Na Folha, o cometa Halley: relógio matemático do espaço
Reprodução da coluna de Marcelo Viana, na Folha de S.Paulo
Quando voltei ao Brasil para fazer o doutorado no Impa (Instituto de Matemática Pura e Aplicada), em 1986, um tema científico dominava as manchetes: a volta do cometa Halley. Havia enormes expectativas, justificadamente, para o regresso de um dos astros mais carismáticos do Sistema Solar. Houve até quem registrasse a marca Halley para tentar ganhar dinheiro com ela! No final, o astro passou meio longe e a aparição foi menos espetacular do que se esperava.
Mas, cientificamente, foi um evento histórico. Foi o primeiro cometa a ser observado por sondas espaciais, como a europeia Giotto, que confirmaram que está formado por uma mistura de matéria sólida e materiais voláteis, que dão origem à cabeleira (atmosfera) e à cauda do cometa quando que ele se acerca do Sol. E a volta do Halley mostrou, mais uma vez, o notável poder da matemática para descrever o que nos cerca.
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A história é longa. O primeiro registro confiável do Halley foi feito por astrônomos chineses em 239 a.C., mas é possível que já tivesse sido notado pelos gregos em 466 a.C. e ainda pelos babilônios, em 164 a.C. e 87 a.C. Acredita-se que a passagem de 1301 influenciou a representação da estrela de Belém na famosa “Adoração dos Magos” do pintor renascentista Giotto (daí o nome da sonda espacial que mencionei).
Mas demorou até que essas aparições fossem relacionadas. Cometas eram vistos como anúncios de fatos portentosos e chegaram a ser considerados fenômenos atmosféricos (o próprio Galileu Galilei defendeu essa tese). Com a publicação da lei da gravitação de Newton, em 1687, ganhou força a ideia de que seriam corpos celestes em movimento.
Em 1705, o astrônomo inglês Edmond Halley (1656–1742) observou que aparições de cometas em 1531, 1607 e 1682 ocorreram com intervalos praticamente idênticos e sugeriu que corresponderiam ao mesmo astro que, então, deveria voltar em 1758.
Os astrônomos franceses Clairaut, Lalande e Lepaute refinaram os cálculos usando as equações da gravitação de Newton. Suas conclusões foram brilhantemente confirmadas quando o cometa surgiu nos céus em abril de 1759. Halley não viveu para assistir.
O fascínio que os cometas continuaram exercendo na era científica está simbolizado na frase atribuída ao escritor norte-americano Mark Twain: “Vim com o cometa Halley em 1835 e espero ir com ele em 1910”. Morreu um dia após o periélio do cometa, ou seja, sua máxima aproximação do Sol.
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