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09/06/2021

Expansão do IMPA é tema de artigo de Landim no Globo

Reprodução do blog do IMPA Ciência & Matemática, de O Globo, coordenado por Claudio Landim

Claudio Landim – diretor-adjunto do IMPA

Criando mitos para ganhar votos, o caso da expansão do IMPA

Há momentos em que você se pergunta por que continua à frente de projetos que trazem tantos aborrecimentos.

Coordeno a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP) há exatamente dez anos. Com 20 milhões de participantes, atrevo-me a dizer que se trata de uma das políticas públicas em educação mais bem-sucedidas do país. Poderia citar exemplos de jovens profissionais de excelência descobertos e formados pela OBMEP [1] ou aludir a Cocal dos Alves (PI), onde os três médicos em atividade foram medalhistas da Olimpíada [2]. Mas não é este o assunto deste artigo.

Alguns dos alunos brilhantes identificados pela OBMEP, como a deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP) ou o secretário municipal de educação do Rio, Renan Ferreirinha, são absorvidos por boas escolas particulares através de programas agressivos de bolsas ou têm acesso a boas escolas públicas como os colégios de Aplicação e os Institutos Federais. A maioria dos medalhistas, entretanto, vive em pequenos municípios espalhados pelo Brasil, sem acesso a uma boa educação. Os programas de formação da OBMEP atendem a este público, ensinando matemática e estimulando estes jovens a prosseguirem seus estudos em universidades.

Leia mais: Dr. Luizinho e Victer conhecem IMPA e OBMEP em visita
No Livro Histórias Inspiradoras da OBMEP: Acássio Roque
Na Folha, Marcelo Viana fala dos pioneiros da previsão do tempo

Quando chegam ao ensino superior, metade dos medalhistas da OBMEP aspira a ingressar em um curso de engenharia. O ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) exerce um particular fascínio entre eles. Além de um sistema de ingresso muito competitivo e da garantia de emprego ao final do curso, as condições financeiras oferecidas aos estudantes permitem que jovens de baixa renda custeiem seus estudos.

Um terço dos medalhistas opta pelo curso de matemática na universidade. A reputação do IMPA, adquirida pela a excelência acadêmica e reforçada pela organização da OBMEP, torna o instituto um destino natural. Para receber estes alunos, vindos de todos os recantos do país, são necessários alojamentos e salas que o IMPA não possui.

A doação, em 2014, de um terreno contíguo ao IMPA tornou possível realizar este antigo e dileto projeto.

Desde o princípio, era claro que enfrentaríamos a resistência de alguns moradores. Enquanto a maioria perceberia os benefícios que a expansão do IMPA traria à área, outros se ateriam ao incômodo gerado por uma obra na vizinhança.

O que não prevemos foi a violência dos ataques. Não podíamos imaginar que alguns vizinhos, do elegante bairro do Jardim Botânico, orquestrariam uma campanha de desinformação nas redes sociais, similar às dos negacionistas e às da extrema-direita.

O IMPA é uma instituição pequena, somos 40 professores. A nos defender, só temos nossa reputação. Nada se fez nem se fará na obra que não tenha sido aprovado pelas autoridades competentes, em toda a transparência, no espírito republicano e dentro da estrita legalidade.

Mas surpreso mesmo fiquei quando políticos da esquerda, correligionários de tantas campanhas passadas, estes mesmos que deveriam estar na linha de frente na defesa da educação e da ciência – tão maltratadas ultimamente –, se tornaram os porta-vozes deste pequeno mas turbulento grupo, repassando, sem verificar, tantos embustes.

Poderia justificá-los alegando falta de informação, mas a direção do IMPA se ofereceu diversas vezes para encontrá-los. Escolheram o lado errado do conflito. Transformaram em “desmatamento” uma supressão arbórea, com replantio na proporção de 17 mudas nativas plantadas para cada árvore suprimida. Podem, assim, defender a bandeira da ecologia. Afinal, quem é a favor de cortar árvores? Nem você, nem eu. Criaram um inimigo imaginário para “épater la galerie” .

Na verdade, acabam por defender a causa de um pequeno grupo de moradores em detrimento de um projeto que promove a mobilidade social pelo ensino, cria oportunidades para jovens vulneráveis e melhora a qualidade do ensino da matemática no país.

Vindos de todo o país, os alunos vivem exclusivamente das bolsas de mestrado (R$ 1.500 mensais) e doutorado (R$ 2.200), não reajustadas desde 2013. E já moram na vizinhança do IMPA, mas vivendo em condições inadequadas, precisando dividir quartos com até quatro colegas, para o aluguel e a alimentação caberem na bolsa de dedicação exclusiva.

Por isso, às vezes, me pergunto por que continuo, obstinadamente, coordenando a OBMEP em vez de aceitar convites para trabalhar em Indiana, Lisboa ou Roma, me dedicando ao que realmente gosto, resolver problemas de matemática.

[1] http://obmep.org.br/listarHistoriasInspiradoras.DO

[2] https://www.youtube.com/watch?v=dDrQCpSMRFI

Para maiores informações:

[3] Detalhes sobre a obra https://impa.br/novocampus/

[4] Encontro com as associações de moradores
https://www.youtube.com/watch?v=8qOruBqphfE&t=6959s

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