OBMEP inspira e capacita professores
A mineira Maria Botelho deu aulas por mais de 30 anos na rede pública, a maior parte na escola Messias Pedreiro, em Uberlândia (MG), e foi premiada em todas as edições da OBMEP (Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas) em que participou.
Foram 303 medalhas e menções honrosas de 2005 a 2014. Após se aposentar, passou a comandar um grupo de resolução de problemas no Facebook e promove aulas e encontros entre antigos e atuais alunos do Ensino Médio do colégio, aos sábados. “A OBMEP fez a escola abrir as portas e janelas das salas de aula, aprendendo a valorizar as interações aluno-aluno, aluno-professor e aluno-pais-escola”, diz.
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A partir de 2012, motivado pelos resultados do colégio, um grupo empresarial da cidade criou o projeto “Maratona de Aprendizagem”, oferecendo bolsas de estudo para que os alunos envolvidos na OBMEP deixassem de trabalhar para se dedicar exclusivamente à escola. Desde então, a iniciativa se estendeu a outros colégios da região.
Criada pelo IMPA em 2005 para incentivar o estudo da matemática e descobrir talentos, a OBMEP tem contribuído substancialmente para o ensino da disciplina no país. Como escrevi semana passada, o impacto da Olimpíada e de seus programas de formação sobre os estudantes já foi comprovado em estudos, mas seu efeito como inspiração para os professores tem tido menos destaque.
E são eles, na maioria das vezes, que criam e multiplicam iniciativas de êxito pelo Brasil. Citei aqui Antônio Amaral (Cocal dos Alves, Piauí) e Geraldo Amintas (Dores do Turvo, MG) e hoje conto a história de Maria Botelho e mais dois professores com contribuições igualmente notáveis.
A OBMEP foi “um marco” na carreira de Maria e a fez “estudar e se capacitar mais”. Precisou aprender tecnologia e criar e adaptar metodologias para atender tanto os alunos mais avançados quanto aqueles com déficit de aprendizagem. “As oportunidades que tive minimizaram o desgaste de 40 aulas semanais, a indignação com os baixos salários, minhas deficiências de formação, a carência por cursos de aperfeiçoamento, além de camuflarem a falta de melhores condições de trabalho”, afirmou. “Os dez anos de experiência com a OBMEP me fazem defender a olimpíada como ferramenta pedagógica para ser usada com todos os estudantes, em sala de aula e em outros ambientes de aprendizagem.”
O pequeno município de Branquinha, com 10.586 habitantes, fica na Zona da Mata alagoana, a 60 km de Maceió, e tem um dos piores IDH do Brasil, 0, 513. Até 2014, suas 16 escolas acumulavam maus resultados em avaliações como o Ideb, OBMEP e Enem. Os alunos as faziam “por pura obrigação, sem interesse nem expectativa alguma”, de acordo com o professor Cicero Rufino.
A situação mudou radicalmente em 2015, quando Cicero lançou a iniciativa “Desenvolvendo e aplicando a matemática: um projeto voltado para produzir vencedores na OBMEP e elevar os indicadores sociais do município de Branquinha”, de que já falei nesta coluna. Nesse primeiro ano, já foram duas premiações; em 2016, mais oito; e, em 2017, o recorde foi batido novamente: 3 medalhas e 7 menções honrosas.
“O efeito da OBMEP na comunidade escolar tem proporcionado benefícios antes inimagináveis até mesmo para mim, que sempre fui um sonhador”, afirma Cicero. “Entre meus colegas de trabalho, há o consenso de que a OBMEP despertou o município em geral para o aprendizado. Os pais estão mais presentes no cotidiano escolar; os professores cada vez mais empenhados em preparar os alunos; e os meninos agora têm motivos reais para estudar”. Ele destaca o PIC (Programa de Iniciação Científica), que seus alunos medalhistas fazem na Universidade Federal de Alagoas, com bolsa de R$ 100, que também incrementa a renda familiar de famílias pobres.´
“A OBMEP transformou minhas abordagens em sala de aula. Antes, eu cumpria uma grade curricular que simplesmente não atendia as necessidades dos alunos. Hoje tenho instigado os alunos a pensar, raciocinar, traçar estratégias e definir caminhos lógicos para chegar às soluções.”
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