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19/10/2022

Embaralhar cartas também é matemática, mostrou Diaconis

“Quem se importa?”, perguntou Persi Diaconis, pesquisador da Universidade de Stanford, a um auditório lotado de alunos e pesquisadores, na manhã desta quarta-feira (19). O questionamento sobre o embaralhamento de cartas, tema da palestra de Diaconis durante a Conferência IMPA 70 anos, arrancou gargalhadas do público. Com alívios cômicos como este, o pesquisador da área de estatística e matemática – que foi mágico profissional – levou todos a acompanharem, com atenção e curiosidade, o raciocínio sobre “aleatoriedade” nos jogos de baralho.

“As pessoas que misturam o baralho realmente se importam com quantas vezes elas devem embaralhar as cartas. Basicamente, mudaram as regras em Las Vegas por conta de um teorema que nós comprovamos! E, com certeza, vai estar escrito no meu túmulo que sete embaralhamentos são suficientes”, disse o pesquisador.

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Em 1992, Diaconis e Bayer mostraram que após sete embaralhamentos aleatórios de 52 cartas, todas as configurações são quase igualmente prováveis. Enquanto embaralhar mais do que isso não aumenta tanto a “aleatoriedade”, misturar menos faz com que o baralho esteja “longe” de aleatório. Agraciado com o Prêmio Rollo Davidson (1982), Gibbs Lecture (1997) e Prêmio Levi L. Conant (2012), o americano iniciou a palestra explicando que o tema pode interessar a quem estuda Cadeias de Markov ou faz simulações com algoritmos.

Roberto Imbuzeiro, pesquisador do IMPA, era estudante de mestrado do instituto quando conheceu Diaconis. “Persi é um matemático muito inspirador! Em 1999, ele deu uma palestra que foi um dos principais motivos para eu decidir estudar probabilidade. A palestra de hoje não deixou a desejar, foi muito interessante e misturou vários assuntos da matemática, desde a probabilidade, que é o acaso, até a teoria de grupos, que é a coisa menos ao acaso possível,  falando de simetrias. E, claro, com uma aplicação real curiosa, que é o embaralhar cartas, muito rico matematicamente”, afirmou Imbuzeiro.

Luna Lomonaco falou sobre o Conjunto Modular Mandelbrot

Dando continuidade a conferência, a pesquisadora do IMPA Luna Lomonaco falou ao público sobre o Conjunto Modular Mandelbrot que classifica o comportamento dos polinômios quadráticos e as correspondências holomorfas de um mesmo objeto que “podem ser duas coisas diferentes ao mesmo tempo, por um lado mapas e por outro lado grupos”, destacou. 

Miguel Ratis Laude, aluno de doutorado orientado por Luna, acompanhou com admiração. “Gostei muito da palestra! Acho que é um tópico difícil de introduzir para pessoas que não são da área, porque é algo muito específico da dinâmica complexa, mas sempre é prazeroso acompanhar o raciocínio e os desenhos bonitos ajudam”, comentou.

A pesquisadora, que deu uma breve pausa na amamentação para apresentar os resultados da conjectura, demonstrou ainda estar honrada em participar dos 70 anos do IMPA.  “Estou muito feliz, honrada e corrida, porque tenho passado a maior parte do meu dia no sofá amamentando”, disse bem-humorada. 

Além de mãe e pesquisadora, Luna foi a primeira mulher a receber o Prêmio da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM), que reconhece o melhor trabalho original de pesquisa da área. Em 2020, recebeu o Prêmio de Reconhecimento Umalca (União Matemática da América Latina e Caribe) pela atuação em sistemas dinâmicos. Outra conquista importante foi o Prêmio L’oreal-Unesco-ABC “Para Mulheres na Ciência”, em 2018, criado para promover a igualdade de gênero no ambiente.

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