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11/03/2021

Os trajetos não-lineares de João Fernando Nariyoshi

Percursos “não-lineares” já atravessavam a vida de João Fernando Nariyoshi, antes mesmo de entender o significado matemático desta classificação comum às equações. A escolha pela carreira profissional teve um caminho incomum: teologia, filosofia e física foram algumas das possibilidades que cogitou seguir. E só depois de uma breve passagem pelo curso básico de engenharia na Universidade de São Paulo (USP), decidiu se jogar definitivamente no campo matemático. Na sexta-feira (12), ele defende a tese “Lemas e aplicações de média de velocidade”, em busca do título de doutor pelo IMPA. A apresentação será transmitida no canal do IMPA no YouTube

No trabalho, Nariyoshi introduz um método capaz de estabelecer médias de velocidade para uma extensa classe de equações parabólicas-hiperbólicas. Em seguida, aplica tais lemas para provar novos resultados acerca de problemas não-lineares. E traz a contribuição de um método geral para se estudar problemas não-degenerados estocásticos, além de um estudo sobre a suavidade de soluções para um problema parabólico-hiperbólico. Para isso, contou com a orientação do professor Hermano Frid. 

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“As equações lineares são aquelas que satisfazem o princípio da superposição. Existe um lago com água, se você arremessa uma pedra, você forma ondas sobre a superfície. Se você joga outra em seguida, é como se a superfície da água fosse a soma das ondas. Mas isso não é necessariamente sempre verdade. Se você não jogar uma pedrinha, mas jogar uma rocha, é muito diferente”, explica. Em seus estudos, Nariyoshi partiu do contexto microscópico para o macro para desenvolver uma técnica matemática que pode ser aplicada a certos problemas, explorando o campo de comportamento de soluções. 

Desde o início da pandemia do coronavírus, em março do ano passado, o paulista deixou o Rio de Janeiro, onde viveu desde 2017, e seguiu para a casa do pai, em Brasília. “De certo modo, a mudança foi positiva. Demorei muitos meses para chegar aos resultados que obtive na tese. Foi um acúmulo de trabalho muito grande até chegar a uma coisa final, e realmente não sei se isso seria possível se estivéssemos no ritmo normal da vida. De alguma forma, posso dizer que a quarentena me trouxe foco”, explica. 

Nariyoshi cita ainda como inspiração uma lição que guarda do livro “Guerra e Paz”, de Liev Tolstói. “Um dos personagens, que havia sido prisioneiro dos franceses, considera que aprendeu muito mais no sofrimento do que na prosperidade. É evidente que a pandemia não é um bom momento para ninguém. Mas talvez seja um pouco por aí: estamos aprendendo muitas coisas.” 

Nascido em São Paulo, Nariyoshi passou a infância e adolescência na capital, mais precisamente na Vila Mariana. Durante o curso de engenharia na USP, percebeu que aproveitava mais as aulas de cálculo e de álgebra linear. Foi quando mudou de área. “Só se vive uma vez. Ali, apostei todas as minhas fichas na matemática. Ao final do curso, ganhou uma menção honrosa da universidade como melhor aluno da classe e já embarcou no mestrado, também pela USP, em matemática aplicada. 

“Na USP, segui com o mesmo orientador, o professor Orlando Lopes. Ele me ensinou quase tudo que sei de matemática e me recomendou a vinda ao IMPA. Eu achava que não seria bom o suficiente para estar no instituto, mas ele me encorajou bastante, e deu certo”, conta. 

Confiante, seguiu para o Rio de Janeiro, cidade até então desconhecida, para encarar o doutorado. “O IMPA é o lugar dos sonhos para se trabalhar e estudar. Como bom paulistano, não imaginava que haveria um ambiente assim no Rio de Janeiro. Na verdade, não acreditava que existia algo similar em nenhum canto do Brasil. Vou levar muitas saudades de tudo, inclusive do Beto, do restaurante do IMPA, de quem fiquei muito amigo.” 

E para os próximos anos, o futuro doutor prefere não se antecipar. “Se eu soubesse o que vou fazer nas próximas etapas da minha vida, eu já estaria fazendo agora, sem dúvidas”, exclama, bem humorado. Mas aguarda, com ansiedade, por resultados de bolsas de pós-doutorado. “Qualquer tipo de planejamento ficou inviável neste momento que vivemos. Mas também como está no livro ‘Guerra e Paz’, enquanto existe vida, existe felicidade. Há muita coisa pela frente, muita coisa.” 

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