Abelhas resolvem testes matemáticos sem usar números
A complexidade estrutural das colmeias e os diferentes níveis hierárquicos entre as abelhas já indicavam o quão inteligentes estes insetos podem ser. Mas um estudo recente realizado por pesquisadores da Universidade de Sheffield (Reino Unido) mostra que as abelhas também possuem capacidade cognitiva para resolver problemas matemáticos por meio de pistas visuais, sem usar qualquer número. A descoberta pode ser usada para criar máquinas mais sofisticadas de inteligência artificial baseadas no cérebro destes animais, que encontraram a maneira mais simples e eficiente de realizar uma tarefa.
Publicada em fevereiro na revista Proceedings of the Royal Society B, a pesquisa treinou abelhas individualmente para identificar cartazes com diferentes quantidades de formas. Um grupo de abelhas aprendeu a encontrar uma recompensa açucarada nos cartazes que exibiam o maior número de formas, enquanto outro grupo aprendeu a encontrar a recompensa açucarada nos cartazes com o menor número de formas.
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Quando as abelhas assimilaram a regra, elas foram capazes de identificar rapidamente o cartaz com o maior ou menor número de formas para encontrar a recompensa. Mais simples de serem computadas pelo cérebro dos insetos, as dicas visuais foram a forma mais eficiente que as abelhas encontraram para resolver a o teste.
Para confirmar que os animais não estavam usando pistas numéricas, eles foram testados com dois pares de cartazes que continham o mesmo número de desenhos, mas variavam em alguns aspectos, como comprimento da borda e distribuição espacial. Os pesquisadores observaram que as abelhas treinadas para encontrar o maior número de formas ainda voaram para os cartazes com mais variáveis, e aquelas condicionadas a encontrar os cartazes com menos desenhos partiram em direção aos com menos variáveis, independentemente do número de ilustrações.
“Isso não significa que as abelhas ou outros animais não verbais não entendam números, mas sugere que os animais usam propriedades não numéricas para resolver problemas matemáticos que costumam enfrentar caso estas informações estejam disponíveis. No entanto, esperamos que nosso estudo forneça uma visão sobre melhores métodos de exploração da cognição matemática em animais”, disse o professor da Universidade de Sheffield HaDi MaBouDi, principal autor do artigo, em entrevista ao site da instituição.
Usar números é uma capacidade cognitiva poderosa dos seres humanos que as abordagens atuais de inteligência artificial ainda conseguem replicar em sua total sofisticação. Como os animais costumam ser bons em encontrar soluções eficientes e inesperadas para problemas, descobrir quais de seus atalhos podem ser úteis para o desenvolvimento de máquinas autônomas é uma tarefa que vale o esforço.
De olho nesta potencial aplicação e empenhados em medir a eficácia da estratégia não numérica para as abelhas, os autores do estudo criaram um modelo baseado em detalhes conhecidos do cérebro deste animal. E os resultados foram positivos: o modelo conseguiu resolver outras tarefas numéricas semelhantes às da abelha sem processar números.
Fonte: Universidade de Sheffield
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