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24/05/2019

Série de reportagens aborda ciência de ponta a ponta

Alexander Kellner será o próximo diretor do Museu Nacional Crédito: Bárbara Souza / CBN

Reprodução da Rádio CBN

Por Bárbara Souza – 3º lugar na categoria Divulgação Científica do Prêmio Impa-SBM de Jornalismo 2018

Viajar pra lugares onde poucas pessoas passaram e descobrir dinossauros, pterossauros e outros animais pré-históricos deve ser um trabalho incrível. Aventura digna de cinema! Só que não é bem assim que funciona na vida real.

“O que a gente faz? A gente vai pra região e começa a andar, andar e andar procurando fósseis. Depois que você encontra essas regiões, aí você começa a escavação. Geralmente você tem que acampar, as condições não são as melhores, tem que cozinhar… é aquela comida que se faz em acampamento… é bastante dura a vida do paleontólogo”, afirma o paleontólogo Alexander Kellner.

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Ele já viveu várias situações de risco, como essa caminhada de horas na chuva no meio do deserto:

“Eu fiz uma atividade de campo no deserto do Atacama. Na região que nós chegamos, o carro não pegou. E aí eu resolvi começar a andar, ali ninguém ia passar nunca. Confesso a você que eu não sabia o quão longe eu estava. Saí andando e, depois de oito horas, eu descobri que não ia chegar. E aí começou a chover. Eu consegui chegar numa estrada, pegar uma carona e ir resgatar meus colegas lá. Não foi fácil. As condições não eram as melhores, o carro não era 4 por 4, faltava dinheiro…”

É por essas e outras que, como professor, Kellner tenta garantir que os alunos não se arrependam da difícil decisão que é se tornar paleontólogo:

“Eu gosto do que eu faço, né? Tanto é que, quando tem um aluno novo, que a gente conversa sobre paleontologia, a primeira coisa que eu digo é pra ele mandar email depois de 48 horas. Porque eu sei que sou entusiasmado e acabo entusiasmando a pessoa. Se mandar antes, eu nem vou responder. É para ter tempo de refletir”.

Tanta empolgação tem refletido num grande avanço científico pro Brasil. O pesquisador já encontrou ou descreveu mais de 60 novas espécies de vertebrados fósseis pelo mundo. Entre as principais descobertas está o dinossauro mais bem preservado de que se tem notícia, com músculos e pelos fossilizados. No momento, Alexander Kellner está empolgado com o desafio que vai enfrentar no ano que vem: ele vai ser diretor do Museu Nacional, no Rio, sua segunda casa há 20 anos. 

“A gente tem que mudar o museu. Por que a população brasileira não pode ter um museu de história natural de grande porte, bacana como nos outros países? Por que só a elite pode viajar pra fora e ver esses museus fantásticos? Não há justificativa”, afirma. 

Uma das aventuras de Kellner não acabou muito bem. Ele foi preso injustamente em 2012, no aeroporto do Cariri, no Ceará, acusado de contrabandear fósseis. A Justiça já determinou uma indenização. 

Mas, nem só de fósseis vive um paleontólogo.

“Eu ando muito, pelo menos três vezes por semana, de 4 a 8km. É uma coisa que gosto de fazer. Eu faço trilha, meu próprio campo é trilha. Recentemente, eu resolvi fazer pilates”, conta Kellner. 

O rei dos pterossauros torce pro Fluminense e também gosta de samba. Em 2018, inclusive, ele vai comemorar o aniversário de 200 anos do Museu Nacional na Marquês de Sapucaí. A data virou enredo da Imperatriz Leopoldinense.

Confira aqui as outras reportagens da série.

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