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02/06/2021

Novo campus do IMPA é tema em audiência na Câmara do Rio

A construção do novo campus sustentável do IMPA foi tema de audiência pública na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, nesta terça-feira (1º). Participaram do encontro, realizado em formato virtual, o diretor-geral do instituto, Marcelo Viana; o arquiteto responsável pelo projeto, Vinicius de Andrade, do Andrade Morettin Arquitetos; e o engenheiro florestal Marcelo de Carvalho, presidente da Biovert, empresa contratada para a preparação do terreno. 

Conduzida pelo vereador Chico Alencar (PSOL), a audiência também contou com a participação do secretário de Meio Ambiente da cidade do Rio de Janeiro, Eduardo Cavaliere; do deputado estadual Carlos Minc (PSB), do vereador Pedro Duarte (Novo), representantes da GEO-RIO e de associações de moradores do Jardim Botânico e do Horto. Viana e os profissionais que participaram do projeto de expansão do instituto detalharam o processo de licenciamento das obras e responderam aos questionamentos dos participantes.

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Em sua apresentação, Viana explicou que o campus sustentável foi concebido com base em modelos de instituições de prestígio no exterior, como o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês) e a Universidade de Cambridge. A estrutura terá 67 gabinetes de pesquisadores, 7 salas de aula, auditório com 213 lugares, 4 salas de estudo, laboratórios computacionais, centro de processamento de dados, biblioteca virtual de 258m² e 129 unidades de habitação para estudantes. O diretor-geral contextualizou o cenário dos alunos de mestrado e doutorado do instituto, para quem os alojamentos são destinados. Muitos já vivem na região do Horto em condições não ideais por causa dos valores desatualizados de suas bolsas de estudo.

“Os estudantes do IMPA são de outros estados e países e vivem na nossa cidade, com o custo de vida elevado que ela tem, exclusivamente com bolsas de mestrado (R$ 1.500) e doutorado (R$  2.220)”, ressaltou.

O diretor-geral do IMPA pontuou que o processo de licenciamento para a construção do novo campus durou seis anos, foi sujeito a um controle rigoroso e está dentro “da mais estrita legalidade”. Ele esclareceu também que o instituto se atém a dois princípios: obediência da Lei e atendimento a fatos objetivos. 

“No que diz respeito a fatos objetivos, nós temos a SMAC, que aprova e concede a licença com base nas informações que ela recebeu, assim como a Rio-Águas e a GEO-RIO. Se essas entidades consideram que o empreendimento é adequado ao local, qualquer opinião pessoal de alguém que ache inadequado não passa disso.”

Sérgio Fontoura, engenheiro civil especialista em geotécnica e morador da rua Barão de Oliveira Castro, por onde será feito o acesso ao campus, questionou a logística da retirada do material da obra, que envolveria o transporte de 18 mil metros cúbicos previsto no corte do terreno. A informação foi corrigida pelo arquiteto Vinicius de Andrade. “Pelos números que está trazendo vejo que está falando de um projeto desatualizado. Depois das alterações que fizemos em função do diálogo com os moradores, o impacto ficou ainda menor. O número caiu de 18 mil metros cúbicos para 9 mil, rigorosamente a metade.”

Contenção das encostas

O diretor de licenciamento e fiscalização da GEO-Rio, Anderson Marins, destacou que a licença de obras concedida pela organização ao instituto inclui uma série de intervenções geotécnicas para mitigar pontos de instabilidade do terreno. “A solução apresentada pelo IMPA foi tratar alguns pontos de maneira localizada, como os pontos próximos à rua Barão de Oliveira Castro, e outros de maneira mais geral, com introduções de paredes de lanca”. Marins esclareceu que todas as questões sobre a geologia do terreno já foram levantadas com o IMPA, e a GEO-Rio tem acompanhado o projeto de perto. “São riscos que já existem hoje, independentemente da implementação do IMPA”, destacou.

A preocupação com a topografia acentuada do terreno esteve presente desde o início da concepção do projeto, explicou o arquiteto Vinicius de Andrade. O escritório contou com uma consultoria prévia de duas empresas de geotecnia habituadas a trabalhar com os relevos do Rio. “Os profissionais fizeram a conceituação, interlocução com a GEO-Rio e desenvolveram tecnicamente um arsenal muito interessante de soluções: muro de impacto em concreto com malhas de alta resistência, contrafortes chumbados, paredes ancoradas.” 

