Navegar

11/06/2021

Landim: 'Não basta identificar jovens talentos, mas formá-los'

Para o diretor-adjunto do IMPA e coordenador-geral da OBMEP (Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas), o papel da competição não consiste apenas em “identificar jovens talentos, mas formá-los”, através de programas como o PIC Jr, por exemplo. A afirmação foi feita durante a live do jornal Valor Econômico desta sexta-feira (11). Conduzida pelo coordenador digital do Valor no Rio, Rafael Rosas, a transmissão contou também com a participação do pesquisador do IMPA e coordenador-geral da Olimpíada Brasileira de Matemática (OBM) Carlos Gustavo Moreira (Gugu). Na conversa, os pesquisadores falaram sobre a história, organização e impacto das olimpíadas brasileiras de matemática.

Desde sua criação, em 2005, a OBMEP desencadeou uma série de iniciativas que têm alcançado grande impacto na educação brasileira. O PIC Jr, por exemplo, do qual participam cerca de 7 mil medalhistas anualmente, oferece uma bolsa de estudos para que estudantes participem de aulas de matemática avançada em instituições de ensino superior, oferecendo-lhes novas perspectivas, pontuou Landim.

Leia mais: Letícia Mattos defende tese sobre combinatória
Expansão do IMPA é tema de artigo de Landim no Globo
Landim e Gugu vão falar sobre olimpíadas na ‘Live do Valor’

“O programa tenta estimular alunos talentosos a prosseguirem na carreira e almejarem entrar em uma universidade. Muitas destas crianças são as primeiras da família a ingressar no ensino superior, algo que não era uma perspectiva para eles. Participando do programa eles aprendem que existe esta oportunidade, que é um caminho natural.”

Por apresentarem problemas matemáticos criativos, que demandam uma combinação de ideias diferentes e um nível de criatividade “não trivial”, as olimpíadas de matemática apresentam aos estudantes a possibilidade da profissão de matemático, desconhecida para muitos deles, contou Gugu. “A ideia de que você pode fazer uma carreira em pesquisa matemática é exótica para a maior parte da população. Descobrir que a matemática é uma ciência viva e que você pode trabalhar em problemas em aberto é algo fascinante.” 

O coordenador-geral da OBM destacou que grande parte comunidade matemática internacional e brasileira escolheu sua carreira a partir da participação em olimpíadas científicas. “Certamente foi o caso do Artur Avila, o nosso Medalha Fields brasileiro. Ele começou fazendo olimpíada de matemática. Conheci o Artur quando ele tinha 13 anos, participando de um treinamento para olimpíadas internacionais porque tinha se destacado na OBM. Ele conheceu o IMPA, ficou encantado com os matemáticos profissionais e descobriu que ele podia fazer matemática a sério profissionalmente.”

Landim falou também sobre a organização da OBMEP, que movimenta cerca de 20 milhões de alunos de mais de 50 mil escolas anualmente. “Não é uma tarefa fácil. A primeira fase da olimpíada consiste em uma prova de múltipla-escolha, enviada pelos correios para as escolas, que aplicam e corrigem o exame. Já a segunda fase acontece em 9 mil centros espalhados pelo Brasil e conta com 54 mil fiscais. É um esquema de logística impressionante.” 

O diretor-adjunto do IMPA chamou atenção para o baixo custo da competição, garantido pelo IMPA com recursos do Ministério da Educação (MEC) e do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). “O que é extraordinário é que a prova custa menos de R$ 3,00 por aluno. O orçamento anual da competição é de R$ 35 milhões”, comentou.

O ingresso do Brasil no Top 10 da Olimpíada Internacional de Matemática (IMO, na sigla em inglês), em 2020, também foi abordado pelos pesquisadores. Gugu ressaltou que o país já havia conquistado medalhas de ouro desde sua estreia na competição, em 1981, mas os bons resultados costumavam ser esparsos. “Isso tem mudado de maneira muito consistente nas últimas décadas. A OBM passou por uma mudança grande a partir de 1998, um momento em que a comunidade matemática percebeu a importância das olimpíadas para a formação de matemáticos brasileiros e passou a dar um apoio mais institucional, processo que foi liderado por Jacob Palis.”

A live está disponível na íntegra no canal de YouTube do Valor Econômico:

Leia também: Na Folha, Marcelo Viana fala dos pioneiros da previsão do tempo
Dr. Luizinho e Victer conhecem IMPA e OBMEP em visita