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16/10/2020

No MNCT, maratona de lives celebra a matemática e o IMPA

Fazer aniversário é sempre um momento especial, em que se pode olhar para conquistas feitas ao longo do tempo e fazer votos para o futuro. Em clima de celebração pela data em que o IMPA completa 68 anos, o diretor-geral do instituto Marcelo Viana trouxe os principais feitos históricos da instituição e apresentou planos para os próximos anos na abertura das lives transmitidas nesta quinta-feira (15), como parte da programação do Mês Nacional de Ciência e Tecnologia (MNCT). A iniciativa é do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e ocorre durante todo o mês de outubro, com atividades de mais de 27 instituições vinculadas ao ministério. 

Além dos eventos científicos anualmente organizados pelo IMPA, Viana destacou grandes iniciativas organizadas pelo instituto que têm como objetivo a divulgação matemática. “Como a organização do Biênio da Matemática 2017-2018, com a Olimpíada Internacional de Matemática e, no ano seguinte, fomos anfitriões no Rio do Congresso Internacional de Matemática (ICM). Naquele ano, também tivemos a alegria da inclusão do Brasil entre os 11 países que integram o grupo 5 da União Matemática Internacional”. O diretor-geral do IMPA destacou também o Festival da Matemática, realizado em 2017, e antecipou o convite para a volta do evento nacional em maio do ano que vem.

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“Como vocês puderam ver, é extremamente divertido. Quero convidar todos que gostam de matemática: venham fazer cursos no IMPA. E se não gostar, é com mais razão ainda porque podemos fazer com que vocês comecem a gostar”, propôs. 

Se você ainda não acredita que a matemática está em tudo e que ela pode ser divertida, Fernando Lenarduzzi pode te convencer do contrário com facilidade. O pós-doc do IMPA mergulhou no mundo dos games para provar que estratégia e pensamento matemático tem tudo a ver. “São situações em que você vai além das contas. O que eu digo quando você vai ter um pensamento matemático, embora não tenha percebido, é que você não precisa aplicar a matemática na hora de aplicar um pensamento matemático para resolver um problema, tomar uma decisão ou saber como argumentar.” 

É possível colorir um mapa com quatro cores de forma que países vizinhos não tenham as mesmas cores? “É um problema de um enunciado bem fácil, mas difícil de provar”, disse a professora Maria João Resende, da Universidade Federal Fluminense (UFF). Em sua palestra, ela abordou o “Teorema das quatro cores”, problema matemático da área de topologia que ficou em aberto por mais de 100 anos. Para solucionar o teorema, matemáticos usaram a teoria de grafos, que também pode ser aplicada para minimizar a quantidade de frequências diferentes de antenas telefônicas ou a quantidade de dias para época de exames escolares, explicou a professora.

Roberto Imbuzeiro, pesquisador do IMPA, abordou a relação íntima e retroalimentar entre  matemática e tecnologia, usando como exemplo o campo da inteligência artificial e da computação. “A relação é uma via de mão-dupla. A  matemática está intrinsecamente ligada ao desenvolvimento de novas tecnologias e a tecnologia está intrinsecamente ligada ao tipo de matemática que podemos fazer. A matemática também é ela própria uma tecnologia, no sentido de um conhecimento técnico específico que permite com que façamos coisas  melhores que no passado.”

Para ilustrar a relação estreita entre os dois campos, Imbuzeiro apresentou um panorama da computação, citando como ponto de partida máquinas de cálculo como a “La Pascaline”, primeira calculadora mecânica do mundo, projetada por Blaise Pascal (1623 – 1662). Ele também ressaltou as contribuições da matemática inglesa Ada Lovelace (1815 – 1852) para a área. “Ela fez essa observação profunda de que tudo que tem uma representação algébrica é suscetível de ser transformado em cálculo, e portanto pode ser processado em uma máquina de cálculo. O que significa que é possível raciocinar com máquinas”, explicou o pesquisador.

Em entrevista ao MCTI, Viana falou sobre o potencial extraordinário da matemática na geração de riquezas para a sociedade. “Se a matemática era a base da ciência e tecnologia no século 20, atualmente isso é mais verdade ainda. É impossível imaginar o desenvolvimento de inteligência artificial, de linguagem de máquina e mineração de dados sem a matemática.” Ele mencionou ainda estudos técnicos feitos no Reino Unido, Holanda, França e Austrália que mostram que profissões com alto teor de matemática geram entre 15% e 16% do PIB nesses países.

“No Brasil, isso significa que a matemática pode produzir R$1 trilhão por ano. É como se fosse uma mineração que a gente pode fazer sem afetar o meio ambiente, anualmente”, pontuou o diretor-geral do insituto. E o país já conta com um colaborador nessa missão. “Uma instituição como o IMPA, com sua história e competência comprovada, pode contribuir de maneira fundamental para alavancar o desenvolvimento da matemática do país, inclusive no nível do ensino.”

O diálogo entre a academia e a indústria, fundamental para gerar esse tipo de contribuição ao país, foi tema de debate com pesquisadores do IMPA. Paulo Orenstein e Roberto Imbuzeiro falaram sobre suas experiências como cientistas no setor industrial. “A interação com a indústria é fundamental não só para encontrarmos inspiração, mas para que possamos aplicar nossas ideias. Trabalhar em um problema que realmente afete as pessoas sempre foi muito importante para mim”, relatou Orenstein, que atuou em previsão climática no Google Research.

Iniciativas recentes do instituto buscam aproximar as duas áreas. “Em fevereiro, realizamos no IMPA o 1º Workshop Matemática e Indústria, que teve como objetivo aproximar instituições acadêmicas das empresas e servir como vitrine daquilo que a matemática pode colocar à serviço da atividade econômica”, lembrou Viana. 

Orenstein e Imbuzeiro também comentaram sobre a colaboração que fizeram recentemente com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ajudando-os a garantir a segurança sanitária nas eleições de 2020. “Avaliamos as soluções propostas pelo TSE para diminuir o risco de contágio de Covid-19 nas filas: aumentar o tempo de votação e separar um horário preferencial para idosos”, explicou Imbuzeiro. “É um problema complexo, que apresenta muitas variáveis porque cada seção tem suas características. A matemática e a estatística nos dão ferramentas que permitem que a gente emita uma opinião que não é só um palpite.”

Ainda dá tempo para comemorar os 68 anos do IMPA e conhecer temas interessantes da matemática! As palestras do instituto no Mês Nacional de Ciência e Tecnologia estão disponíveis no YouTube do MCTI.

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