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14/01/2021

On-line, Curso de Verão chega ao Canadá e à Suécia

Os termômetros não ultrapassam a casa dos 0ºC na Suécia, mas o economista Daniel Klug pode dizer que, ao seu modo, está em pleno Verão. O clima em nada se parece com o mês de janeiro no Brasil, mas nem mesmo as baixas temperaturas foram suficientes para que ele perdesse o fôlego para participar do Curso de Verão do IMPA, adaptado para o formato on-line por conta da pandemia do coronavírus. Transmissão de aulas, troca de informações valiosas pelo chat do YouTube e quadros improvisados foram algumas das estratégias adotadas pelos mais de 4,4 mil participantes que não quiseram passar a temporada longe da matemática. As inscrições terminaram na última terça-feira (12). 

“O principal ponto positivo da edição on-line é o acesso às aulas por pessoas em qualquer lugar do mundo. Além de você poder levar o curso, até certo ponto, no seu ritmo. Temos obrigações, tarefas e entregas, mas temos a liberdade de assistir à aula novamente ou ‘gastar’ tempo em casa estudando”, considera Klug. 

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Fatores que também motivaram a participação do mestrando em matemática Igor Pinheiro. Desde o início da graduação, o paraense pensava em formas de participar dos famosos Verões do IMPA, no Rio de Janeiro, e só agora, de Vancouver, no Canadá, onde mora desde 2019, é que o sonho foi possível. “Fiquei sabendo que o programa aconteceria e seria remoto ao ver a publicação no Instagram do IMPA. Não pensei duas vezes e logo me inscrevi. É a primeira vez que participo e, se possível, não vai ser a última”, promete. 

Na última semana, Kaio Strelow e Cristiane Batista se tornaram colegas de classe, mesmo estando a mais de 2 mil quilômetros de distância. Do Paraná e do Tocantins, respectivamente, os dois assistem às aulas de “Análise na Reta”, rumo ao sonho que têm em comum. “Quanto mais a gente estuda, mais percebe o quanto há para aprender e quantas são as possibilidades de atuação. Quero trabalhar na área de ensino, de alguma forma, e com matemática”, aponta Strelow, que está na graduação. 

Perto de concluir o curso de Licenciatura em Matemática pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Tocantins (IFTO), Cristiane acredita que espalhar a matemática pelo mundo, como professora, pode gerar mudanças reais na vida das pessoas, o que é uma de suas motivações para seguir na carreira. 

Todo o esforço durante o Verão matemático será recompensado. É o que acredita Ana Carolina da Hora, ou Nina da Hora, como é conhecida pelas redes sociais. “Além do IMPA ser uma das referências na área, vi no Programa de Verão uma oportunidade de me aprofundar mais nos conceitos de álgebra e cálculos que, dependendo da forma que aprendemos na graduação, não instigam nosso interesse.” 

Para a cientista da computação em formação, visualizar algoritmos que geram polígonos em duas dimensões nas aulas de computação gráfica 2D tem sido pura “diversão”. E, no futuro, a moradora de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, espera propagar iniciativas que levem conhecimento digital a pessoas que ainda não têm acesso. “Quero criar um instituto de computação na cidade onde vivo. Vejo muito potencial nas pessoas e, às vezes, elas não têm oportunidade de se desenvolver ainda mais. Quero seguir na carreira da ciência, apesar de todos os problemas que enfrentamos no Brasil.”

Criatividade e improviso de professores incentivam interação nas aulas

Conhecido por bater um bolão nos campos do bairro do Horto, no modo off-line, Carlos Gustavo Moreira, o Gugu, também vem fazendo sucesso no campo virtual. A disciplina que ministra, “Análise na Reta” durante o Verão do IMPA, está entre as mais disputadas pelos alunos. 

“Participei como aluno e às vezes como monitor de 1998 a 1993. Como professor, estou desde 1996.” Para se adaptar à transmissão pelo YouTube, Gugu comprou um quadro, instalou em casa e adaptou uma mesa alta para apoiar o laptop, de forma que a câmera o filme. É dali que dá as aulas de “Análise na Reta”. “Os alunos fazem perguntas e os monitores me comunicam no Google Meet. São mais de mil pessoas assistindo”, conta. 

Quem também não abriu mão de improvisar um quadro para anotações matemáticas foi Campo Elias, doutor pelo IMPA. É da casa da família, na Colômbia, que Elias prepara as aulas. “Começo com comentários mais leves, já que nem todos os alunos estão na mesma etapa acadêmica. Há pessoas finalizando a graduação, outras já no mestrado ou doutorado. Em seguida, entro na parte mais ‘dura’ da ‘Introdução à Economia Matemática’. Acredito que isso venha ajudando bastante.” 

Em um blog, ele compartilha com os alunos todo o material que trabalha com os alunos. “Nos slides, há duas categorias de arquivos, uma com o documento ‘limpo’, sem rabiscos. Outra, com anotações pelo slide. Apresentações em Power Point nem sempre são suficientes para matemáticos. Nós gostamos de anotar, e tive que dar um jeito de manter isso”, diverte-se.

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