A inspiração de Katherine Johnson para futuras gerações
Levar o homem à lua, liderar estudos matemáticos e inaugurar espaços para incentivar e encorajar a participação de mulheres no campo científico. Feitos que entraram para a história e fazem parte da trajetória de Katherine Johnson, a matemática negra integrante do Centro de Pesquisas Langley da Nasa, nos Estados Unidos. Um ano após sua morte, suas realizações continuam inspirando futuras pesquisadoras e mostrando que a paixão pelos números pode ser algo incalculável.
Além do nome parecido, a estudante brasileira de graduação no Instituto de Tecnologia da Geórgia, Katarine Emanuela Klitzke, de 19 anos, também se diz encantada e motivada pelo brilho nas estrelas. Premiada pela Nasa em 2020, ela começou a carreira científica ao ser medalhista da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP) e não pretende mais parar.
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“Não tinha muita perspectiva de que seguiria por esse caminho, mas foi lá que me encontrei, que me apaixonei: na astrofísica e na matemática. Ao final do Ensino Médio, temos a ideia de que é preciso buscar uma carreira ‘padrão’, como medicina ou administração. Mas quando conheci a história de Katherine, percebi que, quando você é bom no que você faz e tem brilho nos olhos, você não fica precisa estar restrito a isso. Você vai além.”
O filme “Estrelas além do tempo” (“Hidden Figures”), de 2016, ajudou a popularizar esta ideia. A trama que concorreu ao Oscar conta a história do grupo de matemáticas negras da Nasa que impulsionou os Estados Unidos na corrida espacial durante a Guerra Fria e tem Katherine como personagem central.
Foi como Maria Clara Werneck, medalhista pela Olimpíada Europeia Feminina de Matemática (EGMO, na sigla em inglês), começou a se inspirar pela matemática por trás das viagens aeroespaciais elaboradas por Katherine. “Isso mostra como somos, de fato, capazes e a importância das aplicações dos números para o desenvolvimento da ciência.” São exemplos como esse que impulsionam e que devem ser propagados, defende a graduanda em matemática pela PUC-Rio.
“Primeiro, conheci o livro da escritora americana Margot Lee Shetterly, depois o filme de mesmo nome. Mas logo me interessei por aquilo que a Katherine representa. Sua paixão pelos números, a forma com que conseguia enxergar aplicações em meio a tantas equações matemáticas são profundamente inspiradoras”, destaca a divulgadora científica Ana Carolina da Hora ou Nina da Hora, como é conhecida.
Atualmente na corrida para se tornar cientista da computação, Nina lembra que, ao conhecer seus trabalhos, estava muito focada em algoritmos. “E ela me influenciou a rever, de fato, a matemática que estava por trás daquilo tudo”, aponta a jovem que participou do Curso de Verão do IMPA este ano.
Trajetória de Katherine Johnson
A carreira de Katherine como matemática começou cedo, aos 18 anos. Em 1952, ingressou na Nasa, onde atuou também como física e cientista espacial. Foram seus cálculos que ajudaram a missão Apolo 11 a ter sucesso e Neil Armstrong a pisar na Lua (1969), mas também os que estabeleceram a trajetória da primeira viagem ao espaço de um americano, Alan Shepard (1961). Em 1962, quando a Nasa começou a usar computadores para a missão em que John Glenn orbitou a Terra pela primeira vez, Katherine foi consultada para verificar os cálculos da máquina.
Há seis anos, ela foi reconhecida com a Medalha Presidencial da Liberdade, a maior condecoração civil dos Estados Unidos, pelos mais de 30 anos de trabalho na agência aeroespacial e pela inspiração a mulheres negras no país e no mundo. Katherine morreu aos 101 anos, em fevereiro de 2020.
“Ela significa muito para nós mulheres, em todos os sentidos. É símbolo de coragem, liderança, trabalho duro e inspira meninas por todo o mundo”, aponta Karina Tronkos, única brasileira a vencer por quatro vezes o concurso Swift Student Challenge, a conferência internacional da Apple para desenvolvedores. “Katherine foi pioneira, construiu um legado, sempre deixando muito claro que nós, mulheres, somos altamente capazes de alcançarmos o que desejamos. E se há limites para nós, esse limite é o espaço!”, celebra.
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