Máquinas que sabem ler, ver e pensar
“Está acontecendo uma revolução no processo de aprendizado das máquinas”. Com essa frase, o pesquisador-líder do Visgraf (Laboratório de Computação Gráfica do IMPA), Luiz Velho, introduz o tema da oficina “Da palavra à imagem: imaginar futuros com inteligência artificial”, que acontece neste sábado (26), das 10h às 15h, na Casa Firjan, no Rio de Janeiro.
O workshop faz parte do Festival Futuros Possíveis, realizado entre os dias 25 e 26, no espaço que funciona no antigo casarão da família Guinle, no bairro de Botafogo, zona sul da capital fluminense. O evento, que tem como proposta gerar um debate e reflexão sobre as possibilidades de futuros que se descortinam com os avanços tecnológicos, terá ainda palestras, painéis e outras atividades.
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Ao lado de Velho, estarão Matteo Moriconi, formado em química pela PUC-Rio e presidente da Associação Brasileira de Tecnologia Visual, e Bernardo Alevato, designer e pesquisador de realidade virtual e aumentada, novas mídias e inteligência artificial.
A mudança de paradigma de que Velho fala é a evolução que ocorre na maneira de se produzir mídia e efeitos visuais por meio da inteligência artificial.
“Novos modelos de inteligência artificial conseguem juntar duas coisas que, antes, as máquinas entendiam apenas separadamente: a visão e a linguagem”, afirmou o pesquisador do IMPA.
Ou seja: um chip de computador é capaz de gerar uma imagem altamente customizada a partir da descrição de algumas palavras. “Uma pessoa chega e diz que quer uma imagem de um dia sol, com alguém na praia, em um estilo realista, como se fosse uma foto. Ao mesmo tempo, é possível pedir essa imagem como se fosse uma pintura de Picasso. A pessoa dá a descrição do que imagina, e a resposta é uma imagem”, explicou Velho.
“É como se a máquina entendesse como um ser humano, capaz de fechar os olhos e descrever uma cena. Ela compreende a estrutura da imagem e das palavras e é capaz de fazer uma conexão”, complementou o pesquisador do IMPA.
Na oficina na Casa Firjan, Velho mostrará os conceitos matemáticos que existem por trás desse aprendizado cognitivo das máquinas. Moriconi, por sua vez, apresentará plataformas que estão sendo usadas para a produção visual a partir desse novo conceito. Já Alevato fará uma projeção de que futuro nos espera a partir dessa revolução.
“Para os artistas, é uma coisa de louco. Será uma profunda inovação na forma de se produzir mídia e entretenimento. Algo que já está ocorrendo agora”, disse Velho. Além disso, o modelo terá aplicações em diversos aspectos da sociedade e do setor produtivo, da medicina aos serviços.
Velho aponta ainda que a evolução da inteligência artificial traz dilemas éticos que precisam ser considerados no processo de aprendizado das máquinas, pois elas podem gerar imagens a partir de um viés preconceituoso, por exemplo.
“A inteligência artificial é criada por dados gerados pela sociedade e reflete suas questões. Toda nova tecnologia traz debates éticos e políticos, como ocorreu, por exemplo, com a televisão. Quanto mais cedo falarmos disso, melhor, para que as inovações sejam mais benéficas e efetivas”, disse o líder do Visgraf.
Outra mudança de paradigma trazida pela nova tecnologia é a questão autoral. Para ilustrar esta matéria, Moriconi produziu dois conjuntos de imagens: um, com inspiração em Picasso; outro, mais realista. A autoria, no entanto, é do artista em parceria com a máquina, que é, neste caso, a plataforma Midjourney.
“A inspiração é do artista, mas a realização é feita em coparticipação com a máquina. No Renascentismo, por exemplo, Da Vinci tinha um assistente. É parecido agora, pois o computador também se torna um assistente, embora não possa substituir a criatividade humana”, afirmou Luiz Velho.
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