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24/05/2021

No Livro Histórias Inspiradoras da OBMEP: Alex Sandro Santos

Criança, no interior do Piauí, o hoje doutor e mestre Alex Sandro Lopes Santos jamais imaginava que, futuramente, dedicaria sua vida à Matemática. Até os 17 anos, nem suspeitava que tivesse alguma aptidão para as ciências exatas. Era um adolescente de família simples, criado pela mãe, avós e tios. Até que descobriu que conseguia, com bem mais facilidade de que os colegas de escola, resolver os problemas
mais difíceis da disciplina.

“A Matemática surgiu na minha vida de forma natural. Eu mesmo não tinha percepção da facilidade que tinha. Apenas quando participei em 2004 da Olimpíada das Escolas Públicas do Piauí, espécie de projeto-piloto da Obmep nacional, foi que percebi que tinha jeito para a coisa. Fui quarto lugar no Estado e o primeiro na região,”, relembra Alex Sandro, professor do polo da UFPI (Universidade Federal do Piauí) no município de Picos, a cerca de 300 km da capital Teresina.

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Alex Sandro, de 31 anos, formou-se inicialmente em administração, em um curso a distância, e depois em Matemática pela Uespi (Universidade Estadual do Piauí). Em 2011, concluiu o mestrado pela UFPI. O doutorado em Matemática encerrou-se no primeiro semestre deste ano, pela UFC (Universidade Federal do Ceará).

O sucesso surpreendente obtido na olimpíada piauiense habilitou Alex Sandro a tentar avanços na Matemática. Ainda em Esperantina, sua cidade natal a 200 km de Teresina, participou das Obmeps de 2005 e 2006. Em ambas, conquistou medalhas de prata. Mais de uma década depois, Alex Sandro enxerga a participação nas Obmeps e a bolsa do Picme como fundamentais para sua carreira acadêmica. “A importância da Obmep na minha trajetória é muito grande. As Olimpíadas revelaram um potencial que até mesmo eu desconhecia. Mas não é só isso. Elas me proporcionaram explorar esse potencial da melhor maneira possível, com o Picme. Na época em que saiu o Picme, fiquei de certa forma frustrado, achando que só daquele momento em diante os medalhistas poderiam tentar ingressar na pós-graduação em Matemática com bolsa. Mas logo soube que todos os medalhistas anteriores poderiam, e agarrei a oportunidade”, conta.

Um dos profissionais incumbidos há 13 anos de preparar a olimpíada do Piauí, precursora da Obmep nacional, o professor João Xavier da Cruz Neto, do curso de Matemática da UFPI, lembra bem do desempenho e posterior integração de Alex Sandro ao cotidiano acadêmico. De acordo com Xavier, a carreira vitoriosa do rapaz é consequência da determinação com que se dedicou aos estudos. Esse empenho desenvolveu seu potencial para a matemática, acredita o mestre.

“Reunimos os 15 melhores alunos da olimpíada do Piauí e fizemos uma semana de estudos intensos de Matemática mais elevada em relação ao ensino convencional. Alex, desde muito jovem, já demonstrava uma aptidão tremenda. Conhecendo esse potencial, conseguimos que viesse para Teresina, assistir aulas presenciais, com bolsa de iniciação científica. Conversamos com a família dele. Eu mesmo fui a Esperantina na tentativa de convencê-lo a vir para a capital. E ele veio. Morou em república com estudantes do mesmo perfil. Passou certa dificuldade, mas conseguiu superar as adversidades”, relata o professor.

Alex Sandro conta que, de origem modesta, teve problemas de dinheiro quando chegou a Teresina. “Perdi meu pai ainda bebê. Minha mãe e eu fomos viver com os avós maternos. Morávamos dez pessoas, entre avós, primos e tias. O nível social da família era razoável. Não tínhamos luxo, mas também não passamos fome. Minha mãe recebia pensão de um salário mínimo, deixada por meu pai. Com esse dinheiro, investiu ao máximo em minha formação. Assim, não precisei trabalhar na infância e pude dedicar um tempo maior aos estudos. O período mais complicado foi quando fui para a capital, com a bolsa de iniciação científica de R$ 300. Depois, ingressei no mestrado, e as coisas melhoraram”, diz ele.

Alex Sandro é casado há cinco anos com Yane Francisca Sales Barros. O casal se conhece desde o colégio em Esperantina. “Ele sempre foi um bom aluno, um dos melhores da sala. Só começamos a namorar no final do Ensino Médio, quase quando foi premiado na Obmep. Acompanhei toda a trajetória dele, do ingresso na graduação até agora. A pior parte foi quando foi morar em Teresina, para dar continuidade aos estudos, porque lá ele podia explorar mais seu potencial. Aceitei porque era o melhor para ele e, futuramente, para nós. Daí em diante, não parou mais. Concluiu o mestrado em 2012 e ingressou no doutorado no mesmo ano. Tive que me adaptar a esse namorado estudioso e apoiá-lo”, afirma ela.

Yane orgulha-se “da pessoa que Alex Sandro se tornou através dos estudos, tendo aproveitado as oportunidades” e vê recompensado o sacrifício que os dois fizeram, inclusive de namorar à distância, “em nome do sonho de se tornar um grande profissional”.

Professor concursado, hoje Alex Sandro leciona Matemática no Campus Senador Helvídio Nunes de Barros da UFPI, em Picos. Ele poderia seguir a carreira em Teresina, mas optou pela possibilidade de formar estudantes de baixa renda. “Diria que o compromisso com o seu passado é o que mais destacaria na personalidade do Alex. Preferiu ficar em Picos porque quer desenvolver um trabalho com jovens simples, como ele. Para dar um exemplo da excelência do seu trabalho, cito a presença de graduados em Picos no mestrado em Matemática da UFPI. O mestrado foi criado em 2009. Até o ano passado, não havia ninguém de Picos. Este ano, já como reflexo do trabalho dele lá, são três os alunos matriculados no mestrado vindos do polo de Picos”, afirma o professor João Xavier.

*Texto retirado do livro “Histórias Inspiradoras da OBMEP

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