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04/04/2022

Estudar no IMPA é concretização de "um sonho distante"

O iraniano Reza Arefi, de 31 anos, não imaginava que um “mágico incidente” o traria ao Brasil. Depois de passar dois anos servindo ao exército do seu país e frustrado com a falta de perspectivas profissionais, o matemático recebeu um e-mail de um antigo orientador sobre uma vaga de doutorado no IMPA, e logo desembarcou no Rio de Janeiro. Quatro anos depois, o doutorando está prestes a finalizar esta etapa da sua trajetória com a conclusão da tese “Métodos de reflexão-circuncentrada para os problemas de viabilidade convexa e problemas de encontrar comuns de ponto fixo”. Orientado pelo pesquisador do IMPA Alfredo Noel Iusem, Arefi apresenta o trabalho nesta quarta-feira (6), às 16h, na sala 232. A defesa será transmitida no YouTube do IMPA. 

“Esse é um dos problemas gerais da matemática e existe um método clássico nessa área para resolvê-lo. Trabalhamos a partir deste método e conseguimos melhorá-lo para que a resolução seja muito mais rápida do que os métodos clássicos e igualmente eficiente. Estou muito feliz de saber que o resultado vai estar aqui para a posterioridade”, explicou o doutorando.

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Nascido na cidade de Malayer, no Irã, Arefi cresceu interessado por quebra-cabeças e problemas matemáticos. Dividia a paixão pelos números com os esportes, e acabou despontando também como atleta da turma. Só deixou as quadras no Ensino Médio, quando intensificou os estudos. O incentivo para pensar a matemática como carreira veio através de um professor, contou Reza. “Todos achavam que eu faria engenharia, até que tive um professor que falou que eu deveria trabalhar com matemática. Aceitei o conselho e fui seguindo, até chegar onde estou.”

O caminho até o IMPA não foi tão simples e linear para o iranino. Ainda enquanto aluno de graduação em matemática da Universidade de Malayer, ouvia falar maravilhas sobre o instituto, que sonhava em visitar. “Um dos professores da minha universidade conhecia o IMPA e praticamente o descreveu como um sonho quando contou para a gente sobre sua experiência no instituto. Um lugar dos céus, que naquele momento parecia um sonho distante para mim. Achava que nunca iria acontecer! E, mais de 11 anos depois, estou finalizando o doutorado com a honra de poder trabalhar e ter como co-autor o professor Iusem, um grande matemático” contou, orgulhoso. 

Seguiu para o mestrado em análise não linear no Instituto para Estudos Avançados em Ciências Básicas (IASBS, na sigla em inglês), também no Irã. Com o título em mãos, veio uma súbita mudança de planos. Arefi foi convocado a servir ao exército do Irã, e acabou se afastando da carreira acadêmica. A reaproximação veio com o convite para ingressar na pós-graduação do IMPA, que “mudou o rumo” da sua vida. “Conheci o professor Alfredo, um pesquisador muito famoso, em um seminário no Irã e enviei um e-mail para ele. Para a minha surpresa, ele me respondeu rapidamente de forma muito positiva. Naquele momento, era isso que eu estava esperando acontecer na minha vida! Nos dias difíceis, precisamos ter paciência e continuar trabalhando, dias melhores virão”, opinou.

Apesar da disparidade entre as culturas dos dois países, Arefi não exitou em aceitar a proposta. “Vim para o Brasil em menos de três meses. Foi uma virada de chave que mudou a minha vida da escuridão para a luz, de uma forma muito rápida!” A escolha trouxe como consequência uma vida em outro país e o aprendizado de um novo idioma. “No início, tinha certeza de que iria voltar ao Irã, porque tudo que havia aprendido em 26 anos era o oposto no Brasil. Mas agora, quatro anos depois, a certeza é de que quero ficar aqui”, afirmou. A decisão se deve,  em partes, ao suporte de sua namorada, Oriana Trindade, que viu de perto a dedicação do matemático ao doutorado. “Ela me apoiou muito e é mais uma das mágicas coincidências que aconteceram na minha vida. Me considero muito sortudo por isso”, disse.

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