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16/11/2021

História Inspiradora: Alessandra Yoko Portella

Qual a maneira mais rápida de somar o 9 a qualquer número? Basta subtrair 1 da casa das unidades e adicioná-lo à casa das dezenas. Parece complicado, mas, na prática, é muito simples, garante a carioca Alessandra Yoko, 25, que aprendeu a estratégia na infância. Na época, recorda, adorava “brincar de Matemática”.

“No primário, a gente fazia muitas contas. Era a época em que decorávamos a tabuada e tudo mais. Como eu gostava muito de fazer contas rapidamente, descobrir novas formas de conseguir isso me entusiasmava”, conta Alessandra, que se deixou maravilhar pelos desafios da Matemática ao longo da vida escolar e escolheu uma profissão na qual eles são uma constante.

Formada em Engenharia de Controle e Automação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ela fez um ano da graduação na Universidade da Califórnia Davis, como bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

Ao olhar para o passado, Alessandra, hoje na Radix Engenharia e Software – onde desenvolve projetos de automação –, dá-se conta de que, só uma vez, a Matemática foi motivo de dissabor. Tinha 6 anos quando um mal-entendido numa prova a fez ficar em recuperação na disciplina. Para comparecer às aulas de apoio, foi obrigada a fazer algo que evitava veementemente: acordar muito cedo. Mas a chateação durou pouco. Gabaritou os exercícios e foi imediatamente liberada no segundo dia do reforço.

A partir de então, a relação com os números estreitou-se. Alessandra percebeu que, quanto mais se aproximava da disciplina, mais capaz e poderosa se sentia. As primeiras demonstrações, envolvendo problemas simples, ganharam complexidade. Ao concluí-las, ela experimentava um misto de felicidade e orgulho.

“Sempre gostei e tinha certa facilidade com a Matemática. Mas meu interesse e fascínio aumentaram quando ela se tornou mais desafiadora. A sensação de crescimento e conquista ao estudá-la foi o que mais me motivou. É que eu percebi, ainda estudante, que, conforme você convive com a Matemática, seus desafios e teorias, você se vê cada vez mais capaz. Isso para mim era aumentar o ‘meu poder’. A Matemática sempre me mostrou que eu poderia chegar cada vez mais longe. E assim foi”, observa.

Formada em Direito, Raphaela Rodrigues Carvalho conhece Alessandra desde a 5ª série cursada no Colégio Pedro II, em São Cristóvão, zona norte carioca. Eram inseparáveis. Muitas vezes, a amiga a ajudou a se preparar melhor para as provas de Matemática. E acrescenta que, além de prestativa e companheira, Alessandra é divertida, dedicada, estudiosa e inteligente.

“Vê-la crescer desde o colégio, quando participava das competições de Matemática e tinha ótimos resultados, me faz ter orgulho da pessoa que ela se tornou. Alessandra sempre se dedicou para atingir seus objetivos”, diz Raphaela.

Facilidade de aprendizado

Nascida apenas um ano e cinco meses antes da irmã, a geóloga Andressa Yumi Portella esteve todas as fases da vida ao lado de Alessandra. Daqueles anos de escola ela lembra quando o pai foi chamado ao colégio para uma conversa inusitada: o problema não era dificuldade, mas facilidade demais de aprendizado. Para não desperdiçar o talento de Alessandra, foi aconselhado pela professora da Matemática a matriculá-la em cursos especializados.

Anos antes, as duas prepararam-se juntas para o concurso de admissão ao Pedro II – mais tarde, a irmã mais nova, Adriane, também ingressaria na unidade, onde cursa o Ensino Médio. A hoje engenheira de automação gabaritou a prova de Matemática, mas não conseguiu a vaga. “Passei primeiro e acredito que a estimulei a passar depois”, conta Andressa, revelando que o movimento inverteu-se em 2006, quando participaram da Obmep. Ela recebeu uma menção honrosa. A irmã conquistou a medalha de ouro. Andressa espelhou-se na irmã e, no ano seguinte, levou um bronze.

“Ela sempre se saiu bem com tarefas que exigiam soluções não tradicionais, como programação e raciocínio lógico”, revela a geóloga, considerando que, profissionalmente, a irmã é alguém “que trabalha incansavelmente até solucionar os desafios”.

Sobre a primeira Obmep, Alessandra lembra que gostou de fazer a prova, mas que participara “de forma inocente”. “Não tinha ideia de como mudaria minha visão em relação à Matemática. Achava que era, simplesmente, uma prova”. Foi uma surpresa quando o tempo do exame acabou e ela não havia solucionado todas as questões.

“Fiquei assim: como não deu tempo? Era algo que não costumava acontecer comigo no colégio. Lembro-me de ter saído da prova até meio zonza, porque fiquei totalmente concentrada. Na segunda fase, também.” O esforço rendeu o ouro e garantiu a participação em dois eventos muito motivadores: a premiação e a semana olímpica Obmep.

Alessandra ganhou mais duas pratas e tornou-se bolsista do Programa de Iniciação Científica (PIC Jr.), que considerou uma experiência enriquecedora. “No colégio, não era tão fácil encontrar pessoas que realmente gostassem de estudar Matemática nas horas vagas e que gastariam um tempo livre para tentar resolver algum problema.” Nessa época, tomou uma decisão: queria ser engenheira.

Em 2010, Alessandra e Andressa deram uma alegria dupla aos pais, a comerciária Maria Yumiko e o taxista Ronaldo Portella, ao passarem para a UFRJ. “Fizemos três cursos de cálculos nos mesmos períodos, e ela me ajudava nas questões mais difíceis”, diz Andressa.

As irmãs também se inscreveram no curso de Análise Real, pelo Picme. “Foi interessante e difícil, mas não chegamos a concluir porque tínhamos horário integral, e as aulas eram no turno da noite, terminavam às 22h. Era um pouco perigoso”, diz.

Retorno à sala de aula

Hoje, Alessandra trabalha frequentemente com sistemas supervisórios, usados para capturar e armazenar informações sobre um processo de produção. “Atuo com desenvolvimento da lógica ladder – linguagem para o controlador programável lógico que se comunica com os equipamentos do campo para receber dados e enviar comandos”, detalha, acrescentando que também tem experiência com o desenvolvimento de lógica em outras linguagens.

Alessandra diz-se realizada. Conta que a Matemática, que a fascina desde a infância, está presente em todos os projetos que desenvolve. “Tenho o trabalho que sempre quis, já que cada projeto é um novo desafio e uma prova de que fui capaz de fazer aquilo. Exatamente da mesma forma que a Matemática me incentivava a continuar.”

Ainda há um desejo que ela planeja realizar: voltar à sala de aula. Quando concretizá-lo, Alessandra pretende aprofundar os conhecimentos na Matemática e na engenharia na área biomédica. “É uma aplicação muito interessante e importante, capaz de salvar diversas vidas e aumentar a média de idade anual”, diz. A Matemática pode, sim, levá-la cada vez mais longe.

*Texto retirado do livro de Histórias Inspiradoras da OBMEP.