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23/09/2020

Não há caminho linear na pesquisa, diz Karen Uhlenbeck

Sorte, oportunidades bem aproveitadas e a presença em espaços acadêmicos onde pesquisar é tarefa prazerosa são alguns dos destaques da norte-americana Karen Uhlenbeck sobre sua própria trajetória. Ela foi a primeira mulher a receber o Abel Prize, em 2019, como reconhecimento ao trabalho em análise geométrica e teoria de calibre que transformou o cenário da matemática. 

Em entrevista transmitida durante a edição virtual do Heidelberg Laureate Forum, Karen compartilhou com Jaqueline Mesquita, professora da Universidade de Brasília (UnB), e com Janelle C. Mason, candidata ao doutorado em Ciência da Computação na Universidade Estadual Técnica e Agrícola da Carolina do Norte (EUA), experiências pessoais, dificuldades enfrentadas e uma dose significativa de ânimo científico, mesmo durante a imprevisibilidade trazida pelo coronavírus. 

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“Incertezas sempre estiveram pelo caminho. Filósofos estóicos de Roma, há dois mil anos, encararam problemas como os que encaramos hoje em dia. E é reconfortante saber que as pessoas já se sentiram assim antes”, destacou. Cinquenta anos depois de tornar-se PhD em matemática, Karen consegue observar diferenças relevantes no cenário acadêmico. “Há muitas outras mulheres cientistas e não estou nem um pouco perto de estar isolada, nesse sentido. Quando comecei a trabalhar, a academia era muito desconectada da vida real.” 

Inspirada por figuras como a escritora britânica Virginia Woolf, a vencedora do Abel Prize de 2019 descobriu já na infância e juventude o papel das mulheres intelectuais. “Elas também tinham dificuldades, mas eu pude ler e me conectar a esses impasses. Sabia que para mim também não seria nada fácil. Na matemática, as coisas ficaram ainda mais complicadas quando consegui, de fato, um emprego. Quando cheguei à faculdade, havia poucas professoras e elas estavam, muitas vezes, em posições inferiores aos homens. Achava que me tornar professora seria praticamente impossível. Não tinha modelos para me inspirar e achava que seria muito difícil ser, em algum momento, um modelo de inspiração para outras.” 

A professora emérita da Universidade do Texas, em Austin, e pesquisadora sênior visitante da Universidade Princeton e do Instituto para Estudos Avançados (IAS) vê o momento da escolha dos problemas matemáticos como uma etapa decisiva. “É provavelmente a parte mais importante de se fazer matemática. Todos os bons problemas que já trabalhei resultaram do contato com pessoas.” 

E, para resolvê-los, não existe fórmula mágica ou caminho linear a ser percorrido. “O processo para encontrar respostas é mais parecido com abrir um caminho na selva”, observou Karen. “Ir a alguns seminários, mas não a todos disponíveis, pois não é possível absorver tantas informações, e manter a mente aberta” também são algumas das estratégias que a pesquisadora pontuou, além de caminhadas esporádicas para elaborar as melhores possíveis soluções. 

Como fonte permanente de inspiração pessoal e encorajamento a outros pesquisadores, Karen gosta de lembrar do escritor, educador e líder comunitário afro-americano Howard Thurman. “Não pergunte o que o mundo precisa. Pergunte o que o faz você ganhar vida e vá em frente. Porque o que o mundo precisa é de pessoas que ganham vida.” 

Confira a entrevista completa!

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