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17/05/2023

Folha: 'Abandonada a matemática, ficamos à deriva'

Ilustração: Freepik

Reprodução da coluna de Marcelo Viana na Folha de S. Paulo

Herman Melville nasceu em Nova York, em 1819. À morte de seu pai, homem de negócios malsucedido, teve que deixar a escola, com apenas 13 anos, para ajudar a sustentar a família. Em 1841 alistou-se como marujo num navio baleeiro: “Foi o meu colégio Yale e a minha universidade Harvard”, escreveu mais tarde.

Após várias viagens e uma estadia com a tribo typee, na Polinésia, voltou aos Estados Unidos e decidiu escrever sobre suas experiências no Pacifico. Seus primeiros livros, “Typee” e “Omoo”, iam ao encontro do gosto da época por relatos de viagem e tiveram sucesso.

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Mas o terceiro, “Mardi”, era mais denso e introspectivo e desagradou os fãs. O mesmo aconteceu com os livros subsequentes, inclusive “Moby Dick“, sua obra-prima. Melville morreu em 1891, esquecido e em relativa pobreza. Hoje é considerado um dos grandes escritores da língua inglesa e existe um periódico acadêmico, “Leviathan“, dedicado exclusivamente ao estudo de suas obras. 

Um traço curioso de sua escrita são as referências à matemática. Por vezes são conceitos elementares, como em “Moby Dick”, quando o capitão Ahab elogia seu grumete. “Tu és leal, garoto, como a circunferência é ao seu centro”. Outras vezes, a matemática é sofisticada. Sobre a lavagem dos potes de ferro em que são preparadas as refeições, comenta: “É também um local para profunda meditação matemática. Foi no caldeirão esquerdo do Pequod, com a pedra-sabão circulando diligentemente ao meu redor, que fui tocado pela primeira vez pelo fato notável de que, na geometria, todos os corpos que deslizam ao longo da cicloide, minha pedra-sabão, por exemplo, descerão de qualquer ponto exatamente no mesmo tempo”.

Onde e quando Melville, com seu histórico escolar quebrado, aprendeu sobre a cicloide, uma curva notável que só é ensinada em cursos avançados? Por que a matemática o impressionava tanto, a ponto de polvilhar suas obras com ideias matemáticas? Os biógrafos discordam.

Mas é provável que a resposta seja a mesma de tantas outras vocações: um bom mestre. Sabemos que aos 12 anos estava matriculado na Academia de Albany, a melhor escola do estado de Nova York, e que ganhou um prêmio por ser “o melhor da classe em criptografia”. Também sabemos que o professor de matemática e física de sua turma era Joseph Henry, um cientista respeitado, que veio a dirigir o reputado Instituto Smithsonian.

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