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30/11/2023

Webinário discute progressos e desafios do jornalismo científico

 

O progresso e os desafios do jornalismo científico no Brasil foram alguns dos temas debatidos entre os vencedores da 6ª edição do Prêmio IMPA de Jornalismo, no webinário que foi ao ar no canal do YouTube do IMPA nesta quarta-feira (29). Bernardo Esteves (Piauí), Catalina Leite (O Povo) e Isabela Moreira (Revista Galileu), vencedores na categoria Divulgação Científica, conversaram com dois dos jurados do prêmio, Marcelo Viana, diretor-geral do IMPA, e Raphael Gomide, coordenador da Assessoria de Imprensa do instituto.

Os premiados destacaram que a criação de cursos de pós-graduação, a aproximação entre cientistas e jornalistas e a crescente valorização da área têm sido pontos fundamentais para garantir cada vez mais espaço nos veículos de comunicação. Nesta edição, as três reportagens vencedoras do concurso abordaram períodos pré-históricos, arqueologia e paleontologia. O diretor-geral do IMPA reforçou o quanto o jornalismo é fundamental para comunicar a ciência. “Que o Prêmio IMPA de Jornalismo possa contribuir para tornar cada vez mais comum o jornalismo científico nos veículos de comunicação. De modo particular, estamos muito satisfeitos com as qualidades das matérias que recebemos”, disse Marcelo Viana. 

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Primeiro colocado em Divulgação Científica com a reportagem “A volta do Ubirajara”, Bernardo Esteves, da revista Piauí, contou detalhes sobre o contrabando do fóssil Ubirajara jubatus para a Alemanha, em 1995. Descoberto na região da Chapada do Araripe, onde viveu há 110 milhões de anos, o holótipo foi devolvido ao Brasil somente neste ano, após uma campanha lançada nas redes sociais por paleontólogos brasileiros. Foi a primeira vez que os alemães aceitaram devolver um espécime. Ubirajara foi a primeira espécie não aviária de dinossauro encontrada com penas preservadas na América Latina. 

“É uma reportagem que tenta apresentar um olhar de síntese sobre esse episódio muito importante para a ciência brasileira. Foi a primeira vez que um país estrangeiro, no caso a Alemanha, devolveu um fóssil que foi contrabandeado do Brasil. Isso é um fenômeno que não é de hoje, os pesquisadores reclamam disso desde 1990, mas o vento tá virando. Estamos vendo um vento decolonial no mundo da ciência, no mundo dos museus e a história da devolução do Ubirajara capta esse momento”, comenta Esteves. 

O jornalista explicou ainda que a campanha pela repatriação do fóssil começou em 2020, após a publicação de um artigo científico sobre o Ubirajara. Para Esteves, a pandemia de Covid-19 colaborou para ampliar a atenção sobre o problema.

“Isso era um debate que ficava muito restrito ao meio acadêmico e, de repente, por uma série de fatores, que incluiu o fato de estarmos em uma pandemia, muita gente evitando aglomeração, muita gente no regime de home office, de repente, isso permitiu ampliar a atenção de todos que estavam fora desse mundo da ciência. O assunto saiu das fronteiras da ciência e da academia”, avaliou. 

Além da repatriação do fóssil, a campanha teve outros resultados, como a retirada do artigo científico do ar. 

Catalina Leite, segundo lugar com oEspecial Rastros Arqueológicos”, publicado no Jornal O Povo, explicou que a apuração da reportagem começou em uma viagem, durante o carnaval, para a Serra da Capivara – local com os primeiros registros da ocupação humana na América do Sul. A excursão realizada pela jornalista e pelo fotógrafo não tinha finalidade jornalística para os demais integrantes do grupo. No entanto, Catalina conta que todos contribuíram, de certa forma, para o resultado final. 

“Foi a primeira vez que viajei para uma pauta e menos perguntei. Fui ouvindo as pessoas, prestava atenção nos pontos que as deixavam mais curiosas e isso ajudou na construção dessa reportagem. Se tivesse ido com perguntas na minha cabeça, acredito que não teria ficado tão legal”, avaliou Catalina. 

O Especial Rastros Arqueológicos conta com três episódios e começa explicando o surgimento da cadeia montanhosa na região e destacando como era essa paisagem antes dos seres humanos. O trabalho aborda ainda como os sítios arqueológicos contribuem social, cultural e economicamente para as cidades que compõem a Serra – que é uma unidade de proteção ambiental.  

“Não muito tempo atrás, as pessoas tinham que estudar fora para fazer pesquisa de arqueologia. Agora, tem a primeira faculdade de arqueologia em São Raimundo Nonato (PI) [nas proximidades da Serra da Capivara, um dos principais sítios arqueológicos do país]. Além disso, definiram que guias têm que ser moradores, mas eles precisam se formar em curso técnico ou cursar a graduação. Existe uma cadeia organizada para garantir retorno para quem vive lá.” 

Isabela Moreira, terceiro lugar, com a reportagem A mulher do passado”, publicada na Revista Galileu, falou sobre a representação das mulheres na pré-história. A jornalista detalhou o trabalho feito a partir do livro “Lady Sapiens” que defendia a existência da igualdade de gênero e até semelhanças físicas entre homens e mulheres no período.  

“Na maternidade, por exemplo, as mulheres iam trabalhar com bebês em cestos. Um dos pontos importantes da reportagem é que a arqueologia começou a ter mais investimento sobre o papel das mulheres na pré-história quando as mulheres entraram nesse campo. Ou seja, quando elas começaram a fazer arqueologia. Foi muito legal poder entrar em contato com essas histórias e desmistificar estereótipos através de estudos recentes, realizados nos últimos dez anos”. 

Isabela aproveitou para destacar a importância do papel de mulheres jornalistas.

“Já tive situações na minha carreira de sugerir uma pauta sobre mulheres para um editor homem e ele responder que a proposta não tinha relevância, enquanto uma editora mulher oferece incentivo e destaque”, frisou a jornalista. 

No encerramento do webinário, Raphael Gomide enfatizou a finalidade da premiação. “O Prêmio IMPA de Jornalismo tem como objetivo, além de estimular a produção de reportagens de excelência sobre ciência, valorizar os jornalistas e a produção de reportagens fora do eixo Sul e Sudeste. Temos um olhar sobre diversidade e excelência em todas as áreas.”

O encontro com os vencedores da categoria Matemática está marcado para sexta-feira (1º). O webinário irá reunir Bruno Vaio (Superinteressante), Rafael Garcia (O Globo) e Bruno Romani (O Estado de S.Paulo), primeiro, segundo e terceiro lugares na 6ª edição do Prêmio IMPA de Jornalismo. O encontro também será transmitido pelo canal do YouTube do IMPA.


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