
A mesma flexibilidade que permitiu acelerar a carreira de alunos e contratos de trabalho flexíveis também viabilizou incursões em searas diversas. Uma delas foi uma parceria com a justiça eleitoral.
– Três anos atrás, recebi um telefone do então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ministro Luís Roberto Barroso – conta Viana.
– Eles iriam organizar as eleições de 2020 durante a pandemia e queriam nossa ajuda para evitar que a votação se tornasse um foco de contágio do coronavírus.
Com epidemiologistas, o Impa fez uma modelagem dos trâmites eleitorais que ajudou a projetar a logística de todo o processo, para minimizar ao máximo o número de contatos entre as pessoas envolvidas.
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