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10/02/2023

Webinário discute desafios na cobertura da Matemática

Os desafios das coberturas jornalísticas sobre temas que envolvem matemática foram debatidos entre os vencedores da 5ª edição do Prêmio IMPA de Jornalismo, nesta sexta-feira (10), no webinário que foi ao ar no canal do YouTube do IMPA. Bruno Romani (Estadão), Stefhanie Piovezan (Jornal da USP) e Lucas Duarte Matos (TV Liberal, afiliada da TV Globo no Pará), conversaram com os jurados do prêmio, Marcelo Viana, diretor-geral do IMPA, e o coordenador da Assessoria de Imprensa e Conteúdo do instituto, Raphael Gomide. 

Os premiados destacaram que o principal desafio do jornalismo diante da matemática é explicar os temas de forma clara, precisa e muitas vezes sem imagens – o que é imprescindível em uma reportagem. O diretor-geral do IMPA reforçou o quanto o jornalismo é fundamental para comunicar a ciência e colocou o IMPA à disposição dos veículos de comunicação para ajudar no processo de “traduzir” a matemática. 

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“Sei, por experiência, que comunicar matemática não é fácil. Esse esforço do IMPA para promover a comunicação e a divulgação científica é porque constatamos que do lado da comunicação, por vezes, há receio de entrar em temas áridos. Por isso, reitero que parte da nossa função também é tornar o trabalho dos jornalistas mais acessível. Dentro da minha comunidade há a impressão de que os meios de comunicação não querem saber de ciência, e estou numa cruzada para dizer: ‘querem sim, mas precisamos ajudar’, porque comunicar ciência e matemática de modo especial não é simples e temos uma parcela de responsabilidade para que isso aconteça”, afirmou Marcelo Viana. 


Primeiro colocado

Primeiro lugar em Matemática, com a reportagem “Como a inteligência artificial revelou os segredos dos Beatles”, Bruno Romani, do Estadão, destacou o entusiasmo com o prêmio, antes de explicar o processo de apuração da matéria. “Um moleque que apanhava das matérias exatas, ganhar não apenas o 1º lugar do prêmio IMPA, mas ainda na categoria Matemática, já foi além dos meus sonhos”, disse o jornalista, ao abordar o uso de inteligência artificial e sua aplicação em algoritmos de “desmixagem” que revelaram conversas “escondidas” dos Beatles. 

A reportagem explicar o uso de inteligência artificial no isolamento de cada voz e instrumento musical gravados em conjunto, à época. Em Get Back, documentário dos Beatles, o uso da tecnologia recuperou conversas dos músicos ocultadas pelo barulho de instrumentos. “Quando eles queriam conversar nos estúdios, de forma privada, mas sabiam que estavam sendo gravados, faziam barulhos. O que Peter Jackson [diretor do documentário] fez, foi diminuir os barulhos [dos instrumentos] e aumentar as vozes, o que mostrou os diálogos por trás das câmeras.” 

Bruno, que além de jornalista é músico, explica que o desafio do jornalismo na área é comunicar o assunto de forma fácil. “Minha missão é  traduzir a tecnologia para todo mundo e não contar apenas para uma bolha. Se a minha mãe, por exemplo, entende o que estou falando, cumpri minha missão, se não entende tenho que voltar e apurar de novo”, explicou. 

Segundo colocado

Stefhanie Piovezan, segundo lugar com “Estudantes do ensino básico aprendem matemática e estatística confeccionando saias”, publicada no Jornal da USP, explicou como tópicos de estatística e geometria foram usados na confecção dos itens em sala de aula. A reportagem se inspirou na história de duas professoras cujas mães costuravam e que usaram esse conhecimento familiar para ensinar matemática. “O projeto levou meninos a confeccionarem e provarem saias. Ver uma sala de aula discutindo sobre diferentes corpos, além de mostrar pela estatística que os corpos desses jovens são normais e que a indústria usa outros padrões, é muito importante.”

Stephanie, que já recebera o Prêmio IMPA de Jornalismo em 2019, na categoria Divulgação Científica, disse que nunca imaginara ser premiada em Matemática. “Era uma ótima aluna, foi uma das graduações que considerei fazer, mas nunca pensei em ganhar pela dificuldade de escrever sobre o assunto.” 

Terceiro colocado

Lucas Duarte Matos representou a equipe da TV Liberal, terceiro lugar com Práticas pedagógicas têm no mundo virtual ferramentas para aprendizado de matemática e geometria”. A matéria mostra o uso da tecnologia no ensino de matemática e geometria, a partir do uso de óculos virtuais feitos de madeira miriti da Amazônia que conseguem transferir os alunos para “qualquer lugar do mundo”. A tecnologia permite também a interação com as imagens por avatares que representam os próprios alunos.

“Você pode usar o celular em uma plataforma e as crianças conseguem visualizar e viajar para outros lugares do mundo. As formas geométricas aparecem para elas e, dessa forma, elas vão recebendo o aprendizado”, explicou. Para Lucas, a conquista do prêmio foi motivo de orgulho ainda maior por se tratar de um tema regional. “Estamos muito felizes de poder divulgar a Amazônia e de mostrar esse projeto tão incrível”, disse.

Na quarta-feira (8), o webinário ouvira os premiados na categoria Divulgação Científica. Nádia Pontes, da Deutsche Welle, Natália Belizário Silva e Jéssica Maes, do Podcast Habitat da Folha de S.Paulo e Christina Queiroz, da Revista Pesquisa Fapesp, também dividiram com o público o processo de apuração das matérias vencedoras.

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