Andrade ressaltou que o objetivo das obras de contenção do IMPA é justamente dar a segurança geotécnica ao terreno. “Os contrafortes de ancoragens isoladas são para escorar os blocos de pedra que estão lá hoje, atualmente arriscando os moradores que estão a jusante da área.”

Ana Julieta Carneiro, representante da Associação de Moradores do Jardim Botânico (AMAJB), afirmou que a associação enxerga a construção do novo campus do IMPA como positiva para o bairro. “Esperamos que sejam muito bem sucedidos na execução do projeto e possam afinal ter condições ideias para continuar honrando a tradição de excelência do nosso país no seu ramo de conhecimento que tanto nos orgulha”. A moradora destacou que a obra do IMPA é uma oportunidade para resolver problemas hídricos e geológicos que já existem no terreno. “O que será feito do terreno se o IMPA não fizer todo esse trabalho de contenções de encostas?”, indagou.

Cuidados com a fauna e flora

O engenheiro florestal Marcelo de Carvalho, presidente da Biovert, empresa contratada para a preparação do terreno, esclareceu que apenas as árvores do terreno licenciadas pela SMAC estão sendo suprimidas. “Todas as árvores foram levantadas. Temos um inventário com todas as espécies definidas. Estamos suprimindo aquilo que foi autorizado. Nada além disso.” 

Eduardo Cavaliere, secretário de Meio Ambiente da cidade do Rio de Janeiro, destacou que segundo o parecer técnico da SMAC, boa parte da supressão de árvores no terreno é de jaqueiras, espécies exóticas invasoras. “É uma mobilização muito grande, antiga na Floresta da Tijuca, do avanço dessa espécie exótica. Tem uma questão de manejo arbóreo.”

A compensação ambiental será feita com o plantio de 4.250 mudas de espécies nativas da Mata Atlântica no terreno, disse Carvalho. “O objetivo é enriquecer o Parque Nacional da Tijuca, que é um patrimônio de todos nós, cariocas.” O engenheiro também esclareceu ao deputado estadual Carlos Minc (PSB) que o plano de manejo na área não se fez necessário, em função da proximidade da mata do terreno com a mata do Parque Nacional da Tijuca. 

“O processo de licenciamento aconteceu de forma absolutamente normal, não houve qualquer simplificação”, afirmou Cavaliere. O secretário também reforçou que a área da construção do terreno do IMPA não fica no Parque Nacional da Tijuca nem em sua zona de amortecimento, mas em uma Aparu (Área de Proteção Ambiental e Recuperação Urbana) do Alto da Boa Vista, o que implica em “níveis de proteção diferentes.”

O vereador Pedro Duarte (Novo) defendeu que a questão ambiental “merece todo o debate possível”. Mas questionou o motivo da resistência dos moradores do entorno ao projeto, recorrendo ao termo “Not In My Backyard” (Não no meu quintal, em português). “Muitas pessoas são favoráveis a projetos como bares, farmácias, residências, quando acontece em outro ponto da cidade.  Isso vale para uma reflexão sobre o que esperamos da cidade”, explicou. 

“Existe uma legislação ambiental que foi cumprida com licenciamento, averiguação do ICMBio, com todo o protocolo, todo o processo. Isso é o que importa para o debate. O IMPA não está acima da Lei, mas também não pode estar abaixo dela. Não podemos criar regras para além do que existe na legislação ambiental, que não pode ser casuística, nem pra menos, nem para mais”, ressaltou o vereador do Novo.

Legado para o Rio e o Brasil

Viana ressaltou o valor social do projeto do IMPA, e afirmou que ele trará benefícios e valorização para a vizinhança. “Torna essa região mais segura, do ponto de vista hídrico e geológico, e preserva no bairro uma atividade de educação, com função social.” O diretor-geral do IMPA comentou que a expansão do instituto é para que ele possa realizar e expandir ainda mais suas funções. “Atrair ao Rio de Janeiro os estudantes e pesquisadores mais talentosos do mundo. Dar valor para essa cidade, em um momento que, nunca é demais realçar, a ciência brasileira enfrenta a sua maior crise em décadas.”

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