Navegar

29/02/2024

‘Matemática deve ser tratada como bem da humanidade’

Desde quando acordamos até quando adormecemos, é quase impossível passar uma só hora sem ter algum contato com a matemática, mesmo que da forma mais simples possível, mas apesar disso, muitas pessoas ainda continuam tratando a matemática como se fosse algo de outro planeta.

No Seminário “Contribuição da Matemática para a Economia”, realizado pelo o Itáu Social em parceria com a Folha de S.Paulo, especialistas em educação levantaram uma questão importante: “É hora da Matemática ser tratada como bem da humanidade.” O debate gerou uma reportagem no caderno especial da Folha sobre o evento, publicado no domingo (25).

Participante da mesa, Ya Jen Chang, presidente do Instituto Sidarta, defendeu que a matemática está presente na nossa vida desde sempre. “Existe um estudo que mostra que bebês com oito meses têm noção de probabilidade estatística… Mesmo não sabendo, somos todos matemáticos”, disse.

Apesar disso, o Brasil tem consecutivos resultados ruins no Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes). No exame de 2022, apenas 1% dos alunos tiveram nota 5 ou 6 na disciplina, consideradas ideais. A média da OCDE, entidade que reúne os países ricos e organiza a prova, é 9%.

É na fase do Ensino Básico que os estudantes se distanciam da matemática, dificultando todo o aprendizado nos anos seguintes, segundo Alex Sandro Gomes, líder do grupo de pesquisa Ciências Cognitivas e Tecnologia Educacional na UFPE (Universidade Federal de Pernambuco).

Leia mais: Folha: Heisenberg, Bohr e Einstein, confronto de gigantes
Junte-se a nós no Dia Internacional da Matemática
Folha mostra impacto da OBMEP na vida dos alunos

Os especialistas ouvidos na matéria apontam ainda que outro grande problema é que a matemática acaba sendo a matéria que os outros docentes menos têm contato, dificultando o entrosamento presente, por exemplo, entre geografia e história. 

Entrevista com Nobel de Economia David Card

Outra reportagem no caderno especial, traz entrevista com David Card, Nobel de economia sobre os desafios para a educação no Brasil. Para ele, o país deveria focar em resolver os problemas com a matemática no Ensino Médio para se desenvolver economicamente, e uma das sugestões de Card para isso, seria a Inteligência Artificial.

“É possível que (Inteligência Artificial) auxilie no ensino, no desenvolvimento de habilidades matemáticas. Há muitas pesquisas sobre isso agora. Uma máquina com IA pode interagir com outro computador e exibir um diagrama tridimensional, para que você possa ver como ele funciona e interpretá-lo. Presumo que assim a IA será útil na educação”, disse Card.

Falta de recursos didáticos e financeiros na formação de professores

Ao mesmo tempo, outra frente que deve ser resolvida é a questão da formação de professores e a falta de recursos. Assunto foi tratado na reportagem “Professores de matemática enfrentam falta de recursos didáticos e financeiros durante licenciatura” presente no caderno especial.

Segundo Estudo do Instituto Semesp (Sindicato das Entidades Mantenedoras de Ensino Superior) divulgado em 2022, o Brasil sofre um déficit geral de professores, sendo as áreas de exatas a mais afetada. 

Esse déficit pode ser justificado pela baixa remuneração e a desvalorização que esses profissionais sofrem. “Temos no Brasil uma cultura de desvalorização do professor, não somente o de matemática. De um modo geral, todos são financeiramente desvalorizados, em comparação às outras profissões”, afirma Rogério Grotti, professor de matemática no Instituto Federal Farroupilha, no Rio Grande do Sul.

Grotti, por outro lado, pontuou que existem aqueles que adentram no curso de licenciatura com certo gosto pela profissão, como Eloá Cristina da Silva Lemes, de 22 anos. “Eu decidi fazer matemática para mostrar sua beleza para as próximas gerações. Tem muita gente que vê a matemática com um olhar meio crítico por ela ser um pouco difícil, mas quero poder demonstrar a essência dela, que está em tudo na vida”, disse.

Leia mais: IMPA inova com evento simultâneo Brasil-França
De medalhista à professora do PIC: Deise Lava dá aulas no RJ