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26/08/2020

Premiado na OBMEP concorre a melhor educador do país

Foto: Reprodução Site Educador Nota 10

Se Luiz Felipe Lins precisasse usar os números para contar sua história, poderia dizer que, aos 48 anos de idade, já passou mais da metade deles, 52% para ser preciso, em sala de aula, ensinando matemática. Os resultados são positivos. As turmas dos 7º e 8º anos do Ensino Fundamental para quem lecionou, acumulam mais de 650 premiações, entre medalhas e menções honrosas em competições matemáticas. Agora, o professor premiado pela Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP) celebra a conquista do Top 10 do Prêmio Educador Nota 10 e disputa, com outros nove profissionais da educação, o título de melhor do país.

“Em setembro, nossos projetos educacionais vão a júri popular, pela internet. Já no mês seguinte, nós vamos participar de uma apresentação final para os jurados do Educador Nota 10, para que decidam quem é o melhor profissional de educação de 2020”, conta com grande expectativa o único professor de matemática na disputa. 

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O anúncio de moradias populares próximo ao Colégio Municipal Francis Hime, onde atua em Jacarepaguá, zona Oeste do Rio de Janeiro, foi a fonte de inspiração para o trabalho inscrito no prêmio. Entre agosto e novembro de 2019, Luiz Felipe dividiu os alunos em grupos que se dedicaram a analisar uma planta baixa de imóveis, idealizar a construção de casas com direito a maquete e calcular áreas e custo para instalação de pisos. 

A turma mensurou a quantidade de argamassa necessária por metro quadrado e finalizou o orçamento. Apesar de imaginário, o projeto contou com preços reais. Os estudantes colocaram a mão na massa: consultaram preços na internet, visitaram lojas de construção, conversaram com pedreiros, arquitetos e engenheiros. 

“Reconhecer a integração entre geometria e outros eixos da matemática como agente transformador, que possibilita, além da construção de conhecimento, uma formação sociocultural e emocional do aluno, é gratificante para a profissão de professor”, celebra. Luiz Felipe acredita também que o projeto tenha contribuído para os alunos darem mais valor às casas onde moram e à família, ao lidarem com os custos do mundo real. 

Todo o trabalho ficou registrado em um vídeo, que reúne depoimentos dos estudantes. “Aprendi a lidar com problemas que acontecem em trabalhos em grupo e que a matemática é muito usada na construção de uma casa. Aplicamos a disciplina quando calculamos áreas e também quando usamos proporcionalidade para a maquete”, afirmou Adler Borges, aluno do professor. 

Quando soube que estava entre os premiados pelo Educador Nota 10, Luiz Felipe montou uma sala no Google Meet com os alunos para contar a novidade. Mesmo fisicamente distantes, parte dos 120 alunos vibrou como se estivessem todos juntos. A conexão à internet ainda está longe de ser realidade para as turmas e vem sendo um desafio para o período da pandemia. 

Na OBMEP, Luiz Felipe já foi premiado por 10 vezes. “Acho muito relevante o trabalho de nossa escola porque não temos um ou outro aluno que se destaca. Temos uma história na competição de ressignificar as coisas e ter um olhar diferenciado sobre os conteúdos. No ano passado, quando soube dos nossos medalhistas, me emocionei muito”, lembra. O professor conta também que, como a premiação da edição de 2018 da OBMEP foi em Salvador, os alunos passaram a usar a expressão “partiu Salvador” quando acertam os cálculos em sala de aula. 

“É um estímulo para eles!” e motivo de reconhecimento profissional para Luiz Felipe. Em setembro de 2019, o professor foi destaque do quadro Olha Essa História, do RJTV 2, da TV Globo. Na Revista Época, as 176 medalhas dos alunos conquistadas até 2017 também tiveram destaque. O trabalho feito pelo educador ficou registrado ainda como uma história inspiradora publicada no site do IMPA.

Com os R$ 15 mil que recebeu do Prêmio Educador Nota 10, o professor planeja retomar as aulas de robótica do projeto Meninas Olímpicas do IMPA, financiado pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), que incentivava adolescentes de escolas públicas do Rio a seguirem na ciência e tecnologia. O restante do dinheiro será usado em uma festa para comemorar a vitória com os alunos, que já até tem local definido, mas só acontecerá depois da pandemia. “A ansiedade deles e a minha também são enormes.”

Este ano, o Prêmio Educador Nota 10 tem representantes do Amazonas, Bahia, Distrito Federal, Pernambuco, São Paulo e Rio de Janeiro. Dos projetos campeões, cinco foram realizados com alunos do Ensino Fundamental, três com turmas do Ensino Médio, um de gestão e outro com crianças bem pequenas. Entre as disciplinas, dois são de Língua Portuguesa, um de Artes, um de Educação Física, Filosofia, Matemática Geografia e Física. Há ainda um sobre gestão escolar e um com crianças pequenas.

A Fundação Victor Civita realiza a premiação em parceria com Abril, Globo e Fundação Roberto Marinho, para reconhecer e valorizar professores da Educação Infantil ao Ensino Médio e também gestores escolares (orientador educacional, orientador pedagógico, coordenador pedagógico e diretor) de escolas públicas, privadas, filantrópicas de acesso público, rurais ou urbanas de todo o país. O Prêmio tem o apoio da Nova Escola, Instituto Rodrigo Mendes, Unicef e BDO, e o patrocínio da Fundação Lemann e SOMOS Educação. Desde 2018, o Prêmio Educador Nota 10 é associado ao Global Teacher Prize, prêmio global de Educação.

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