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28/07/2019

‘Participação de mulheres na Matemática piorou’, diz Paiva

Com a experiência de quem construiu uma trajetória invejável em quase quatro décadas, com trânsito na academia e no Vale do Silício, a brasileira Valeria de Paiva considera que a situação da mulher no âmbito da Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM, na sigla em inglês) ainda “é o fim da picada”. 

Convidada para dar uma das palestras especiais do Encontro Brasileiro de Mulheres Matemáticas, realizado neste fim de semana no IMPA, no Rio de Janeiro, a matemática deu uma entrevista ao IMPA e falou sobre as questões de gênero na ciência. 

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Citando dados de uma pesquisa realizada pela American Association of University Women (AAUW), Valeria observa que, nos Estados Unidos, a proporção de mulheres ocupadas nas duas áreas caiu entre 1990 e 2013: passou de 35% para 26%. Na Engenharia, o movimento até foi de crescimento, mas se deu de forma muito tímida, passando de 9% para 12%.

“Nos Estados Unidos, pelo menos, e acredito que as estatísticas daqui do Brasil não sejam muito diferentes, a situação piorou, se considerarmos, por exemplo, a Matemática e a Computação”, enfatiza a pesquisadora, que passou a se dedicar também às discussões de gênero na ciência na última década.

Na palestra que abriu a programação do segundo e último dia do evento, “From Pure Algebra to Applied Category Theory: a personal journey”, Valeria falou brevemente sobre sua trajetória entre o bacharelado em Matemática na PUC Rio, em meados dos anos 1970, e o trabalho atual, na Samsung Research America, onde ajuda a criar novos produtos usando a Inteligência Artificial. 

Antes de seguir para o Vale do Silício, foi pesquisadora da Universidade Cambridge e Universidade de Birminghan, no Reino Unido. Em Cambridge, por ter sido orientada por Martin Hyland, na tese “Dialectica Categories”, a pesquisadora tem como bisavô acadêmico ninguém menos do que Alan Turing  (1912-1954), considerado o pai da computação.

Especialista em Teoria das Categorias, área que trata de forma abstrata das estruturas matemáticas e dos relacionamentos entre elas, Valeria explicou, por exemplo, como a matemática pura orienta a computação por meio da Correspondência de Curry-Howard – na teoria da Linguagem de programação, ela é a relação direta entre os programas de computador e as provas matemáticas.

“O que eu faço é usar a Teoria das Categorias, considerada uma das áreas mais puras da matemática em aplicações em computação para banco de dados, computação quântica, semântica de linguagem natural e todas essas coisas que parecem muito disparatadas”, brincou. Segundo ela, “a joia escondida relaciona lógica com álgebra e computação de uma forma bem surpreendente”.

Recém-eleita, em maio, para a Academia Brasileira de Ciências (ABC), a professora titular da IME/USP Yoshiko Wakabayashi falou em seguida, sobre “Grafos e Otimização Combinatória”. Diante de uma plateia muito diversa, a pesquisadora, com doutorado na Universidade Augsburg (Alemanha), decidiu fazer uma palestra para pessoas sem muita familiaridade com o tema. 

Depois de explicar que os grafos são estruturas formadas por vértices e arestas que interligam alguns pares de vértices, indicando que existe uma relação entre os pares, Yoshiko fez um viagem ao passado até o ano de 1736, quando Leonhard Euler solucionou o problema conhecido como as Sete Pontes de Königsberg, na então Prússia hoje Rússia, considerado o precursor da Teoria dos Grafos.

“Na época, a população se perguntava será que dá para sair de uma região, passar pelas sete pontes e voltar à origem, sem repetir ponte alguma. O prefeito da cidade na época, escreveu a Euler explicando o problema”, detalhou Yoshiko, que apresentou à plateia outros problemas, como o do Carteiro Chinês e o do Caminho Mínimo. 

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