Folha: “Grace Chisholm Young, matemática e ‘esposa'”
Redução da coluna de Marcelo Viana na Folha de S. Paulo
Grace Chisholm (1868–1944) estudou matemática com William Young (1863–1942) na Universidade de Cambridge. Em seguida, foi para a Universidade de Göttingen, na Alemanha, onde obteve o doutorado em 1895, sob a direção de Felix Klein.
Sua tese trata da trigonometria esférica, ou seja, do estudo dos ângulos de triângulos numa esfera. No ano seguinte voltou à Inglaterra, onde se casou com seu ex-professor, William Young, a quem convenceu a se tornar também um pesquisador em matemática.
Sabemos que muitos dos trabalhos científicos de William foram feitos conjuntamente com Grace, embora não seja totalmente claro quais. A razão é que o marido não via com bons olhos a ideia de partilharem o crédito. “O fato é que os nossos artigos deveriam ser assinados por ambos, mas se isso fosse feito nenhum de nós se beneficiaria disso. Não. Agora, os louros e o conhecimento são meus. Para você, apenas o conhecimento. Atualmente, você não pode fazer uma carreira pública. Você tem os nossos filhos.” O casal teve seis filhos dos quais dois, Lawrence e Cecilia, se tornaram matemáticos.
O arranjo funcionou bem para William: ele se tornou um matemático renomado por suas contribuições à teoria da medida, à análise de Fourier, ao estudo das funções de variável complexa e outras áreas da matemática. Entre diversas distinções, em 1907 foi eleito membro da Royal Society, a academia de ciências do Reino Unido, e presidiu à União Matemática Internacional de 1929 a 1932, um período crítico na história da entidade: dilacerada pelas tensões geopolíticas, ao final do seu mandato a organização se dissolveu e teve que ser refundada após o conflito mundial.
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Grace falava seis línguas estrangeiras e ensinou cada um dos filhos a tocar um instrumento musical. A par da carreira como matemática, também obteve um diploma em medicina e ainda publicou dois livros de popularização científica para crianças (um deles explicando de onde vêm os bebês).
A morte do filho mais velho, Frank, piloto na Força Aérea Real britânica (RAF) durante a Primeira Guerra Mundial, foi um golpe duro que abalou a sua saúde. Em meados dos anos 1920, parou a sua atividade como matemática.
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