Na Folha, Viana fala sobre a guerra da equação cúbica

Na segunda metade dos anos 1530, Girolamo Cardano ficou sabendo que um certo Niccolò Tartaglia, da cidade de Brescia, teria descoberto a solução de algumas equações cúbicas. Usando de truques, insultos, elogios e promessas, conseguiu convencer o outro matemático a visitá-lo em Milão, em 1539.

Durante a visita, Tartaglia revelou o segredo das equações x3+px=q e x3+q=px, mediante a promessa de que seria o primeiro a publicar. Mas, em 1542, Cardano descobriu que Scipione del Ferro, da Universidade de Bolonha, já sabia resolver x3+px=q décadas atrás. Considerou-se então desobrigado da promessa, e incluiu a solução dessa equação no seu livro “Artis Magnae”, publicado em 1545, atribuindo-a a del Ferro e Tartaglia.

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Este último ficou furioso, compreensivelmente, passando a atacar Cardano em seus escritos. Cardano não respondeu, mas seu jovem discípulo Ludovico Ferrari assumiu esse papel, atacando Tartaglia e o desafiando para um duelo matemático. Ele próprio dera uma grande contribuição à “Artis Magnae”: a solução das equações x4+ax2+b=cx (Rafael Bombelli mostrou depois que o método funciona para toda equação de grau 4).

Ferrari queria um duelo ao vivo, mas Tartaglia, que era gago desde a infância, insistia que fosse por escrito. Além disso, pobre, pedia que a aposta pudesse ser depositada na forma de livros, no lugar de ouro. Não tem como não simpatizar com o coitado…

Mas Tartaglia acabou acedendo a enfrentar Ferrari em pessoa e, mais ainda, na própria base deste, em Milão. Talvez tenha sido forçado pela necessidade, esperando ganhar dinheiro e fama caso vencesse o duelo. O encontro foi na igreja de Santa Maria, às 22h de 10 de agosto de 1548, e não sabemos bem o que aconteceu.