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10/05/2021

No Livro Histórias Inspiradoras da OBMEP: Natally de Assis

É um mistério de onde surgiu a aptidão para a matemática, conta Natally da Silva de Assis, que, aos 22 anos, conclui este ano o curso de engenharia civil pela Unip (Universidade Paulista), em Goiânia. “Realmente, posso afirmar com muita convicção: não sei de onde veio essa facilidade”, afirma a medalhista de duas Obmeps.

Nem na família modesta, residente em Buriti de Goiás, município a quase 160 km da capital goiana, nem em professores da infância e da adolescência nem nos amigos mais chegados, Natally identifica alguém que a possa ter influenciado na trajetória estudantil e acadêmica dedicada às ciências exatas.

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Natally é a caçula de um casal de poucos estudos, mas de muita dedicação à família e empenho na boa formação dos três filhos – dois rapazes e ela. João José de Assis, de 54 anos, é praça da reserva do Exército e dono de um bar bem simples na cidadezinha (2.589 habitantes em 2016, de acordo com o IBGE). A mulher, Valdinair Natalina da Silva, já trabalhou em confecção e atualmente produz remédios naturais.

Assis conta que, desde pequena, a filha gostava de estudar e demonstrava talento nas questões de Matemática. Para ele, também é um mistério a origem da atração de Natally pelos números. “Não tem ninguém da família com esse dom. Quando vimos o quanto ela sabia de Matemática, tentamos incentivar de todas as maneiras. Mesmo assim, foi uma surpresa quando ela ganhou a medalha de bronze. Não esperávamos mesmo”, relata.

A constatação de que Natally tinha mesmo vocação para a Matemática veio com o sucesso logo na primeira das cinco Obmeps de que participou. A medalha de bronze gerou comoção em Buriti de Goiás, onde estudava no Colégio Estadual Januária Ribeiro Sobrinho.

“A conquista da primeira medalha foi muito gratificante. Tinha 12 anos. O colégio é pequeno, e só eu fui premiada na minha região. Houve muita festa! Fizeram uma faixa em minha homenagem em frente ao colégio. Isso despertou mais ainda o meu interesse pela Matemática”, recorda.

Desde nova, Natally tinha gosto pelos números. Costumava ter desempenho bem melhor na matéria do que em português, história e geografia, por exemplo. Nascida em Brasília, mudou-se para Buriti de Goiás aos 9 anos. Aos 12, conquistou o primeiro bronze em Obmeps. Depois, vieram mais uma medalha de bronze e duas menções honrosas.

Com as medalhas, habilitou-se a receber a bolsa de iniciação científica do Picme. Dois sábados por mês, era levada a Goiânia pelos pais para assistir às aulas do Picme, que duravam o dia inteiro. “O Picme foi muito interessante e me ensinou a olhar tudo em volta de outra maneira. Houve um enorme crescimento intelectual e como pessoa. Por três anos, participei do Picme, ainda no colégio. O Picme me despertou o desejo de me tornar conhecedora do mundo”, observa Natally.

Na faculdade de engenharia civil, a estudante teve o apoio do Picme por um semestre. A morte de um irmão a fez desistir do programa. Agora, após a formatura, Natally planeja dedicar-se ainda mais aos estudos, fazer pós-graduação e mestrado.

No que depender da previsão da universitária Maelisa Cállita Carmargo Silva, 21 anos, Natally ainda vai bem mais longe do que conseguiu alcançar até agora. Elas são amigas desde crianças. “Basta dizer que Natally foi aprovada em primeiro lugar no TCC (Trabalho de Conclusão de Curso). Recebeu a nota 10. Na turma dela de engenharia civil, foi a única a conseguir esse feito”, comemora Maelisa.

Para a amiga, além do talento e da inteligência, Natally tem outros atributos que a qualificam para um futuro brilhante na profissão e na vida pessoal. “Ela sempre se destacou, principalmente na Matemática, é muito dedicada ao trabalho. Além disso, é uma pessoa incrível, fantástica, bonita, inteligente.”

Natally faz estágio no Crea (Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura) de Goiás. No momento, seu foco é o estudo intensivo a fim de prestar um concurso público. “A parte administrativa também me interessa muito, embora não tenha muito a ver com Matemática. Se for aprovada, irei para onde tiver que ir. Quem sabe, Brasília, onde nasci e de que gosto muito”, afirma ela.

Como lazer, Natally destaca a música. Adora os artistas sertanejos e pop, especialmente o cantor Tiago Iorc, e o cantor goiano Cristiano Araújo, morto em um acidente de carro há dois anos. O casamento está em seus planos. “Não queria casar, não. Até o momento em que perdi meu irmão mais velho (Cléber Roberto de Assis, que hoje teria 32 anos). Fiquei muito mais família. Passei a considerar a família unida como coisa fundamental. Se eu pudesse casar, casaria hoje”, afirma ela, que não tem namorado.

*Texto retirado do livro “Histórias Inspiradoras da OBMEP

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