Navegar

07/08/2018

Tadashi Tokieda faz um convite à brincadeira

A xícara de chá de todo dia; as bolas de cedro perfumadas espalhadas no armário; o balão de papel colorido que enfeita o quarto das crianças. Nas mãos do japonês Tadashi Tokieda esses objetos banais ganham novos significados, que surpreendem e encantam plateias.

Leia também: Teoria de pesquisador premiado permite avanço na Medicina
Decano do ICM passeia pela história da Física Matemática
Mulheres: da desigualdade ao exemplo inspirador 

Na tarde desta terça-feira, ao apresentar “A matemática pelos brinquedos”, no Congresso Internacional de Matemáticos (ICM) 2018, o professor da Universidade Stanford (EUA) mostrou, mais uma vez, porque faz parte do grupo dos renomados divulgadores mundiais da disciplina. Foi a quarta palestra do Ciclo de IMPA-Serrapilheira de Popularização da Matemática.

Ao apresentar Tokieda, o físico Marco Moriconi, da Universidade Federal Fluminense (UFF), destacou a sua trajetória unusual – pintor no Japão, filólogo clássico na França, matemático na Inglaterra – e considerou que, além de  “fino senso de humor” e “olhar especial”, ele dá palestras “extremamente cativantes” – observação que a plateia presente pode comprovar 1h30 depois . “O trabalho dele tem sido crucial na disseminação da matemática”, ressaltou.

Após mostrar como o som da batida de uma colher na xícara muda de acordo com o ângulo escolhido, Tadashi mostrou como o movimento de pequenas bolas dentro de uma xícara muda “magicamente”, de acordo com o parâmetro da aglomeração. Se há poucas bolas, elas giram acompanhando a direção em que  xícara é movimentada. Se há muitas bolas, as direções se invertem.

“Em maior quantidade, a rotação é transmitida. O giro fica difuso e impulsiona o movimento geral. Se você continuar a aumentar o número de bolas, o movimento fica completamente congelado”, mostrou o matemático, que durante a apresentação usou uma câmara de vídeo para dar um close nos objetos utilizados nos experimentos e exibi-los em dois grandes telões.

Tadashi também surpreendeu com dois pequenos heptágonos vermelhos. “Posso garantir três coisas sobre eles: são feitos do mesmo material, possuem a mesma massa e a distribuição da massa é exatamente homogênea”, disse. No entanto, apenas um rola. A diferença entre eles é de apenas um centésimo de milímetro, que faz com quem haja um abaulamento, tornando os lados ligeiramente mais arredondados.  “Você tem de se convencer de que uma diferença tão pequena não seria capaz de causar um efeito tão grande”.

Ao fim da palestra, uma longa fila se formou. Todos queriam trocar duas palavras com o mágico Tokieda. Pedro Henrique de Lima, 15 anos, estudante do CEFET, ficou encantado. “O mais interessante é que ele usa objetos do dia a dia para mostrar conceitos de Física e Matemática”, declarou.

Turmas do Colégio Brasil-China, instituição pública bilíngue, de Niterói, também acompanharam a palestra. Entre os 90 estudantes, as amigas Mariana Mendonça, 17 anos, e Luiza de Oliveira, 17, gostaram particularmente da física presente nos experimentos. “Quero fazer astronomia”, disse Mariana, concluindo que os pesquisadores poderiam se preocupar também em divulgar seus estudos, como o japonês que ensina brincando, ou vice-versa.