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29/03/2021

No Livro Histórias Inspiradoras da OBMEP: Marcus de Oliveira

Matemática é treinamento. Foi com essa certeza, e praticando muito, que Marcus Vinicius de Oliveira ganhou duas medalhas na Olimpíada Brasileira de Matemática de Escolas Públicas (OBMEP). Acostumado ao ensino rigoroso do Cefet de Belo Horizonte, conquistou uma medalha de ouro no segundo ano do Ensino Médio e uma de prata, no ano seguinte. Foi um estímulo para seguir estudando e focar-se ainda mais no sonho de ser engenheiro.

“As medalhas serviram como incentivo para eu tentar melhorar, me cobrar melhores resultados, resolver problemas novos, me expor a outros mais complicados. Matemática é treino diário, é dedicação, uma aptidão que se desenvolve conforme você se expõe a ela”, afirma Marcus, de 28 anos.Quando estava no terceiro período de engenharia elétrica na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em 2009, Marcus fez parte da primeira turma do Programa de Iniciação Científica e Mestrado (Picme).

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Passou a conciliar as aulas obrigatórias de engenharia com disciplinas de mestrado na área de Matemática, além do trabalho no laboratório de computação da universidade. Fez todas as matérias necessárias para defender a dissertação e formou-se com o trabalho da pós-graduação já concluído, em 2012. Conquistou o título de mestre um ano depois.

Quando estava no terceiro período de engenharia elétrica na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em 2009, Marcus fez parte da primeira turma do Programa de Iniciação Científica e Mestrado (Picme). Passou a conciliar as aulas obrigatórias de engenharia com disciplinas de mestrado na área de Matemática, além do trabalho no laboratório de computação da universidade. Fez todas as matérias necessárias para defender a dissertação e formou-se com o trabalho da pós-graduação já concluído, em 2012. Conquistou o título de mestre um ano depois.

“O Picme foi fundamental; mantive a bolsa até o fi m do mestrado, e minha dissertação foi na área de sistemas dinâmicos, que tem importância direta na minha área de formação. Sou um engenheiro muito melhor do que seria se não tivesse estudado tanto Matemática. O programa formou uma geração que soube aplicar Matemática especialmente nos problemas de engenharia”, disse. “Era difícil conciliar tudo, eu aproveitava a viagem de uma hora no ônibus até Contagem para estudar”, conta.

Antes mesmo de concluir o mestrado, começou a estudar para o concurso da Petrobras. Passou, como engenheiro elétrico, e fez a formação obrigatória de um ano para engenheiros novos na empresa, no Rio. Por necessidade da estatal petroleira, foi trabalhar em Macaé (RJ), onde morou por quase dois anos. O trabalho em terra o fez perceber que queria atuar diretamente com a exploração de petróleo, “porque elétrica é uma área muito interessante, mas não é a área-fim da Petrobras”.

Prestou outro concurso, para engenharia de petróleo, e foi novamente aprovado. Fez novo curso de um ano, dessa vez em Salvador, e desde janeiro trabalha na parte do reservatório do Campo de Libra, na camada pré-sal da Bacia de Santos. Marcus atua na área de escoamento do petróleo no meio poroso, entre as rochas, ao lado de geólogos. Juntos, perfuram, colhem material e estudam formas de “maximizar a produção e minimizar o custo”, ele explica. Mora no Rio, mas viaja com frequência para Santos (SP). O campo de pré-sal ainda não está em operação. O petróleo fica a 5 mil metros da superfície – 2 mil metros de água e mais 3 mil de rocha. “A Petrobras já explora bastante no pré-sal, é a única no mundo que consegue extrair em camadas tão profundas. Já sabemos como fazer isso, mas os estudos não param.” Hoje a Matemática é mais forte na sua vida do que na época em que trabalhava com elétrica. O escoamento do reservatório é regido por uma equação diferencial parcial, em um domínio do tamanho da cidade do Rio.

“Trabalhamos com simuladores, fazendo previsões, e resolvemos a equação no computador. Um megacomputador com centenas de processadores rodando. No mestrado, estudei como transformar um sistema instável em estável, usando a mão como controle ao balançar um pêndulo. São sistemas dinâmicos, que têm aplicação na engenharia de escoamento. A Matemática contribui tanto para a interpretação quanto para o desenvolvimento de ferramentas de simulação”, explica o engenheiro.

A professora Sylvie Oliff son Kamphorst, da UFMG, conta que Marcus fez parte de um grupo “muito interessante e que tinha vários alunos de engenharia” e era autodidata.“Marcus é da primeira leva do Picme. Já era bem apurado quando o pegamos no Picme, já estava prontinho. Sempre foi autodidata, estudava sozinho, imagino que já tinha um gosto antigo pela Matemática. Era excelente, não precisávamos cobrá-lo. O que fizemos foi dar oportunidade para ele fazer algo mais estruturado. Rapidamente chegou ao nível de formação suficiente para fazer as atividades do mestrado”, lembra. Segundo a professora, aquela turma inteira do Picme era muito forte. “São alunos com um perfil muito diferenciado. Felizmente a OBMEP e o Picme fizeram esse pessoal aparecer e deram suporte a eles.”

De fato, Marcus sempre gostou de estudar. Os pais desempenharam um papel fundamental, embora não tenham estudado muito. A dona de casa Dirce Oliveira, 54 anos, conta que o filho adorava “enfrentar uma prova”. “Nós o incentivamos. A riqueza que podemos deixar para nossos filhos é o conhecimento, porque dinheiro não temos. A primeira vez que ele viajou de avião foi para receber a medalha de ouro, entregue em Recife. Marcus e a irmã, que está se formando em medicina, estudaram a vida toda em escola pública. Ele nos enche de orgulho”, diz a mãe.

*Texto retirado do livro “Histórias Inspiradoras da OBMEP

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