A falácia do jogador e a independência estatística
Nas respostas de um goleiro nos pênaltis de uma partida de futebol, nos investimentos no mercado de ações e até em decisões judiciais. Diante de importantes decisões profissionais e até mesmo pessoais, é comum tentarmos “calcular” a probabilidade de um acontecimento com base na quantidade de vezes que ele já ocorreu. Guiado pela falta de compreensão do conceito de independência estatística, este comportamento é conhecido como “falácia do jogador” e tem sido alvo de grande interesse para os pesquisadores que estudam jogos de azar.
Há cerca de 15 anos, no episódio que ficou conhecido como “Febre 53”, estes erros matemáticos levaram apostadores italianos da loteria à ruína financeira. Notando que o número 53 tinha parado de aparecer nas extrações de Veneza, os jogadores passaram a apostar cada vez mais nele, convencidos de que em breve deveria reaparecer. O número finalmente surgiu no sorteio em 9 de fevereiro de 2005, depois de 182 rodadas e quatro bilhões de euros em apostas.
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Um estudo realizado por pesquisadores chineses e americanos mostra que nem os mais instruídos conseguem escapar da falsa intuição. Pelo contrário, pessoas com QI mais alto são mais suscetíveis à falácia do jogador do que pessoas que obtêm menos resultados positivos em testes padronizados. Seja qual for o motivo para o fenômeno, o comportamento pode ter sérias consequências, principalmente nas profissões que exigem um julgamento justo e imparcial.
O artigo “Decision-Making Under the Gambler’s Fallacy” (Tomada de decisões e a falácia do apostador), publicado recentemente pelo economista de Yale, Toby Moskowitz em colaboração com Daniel Chen e Kelly Shue, analisou decisões dos juízes de Direito dos Estados Unidos de concessão ou não de asilo a refugiados. Eles descobriram que os magistrados tinham até 5,5% menos probabilidade de conceder o asilo em um caso se já tivessem concedido nos dois casos anteriores — um declínio da taxa média de aceitação de 29%.
Os julgamentos probabilísticos também podem ser feitos inconscientemente nos processos seletivos de contratação de uma empresa, por exemplo. Shue aponta que, se os entrevistadores já viram um bom candidato, eles podem fazer uma avaliação mais seca da próxima pessoa. O mesmo vale para professores que corrigem dissertações, afirma. Só uma boa dose de estudos de estatística e probabilidade para livrar nosso raciocínio, ávido para encontrar padrões no mundo, da falácia do jogador.
Fonte: BBC
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