Navegar

23/07/2019

Visgraf cria site para comemorar aniversário de 30 anos

Karine Rodrigues

Em 1989, um minicurso inédito surgiu na grade de disciplinas do Programa de Verão do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA): “Introdução à Computação Gráfica”. A novidade lotou o auditório Ricardo Mañé e deu aos amigos Jonas Gomes, doutor em Matemática, e Luiz Velho, doutor em Ciência da Computação, a certeza de que estavam no rumo certo.

Jonas e Luiz trabalharam juntos no setor de pesquisa e desenvolvimento em computação gráfica da TV Globo e consideravam que a Matemática de ponta seria imprescindível para impulsionar aquela incipiente e maravilhosa área do conhecimento. A dupla ministrou o minicurso, idealizado juntamente com Paulo Cezar Pinto Carvalho, que regressara recentemente ao IMPA.

Leia também: Na Folha, os primórdios da informática da Holanda
Artur Avila faz palestra no ‘Meeting Brazil-France’
Evento no IMPA debate participação feminina na Ciência

O sonho de criar uma linha de pesquisa no IMPA dava, então, os primeiro passos. “Ele percebeu que havia um espaço aqui para fazer computação gráfica”, conta Luiz. A adesão ao minicurso apontou que o futuro seria promissor para o Laboratório de Computação Gráfica do IMPA, o Visgraf.

Embora afastado das atividades acadêmicas há cerca de 20 anos, Jonas, que integra o Conselho de Administração do IMPA, representando a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), acompanha o Visgraf.

“Ser cientista era um sonho, ser cientista empreendedor e criar um novo grupo de pesquisas é algo que vai muito além desse sonho. A concretização desse fato só foi possível devido ao ambiente aberto e de qualidade propiciado pelo IMPA”, relata Jonas, no texto em homenagem aos 30 anos do laboratório.

Turma do Visgraf em 1998, com Luiz  (1º à dir), Jonas (3º à esq.) e Paulo Cezar (atrás, de blusa laranja)

A julgar pelo que se vê no Visgraf 30 anos, as expectativas não foram superestimadas. O site é um tributo a todos os que contribuíram para tornar o Visgraf referência internacional. São cerca de 170 pessoas espalhadas pelo Brasil e pelo mundo em áreas de destaque, como ensino, pesquisa ou desenvolvimento.

“Decidimos comemorar os 30 anos com uma homenagem às pessoas que formamos e às pesquisas feitas aqui”, relata Luiz, coordenador do Visgraf, sobre o site.

Desenvolvido por Júlia Giannella, assistente de pesquisa do laboratório, o site convida o internauta a passear pela história do laboratório. Na área “People from Visgraf”, é possível encontrar informações básicas, como o período em que a pessoa esteve no IMPA, local onde vive e trabalha hoje, e-mail e foto atual. “Theses database” reúne todos os trabalhos realizados pelo grupo de pesquisa.

Para elaborar a trajetória do Visgraf, foi preciso uma busca cuidadosa para não desagradar quem faz a linha “low profile”.

“Fomos muito comedidos ao mandar as mensagens, para não incomodar ninguém”, diz Luiz.

Se mais de 50% das pessoas respondessem o formulário que solicitava informações básicas, o site sairia do papel, acrescenta Júlia,  Doutoranda em Design e Tecnologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

Com a primeira base de dados, ela criou a versão inicial do site, compartilhada depois com todos os integrantes do Visgraf. Foi o momento de pedir fotos e depoimentos. Com o material reunido, Júlia fez nova versão, para a qual desenvolveu um projeto de visualização de dados de todos os trabalhos de mestrado e doutorado defendidos por alunos do laboratório de 1990 a 2017. A ideia de conexão serviu de inspiração.

Projeto de visualização conecta pesquisadores e temas do Visgraf

“A gente queria conectar, ou melhor, reconectar todos os que já passaram pelo Visgraf. É possível visualizar no tempo a publicação das dissertações e teses, com os alunos, orientadores e co-orientadores, e os temas, as palavras-chave mais presentes. A visualização está em sintonia com a nova postura do IMPA de divulgar o que está sendo feito no instituto. De uma forma mais humana, mostrando quem são as pessoas.”

O site é o início da comemoração dos 30 anos. O que ainda virá é uma decisão que cabe às pessoas que já passaram pelo Visgraf. Para ouvi-las, foi criado um grupo fechado no Facebook. “Vamos pedir sugestões sobre como gostariam de festejar a data”, afirma Luiz.

Atualmente professor da Fundação Getúlio Vargas, no Rio, Paulo Cezar conta que a conexão dele com o Visgraf surgiu antes mesmo de o laboratório ser criado.

“Regressei ao IMPA em 1988, após um período de pós-doutorado em Cornell. Minha área de pesquisa no doutorado foi Otimização, mas nesse estágio de pós-doutorado comecei a me interessar por Geometria Computacional.  Em minha volta, organizamos um curso sobre o assunto, que foi o germe do grupo de Computação Gráfica do IMPA e do laboratório no Visgraf”.

Primeiro aluno de doutorado orientado por Jonas e pesquisador do Visgraf desde 2001, Luiz Henrique de Figueiredo considera que, já na criação, o Visgraf foi fundamental para consolidar a visão global de Computação Visual como a área que integra Computação Gráfica, Processamento de Imagens e Visão Computacional, no contexto de Matemática Aplicada Computacional.

“Nestes 30 anos, a liderança de Luiz Velho seguiu o pioneirismo de Jonas Gomes e mantém o Visgraf no primeiro plano de pesquisas inovadoras em computação visual e novas mídias”, destaca.

Também professor do Visgraf, Diego Nehab enfatiza a expertise do laboratório. Ele avalia que o Visgraf revolucionou a Matemática e a educação e trouxe os mais sofisticados sistemas em 2D e 3D, na parte computacional, com gráficos e modelagens. “Grandes empresas do mundo apoiam esse projeto”, diz ele, pesquisador do IMPA desde 2010.

Sobre a comemoração dos 30 anos, Luiz Henrique já tem uma sugestão: fazer no IMPA um evento no dia 1º de novembro para marcar a data, após o Sibgrapi 2019 (Conference on Graphics, Patterns and Images), que será realizado no Rio, de 28 a 31 de outubro.

Leia também: Matemática ajuda a prever risco de morte em cirurgia
Conheça os finalistas do Prêmio IMPA-SBM de Jornalismo 2019