Obstáculos pouco visíveis para mulheres nas Ciências Exatas
Reprodução do blog do IMPA Ciência & Matemática, de O Globo, coordenado por Claudio Landim
Bruna da Silva Magno, estudante de mestrado em matemática na UFABC,
Carolina Araujo, pesquisadora no IMPA
Marcia Barbosa, é docente da UFRGS e diretora da Academia Brasileira de Ciências,
Natasha Felizi, diretora de divulgação científica no Instituto Serrapilheira
A professora titular Marcia Barbosa entra na sala de seminários de um evento de física e, como sempre, ela é a única mulher. Passados 30 anos de seu doutorado, ela deveria estar acostumada, mas a disparidade de gênero é como uma lesão antiga que incomoda em dias frios.
A área de Ciências Exatas, Tecnologia, Engenharia e Matemática (Cetem) no Brasil tem dentre os estudantes de graduação um percentual de mulheres em torno de 30% [1]. Família e escola são cúmplices em ensinar que destreza com ferramentas e foco são atributos masculinos, enquanto sensibilidade, cuidado e cooperação são qualidades femininas [2].
Leia também: No G1, presos retomam estudos e participam da OBMEP
As pesquisas de intenção de voto: Matemática e realidade
Aprender matemática pode e deve ser prazeroso
A matemática Carolina Araujo, única pesquisadora do quadro permanente do IMPA, também tem memórias doloridas de sua trajetória como mulher em Cetem. Ela lembra uma ocasião, quando, ainda recém-doutora, foi convidada a dar palestra em evento de ciência e tecnologia. Era a única palestrante mulher. Ela tomava café com colegas antes da solenidade de abertura quando o coordenador veio apresentar uma autoridade aos conferencistas.
Ao ser apresentado a Carolina, o senhor, muito distinto, perguntou ao coordenador se era sua esposa. Diante da resposta negativa, tentando reparar o constrangimento causado, o senhor disse que, em caso positivo, teria dado parabéns ao coordenador pelo bom gosto, oferecendo a Carolina um sorriso cortês.
Anos depois, em outro evento científico para o qual foi convidada como palestrante, os organizadores distribuiriam brindes aos participantes na cerimônia de encerramento. A distribuição seria feita por mulheres jovens da equipe de suporte. Carolina foi convidada a juntar-se a elas para ajudar na entrega dos brindes aos participantes, em sua grande maioria homens, saindo da condição de cientista convidada e assumindo o seu lugar de “mulher”.