Coluna de Marcelo Viana: A matemática de Maryam e Marina
Três anos atrás, no centro de convenções Coex em Seul, preparava-me para assistir a uma palestra do Congresso Internacional de Matemáticos quando se sentou ao meu lado uma jovem matemática de cabelos curtos, parecendo muito cansada. Trocamos frases de cortesia, e ela deu mostras de me conhecer. Eu certamente sabia quem era ela: Maryam Mirzakhani, da Universidade Stanford, nascida no Irã em 1977 e primeira mulher a ganhar a medalha Fields, a distinção mais prestigiosa da matemática.
Num ano em que as Fields se destacaram pela diversidade –um brasileiro, um indiano, uma iraniana e um austríaco–, no Brasil focávamos em destacar a façanha de Artur Avila, o primeiro laureado na história a realizar todos os estudos em um país em desenvolvimento. Para o resto do mundo, era ainda mais notável que só então, pela primeira vez desde sua criação, em 1936, a medalha Fields tivesse ido para uma representante da metade feminina da humanidade.
Acompanhada pelo marido e pela filha de três anos, Maryam estava visivelmente feliz. O esforço para participar nas atividades, porém, era igualmente evidente. Sabíamos que lutava contra um câncer de mama, que quase a impedira de participar no Congresso. Não conseguiu apresentar sua palestra, mas os organizadores optaram por só anunciar o cancelamento após a sua partida, para evitar questionamentos inoportunos.
Do outro lado do mundo estava Marina Ratner. Judia nascida na União Soviética em 1938, ela emigrou nos anos 1970 para Israel e os Estados Unidos, onde se tornou professora na Universidade da Califórnia em Berkeley. Eu a conheci pessoalmente cerca de dez anos atrás, em uma conferência em Los Angeles. O também russo Vladimir Arnold afirmava que em seu país os alunos eram ensinados a “trabalhar duro e a provar teoremas que se tornarão pedras fundamentais da ciência”. Marina foi um exemplo dessa magnífica tradição.
Ao contrário da maioria dos matemáticos, que produzem seus melhores resultados muito jovens, Marina já tinha mais de 50 anos quando provou os espetaculares “teoremas de Ratner”. Eles afirmam que certos objetos matemáticos –os fechos das órbitas de fluxos unipotentes em espaços homogêneos– são extraordinariamente bem comportados. Os matemáticos usam a palavra “rigidez” para se referir a afirmações desse tipo.
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