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26/01/2021

Pratas na OBMEP, irmãs avançam juntas na matemática

Irmãs Aisha e Aimê estudando juntas em casa

Se lançar em desafios matemáticos pode ser assustador. Mas com a ajuda de uma irmã, a empreitada fica bem mais tranquila. Medalhistas de prata na Olimpíada Brasileira de Matemática da Escolas Públicas (OBMEP) de 2019, Aisha e Aimê Santos Pereira compartilham, além dos genes, o amor pela disciplina, na qual avançam ano após ano. As irmãs foram as únicas estudantes de Mata de São João, município da Grande Salvador, na Bahia, a serem premiadas na última edição da competição.

A mais velha, Aisha, de 15 anos, lembra com alegria do momento em que a conquista foi anunciada. “Estávamos em sala de aula, e o professor fez uma pausa para buscar os resultados. Quando voltou, disse que a minha irmã tinha ganhado prata. Aí foi a maior comemoração, todo mundo se abraçando. Deu cinco minutos e ele anunciou que eu também tinha conquistado a prata. Foi uma festa!”

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A dupla-comemoração foi pavimentada por anos de colaboração entre as duas, que contaram com a orientação do pai, Islandio de Souza Pereira, para uma formação de qualidade em matemática. Tudo começou quando, no 6º ano do Ensino Fundamental, Aisha decidiu tentar o ingresso em um colégio militar da região. Profissional da área de construção civil, Islandio aproveitou a bagagem da graduação em Física, que cursava à época na Universidade Federal da Bahia (UFBA), para fornecer um treinamento sólido de matemática à filha.

Aisha na premiação da OBMEP, após conquista do bronze, com a irmã e a mãe Roseli

“Comecei a dar aula para ela em casa. Com apostilas, provas e livros, vimos todo o conteúdo do Ensino Fundamental quando ela ainda estava no 6º ano. Busquei dar uma educação mais formal da matemática, com definição, conceito e propriedade. A gente sentava, discutia os problemas e exercícios”, conta o pai das medalhistas.

Aisha acabou não sendo aprovada para o colégio militar, mas a recompensa pelo seu rápido desenvolvimento na matemática veio em forma de medalha de bronze na OBMEP de 2017. Motivada pela conquista da mais velha, Aimê, de 14 anos, que já espiava e participava timidamente dos encontros matemáticos entre o pai e a irmã, acabou trilhando o mesmo caminho. Em 2018, conquistou uma menção honrosa na sua estreia na competição.

Aimê e Aisha jogando xadrez quando pequenas

Desde então, as irmãs selaram uma parceria de estudos que vem rendendo bons frutos. A estante da família já soma duas medalhas de bronze e duas de prata. Sempre que possível, elas conciliam os horários para resolverem juntas os desafios do Programa de Iniciação Científica (PIC) Jr, que integram no pólo da UFBA.

“Sempre tive dificuldade de aprender sozinha, então ter alguém do lado para me ajudar é muito útil”, comenta Aimê. “Fica mais fácil resolver em dupla. Às vezes uma sabe melhor como resolver um problema , mas a outra é boa nos cálculos. Então uma complementa a outra”, completa Aisha. Responsável pelo pontapé inicial das meninas na matemática, o pai hoje em dia só interfere em caso de discussão. “Venho para intermediar, quando elas não entram em um acordo sobre a resolução de um problema. De resto, elas se organizam sozinhas e debatem entre elas.” 

Islandio, pai das medalhistas, ensinando matemática para Aimê

Tendo retomado a graduação em Física na UFBA em 2019, Islandio teve a oportunidade de compartilhar o campus da universidade com a filha mais velha durante seu primeiro ano como aluna do (PIC) Jr. “Estávamos na biblioteca  de Física e ela pegou um livro de cálculo e falou ‘pai, me sinto uma formiguinha aqui.’ São esses detalhes que me encantam. A grande questão da olimpíada não é a medalha em si, mas o acesso à universidade.” 

“Nós ficamos orgulhosos vendo o que nossas filhas conseguem. Quando éramos estudantes, não tinha isso, as oportunidades eram mais difíceis”, conta a mãe, Roseli de Novais Santos, que atua como pedagoga na Escola Municipal Áureo de Oliveira Filho, onde as meninas estudam. 

Aimê e Aisha com o pai, Islandio

Para Islandio, que foi um dos primeiros membros da família a ingressar na graduação, o desempenho das meninas nas competições olímpicas é um sinal de que as jovens “estão no caminho certo.” “Eu e a mãe dela não tivemos nada e conseguimos chegar na universidade. O que esperamos delas é que elas cheguem à melhor universidade do país, no mínimo”, revela, entusiasmado com o futuro das filhas. 

Prestes a completar o Ensino Fundamental, Aisha tem um novo desafio no horizonte. Sonha em cursar o Ensino Médio no Instituto Federal da Bahia. A longo prazo, ela pensa em aliar dois de seus hobbies, a matemática e o desenho, e ingressar na faculdade de Arquitetura. Interessada em automação desde pequena, Aimê se imagina trabalhando nas áreas de computação e tecnologia. 

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