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01/02/2022

Colóquio faz retrato dos avanços da matemática brasileira

Com palestras de divulgação e plenárias, cursos avançados e introdutórios, sessões temáticas e mesas redondas, o Colóquio Brasileiro de Matemática (CBM), traça, a cada edição, um retrato do cenário da matemática brasileira. O evento é tradicionalmente realizado pelo IMPA desde 1957, a cada dois anos, e se tornou a maior conferência da comunidade científica matemática do país. Mesmo conservando a sua essência, de formar e despertar jovens para a matemática e dar-lhes uma orientação inicial, o Colóquio se transforma a cada edição, acompanhando a evolução da matemática nacional e alcançando ainda mais pessoas.

Um dos principais legados do evento que, no ano passado, chegou à sua 33ª edição, é a produção de mais de 350 livros-texto originados dos cursos ministrados durante a conferência. O diretor-geral do IMPA, Marcelo Viana, conta que estas obras “deram origem a uma pujante literatura matemática produzida no Brasil”. Algumas delas resultaram em grandes obras científicas publicadas no Brasil e no exterior. “Os livros de Manfredo do Carmo sobre curvas e superfícies e variedades riemannianas, o livro de sistemas dinâmicos de Jacob Palis e Welington de Melo. O livro de Elon Lages Lima sobre grupo fundamental e recobrimentos. O livro de teoria ergódica de Ricardo Mañé. E tantos outros que são motivo de orgulho para a matemática brasileira”, destaca Viana. 

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Primeiras edições

Se hoje o Colóquio costuma reunir cerca de 1.000 participantes, seu início foi bem mais modesto. A primeira edição do evento foi realizada entre 1º e 20 de julho de 1957, no Palace Hotel, em Poços de Caldas (MG), e representou  um marco na contribuição do IMPA para o desenvolvimento da matemática brasileira. Em clima de aventura, cerca de 50 matemáticos de diferentes estados se deslocaram de suas cidades ao local, em uma época na qual não havia internet, celulares e outras possibilidades de comunicação. 

Participantes do 1º Colóquio Brasileiro de Matemática, em 1957

O pesquisador do IMPA Dan Marchesin, que chegou a frequentar algumas edições do Colóquio realizadas em Poços de Caldas, relembra que o clima do evento era de entusiasmo. “Era muito legal porque a gente passava 24 horas por dia no Colóquio. Talvez dormíamos, mas dormíamos no hotel, dividindo quartos com outros coloquiantes. Era muito intenso, socialmente além de matematicamente.”

A experiência foi tão marcante que mudou os rumos profissionais de Marchesin. “Iria me tornar físico e decidi virar matemático. Outras pessoas também me influenciaram. Mas o Colóquio pesa bastante, porque mostra a vitalidade da matemática brasileira e um pouquinho do que tem lá fora também”, compartilha. 

Internacionalização e pluralidade de temas 

Com o passar dos anos, a organização acompanhou a evolução da matemática brasileira e tornou o evento mais científico, através de uma internacionalização parcial da reunião. A partir da 19ª edição, a programação passou a contar com palestras plenárias proferidas por matemáticos de renome internacional, o que despertou o interesse de cada vez mais participantes.

O diretor-adjunto do IMPA, Claudio Landim, só conseguiu participar do evento em 1991, já como doutor. Mas não foi por falta de tentativa. O pesquisador conheceu o colóquio durante a graduação na PUC-Rio, quando começou a se interessar por teoria dos grafos e encontrou nos livros do CBM uma excelente monografia sobre o tema. “A PUC recebeu apenas duas bolsas para alunos e deu para outros colegas, então acabei não indo. Depois estava fora para o doutorado, então só consegui ir já como doutor”, relembra.

A espera valeu a pena. Desde sua estreia no evento, quando deu um curso sobre otimização estocástica, Landim ficou impressionado com a pluralidade de temas que a conferência reunia. “Geralmente você participa de conferências em que encontra colegas que trabalham na mesma área. O Colóquio é essa oportunidade que se tem de encontrar matemáticos de outros estados que trabalham em assuntos diferentes, e vão contar um pouco da experiência deles e mostrar como a matemática tem progredido em cada uma destas universidades.”

Corredores do IMPA durante o 31º CBM, em 2017

Transformações e expectativa para edições futuras

Transportado para a sede do IMPA, no Jardim Botânico, desde 1987, o Colóquio segue acompanhando as transformações da matemática brasileira e se reinventando diante dela.  Por causa da pandemia da Covid-19, a última edição do Colóquio foi realizada em formato virtual, em 2021, e alcançou ainda mais pessoas do que o usual, com cerca de 2 mil participantes. 

Pesquisadora do IMPA e coordenadora do 33º CBM, Carolina Araujo fala sobre o desafio de estar a frente de uma edição tão diferente das anteriores. “Não pudemos reproduzir de forma virtual a atmosfera vibrante proporcionada pela ocupação do IMPA por centenas de estudantes. Mas por outro lado, tivemos sucesso em aumentar a abrangência do Colóquio. Tivemos um público recorde de mais de 2 mil pessoas participantes, e muitas pessoas que não poderiam vir ao IMPA para participar presencialmente do Colóquio tiveram a oportunidade de aproveitar as atividades.”

E seguem aproveitando! As vídeo-aulas dos cursos seguem disponíveis no canal de YouTube do Colóquio. Lá, é possível conferir palestras plenárias de estrelas internacionais da matemática, como os vencedores da Medalha Fields Cédric Villani (Universidade de Lyon) e Martin Hairer (Imperial College de Londres); e da ganhadora do Prêmio Turing Shafi Goldwasser (MIT & Simons Institute for the Theory of Computing).

A expectativa para a próxima edição do evento, prevista para meados de 2023, é uma mistura de formatos, conta Carolina, que coordenará novamente a conferência. “Esperamos poder fazer o Colóquio presencial, e ver novamente o IMPA cheio de estudantes. Mas também pretendemos incorporar à programação alguns componentes virtuais, visando atingir um maior número de pessoas em todos os cantos do Brasil.”

Para a pesquisadora, que participa do evento desde 1995, o Colóquio é “uma forma de aproximar os jovens da matemática e de contribuir para uma comunidade matemática mais saudável e alegre. É uma grande celebração.”

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