No Blog Ciência & Matemática, a política das cotas e o mérito
Reprodução do blog do IMPA Ciência & Matemática, de O Globo, coordenado por Claudio Landim
Claudio Landim – Diretor-adjunto do IMPA e Coordenador-geral da OBMEP
Qualquer instituição acadêmica de excelência contrata seus pesquisadores favorecendo o potencial da produção futura em face às realizações passadas. Um jovem matemático com um pequeno número de publicações em uma fase ascendente da carreira será usualmente preferido a outro mais experiente em um estágio menos criativo da vida.
Naturalmente, a qualidade do trabalho porvir se estima a partir das oportunidades e dos resultados pretéritos. O mesmo deveria ocorrer no processo de seleção para as universidades.
Suponha que ao início do ciclo olímpico 2020-2024 o país decida selecionar com uma prova os atletas que serão treinados para representar o Brasil em alguma modalidade nos jogos de 2024. Quem deveria ser escolhido? Uma judoca que nunca treinou em bons clubes e ficou logo abaixo da linha de corte ou uma preparada pelos melhores técnicos do país classificada logo acima do sarrafo?
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Do mesmo modo, todos os anos o ENEM seleciona os futuros engenheiros, médicos e cientistas do país. Alguns alunos passaram pelas melhores escolas do país, outros nunca tiveram aulas de física ou química. A seleção deve levar em conta o resultado em uma prova que mede conhecimentos presentes ou o desempenho futuro na universidade?
Todo ano, 18 milhões de alunos participam da Olimpíada Brasileira de Matemática de Escolas Públicas (OBMEP). Destes, 6 mil (3,3 em cada 10 mil) são contemplados com uma medalha de prata ou bronze e 500 (2,8 em 100 mil) com uma de ouro.
Calculamos as médias no ENEM de 2015 de todos os alunos de escolas públicas premiados com ouro nas edições de 2009 a 2015 da OBMEP. Em matemática, a média foi de 827; em ciências da natureza 638; em ciências humanas 673; em linguagem 611, e em redação 704. O resultado em matemática significa que este grupo de alunos está entre os 0,054% melhores na disciplina (a quinta melhor nota em um universo de 10.000).
Apesar do desempenho notável em matemática, um aluno com estes resultados não seria admitido pelo sistema de ampla concorrência em um bom curso de engenharia, área almejada por mais da metade dos premiados na OBMEP. Na UFRJ, por exemplo, as notas de corte em 2016 foram 771 para engenharia ciclo básico, 787 para engenharia civil, 784 para engenharia de computação e informação. Ora, as notas acima com os pesos estabelecidos pela UFRJ para a engenharia resultam em uma média de 702.
A política de cotas permite a esses alunos entrarem na universidade. O resultado em matemática no ENEM dos medalhistas da OBMEP revela um potencial muito acima da média para a área de exatas. Estudos apontam que alunos cotistas tem um desempenho na universidade igual ou superior aos não cotistas [1].
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