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05/08/2020

Arte dá inspiração a José Ezequiel na matemática

A inspiração matemática do mexicano José Ezequiel Soto Sánchez tem origem em desenhos de M.C. Escher e na literatura. “Sou um grande admirador do artista, que trabalhou muito com ladrilhamento do plano e de outras superfícies. Aos poucos, fui me aproximando de obras sobre arte islâmica e, no Festival da Matemática, em 2017, conheci a pesquisadora Asla Medeiros e Sá, que preparava uma publicação de ladrilhamentos inspirados no trabalho artesanal do pai”, conta o doutorando do IMPA, que constrói desde a graduação ferramentas para a construção e visualização de padrões. 

Na próxima terça-feira (11), às 11h, ele defende a tese “Sobre ladrilhamentos periódicos com polígonos regulares”, sob orientação de Luiz Henrique de Figueiredo e co-orientação de Asla Medeiros e Sá, da Escola de Matemática Aplicada da Fundação Getúlio Vargas (EMAp-FGV) por videoconferência. Haverá transmissão pelo canal do IMPA no YouTube.

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“Minha pesquisa trata de ladrilhamentos periódicos do plano com polígonos regulares”, exemplos frequentemente encontrados em cozinhas e banheiros. “Quadrados, triângulos e hexágonos regulares ladrilham o plano de forma conhecida. Além deles, são conhecidos um total 11 ladrilhamentos com apenas um tipo de vértice”, conhecidos como ladrilhamentos arquimedianos.

“Existem também outros vértices que não ladrilham o plano sozinhos, mas que podem ser combinados entre si para formar ladrilhamentos, no total são 15 vértices. Catorze deles podem ser combinados de diversas formas. A minha pesquisa está relacionada com a representação e a construção destes ladrilhamentos de maior complexidade. Foi desenvolvida uma representação simples baseadas em números inteiros, através da qual se tornou possível adquirir e classificar duas grandes coleções.”

Outro destaque da tese fica para a solução desenvolvida para enumerar e gerar os ladrilhamentos de forma sistemática. O método é inédito e o objetivo de Ezequiel é publicá-lo em breve. 

Ezequiel é mexicano, cresceu e viveu com a família na Cidade do México. “Foi uma vida simples de classe média, mas sempre estivemos rodeados de oportunidades para desfrutar a cultura e o esporte. Meus pais nos levavam com certa frequência a museus, concertos da sinfônica, ao teatro ou ao cinema. Em casa, tinha mais de uma enciclopédia, para consultar temas diversos, uma delas com conteúdos de nível superior em inglês, usava ela desde criança.” 

O pai do futuro doutor em matemática costumava envolver os filhos com enigmas e problemas matemáticos durante as viagens de carro. “Ele era bem firme, nunca revelava a resposta.” O livro de aritmética recreativa, de Yakov Perelman, era um dos passatempos favoritos de Ezequiel, especialmente nas férias de verão. “Também tive professores de matemática muito bons. No último ano do Ensino Médio, as disciplinas de temas específicos da matemática e cálculo foram muito interessantes. Naquele ano, desisti de vez da engenharia e tive o apoio de colegas para escolher a matemática.”

Antes de ingressar na universidade, Ezequiel atuou como professor em um projeto voluntário, por um ano, em uma comunidade indígena. A experiência abriu um novo campo de possibilidades em projetos educacionais e sociais. 

Em 2005, concluiu os estudos em matemática aplicada pelo Instituto Tecnológico Autônomo do México (ITAM), iniciando ao mestrado logo em seguida. “Só que acabei parando minha carreira acadêmica por muitos anos, me dediquei ao trabalho em consultoria de análise de dados para pesquisas sociais e para a formação de professores, desenvolvimento de currículo e materiais pedagógicos com uma instituição federal de educação intercultural no México, a CGEIB.” 

Oito anos mais tarde, depois de se mudar para o Brasil, retomou os planos de cursar o mestrado. Desta vez, em engenharia de produção pela UFRJ, onde se dedicou à pesquisa na área de educação. “Depois do mestrado decidi continuar os estudos, foi então que conheci o IMPA. Fiz o curso de verão e apliquei para o doutorado em computação gráfica. Não fui aceito de primeira. Em agosto de 2016, fui aprovado”, relata. 

“No início foi um desafio, mas consegui entrar no ritmo. A qualidade do instituto na sua formação, infraestrutura e pesquisa é altíssima.” Para ele, além dos aprendizados matemáticos, ficarão as redes formadas no meio acadêmico, em eventos de educação e a comunicação da matemática para o grande público. “Como os festivais, os eventos como IMPA de Portas Abertas, a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia… Tudo isso tem sido muito importante para mim. Também acredito que foi sorte ter coincidido o período no IMPA com o Biênio da Matemática, o que possibilitou as minhas participações como voluntário na Olimpíada Internacional de Matemática (IMO em inglês) de 2017 e no Congresso Internacional de Matemática (ICM), em 2018. O IMPA também me aproximou do Livro Aberto, um projeto muito querido com o qual continuo colaborando.

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